67. Diga alguma coisa

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Depois que o celular de Mari, empurrado instintivamente por Sheilla, caiu ao seu colo, foi que a loira percebeu que algo estava acontecendo ali.

Dois toques, os olhos azuis estavam fixos nos castanhos da morena que estava, no momento, já sentada, e não mais no colo da loira. Três toques, o olhar de Mari agora era de um cinza concreto, cortante. As trombas d'água começaram a se formar no íntimo dos olhos castanhos de Sheilla.

A pessoa aceitou a ligação.

-Paola?-Mari iniciou antes da outra pessoa falar "alô".

-Mááá!!! -A voz gostosa de ser ouvida soou alta no viva voz. -Minha irmã, que saudade! Até que enfim, hein? Não me diga que você também perdeu meu contato, piranha!?

-Oi amor! Que saudade...mil perdões, desculpe sumir. -Mari disse com sinceros sentimentos pela melhor amiga, sua fiel escudeira, Paula Pequeno. -Do que tá falando? Não entendi. Como assim perder seu número?

Mari arqueou as sobrancelhas e olhou para Sheilla.

Sheilla flexionou os joelhos em cima do sofá e respirou fundo. Fragilizada, desviou-se do olhar de Mari, abaixando a cabeça sobre as próprias pernas.

-Então, Mar, recebi uma ilustre ligação ontem, daquela lá, a capitu. Veio com um papinho de troca de aparelho e num sei quê, que bagunçou os contatos, e que estava conferindo. mas vou te falar, nada me tirou da cabeça que ela tinha você como motivo. Pareceu aquela petulância que só ela tem, quando enciumada, sabe? Que viagem a minha hein?
Meu cérebro ainda me pregou a peça de ter a impressão de ter ouvido ela dizer "O que você quer com a Mari" antes de reconhecer minha voz, é mole?
Mas não seria possível ela ter hackeado seu celular, né? Ou seria?
Sheilla é ardilosa, você sabe, aí eu viajei na maionese, releve.
Mari, na verdade, eu queria mesmo falar sobre vocês duas...

-Paola...

-Não me diga que tá pegando a Sheilla pra valer, Marianne? Pelo amor de Deus... sabe onde isso vai dar. Ela é sua kriptonita, porra! Estou intrigada com o que vi em São Paulo! Pareceu que cê tá deixando a Hero crescer em cima de você de novo? Que pepeca é aquela, que nem outras mil supera?

-Paola...

-Se ao menos você soubesse "comer" e dar tchau, mas cê é uma fraca, isso não funcionou antes, e nem vai funcionar agora.

-Paula...

Uma breve pausa tomou conta da chamada interestadual entre Bauru e Brasília.

-Mas que caralho, Mari. Ela está aí, em Bauru com você não é, sua gay emocionada?
Bom, eu vou desligar. Eu já vi que por telefone não vou conseguir analisar todas as merdas que você anda fazendo. Eu te amo. Me liga depois. Eu vou presumir que você não está sob um controle tão rígido, ao ponto desta ligação estar sendo ouvida. Se cuida, loira.

Mari pediu a Paula que relaxasse, e as duas se despediram com Mari prometendo ver meios de se encontrarem.

Mesmo de rosto sobre as pernas, era possível saber que Sheilla chorava.

Mari ficou calada olhando para Sheilla. Não que estivesse com raiva, mas a situação era no mínimo injusta com ela, considerando a situação atual de ambas. Sabia da ligação de Viv, e cogitou algo com Loff, embora não imaginava uma ligação. E ela ia sim dar uma lição em Sheilla.

Sheilla levantou o rosto.

-Agi errado, Mar. -Me desculpe.
A morena chorou.
-Na verdade, eu tenho agido errado em outras ocasiões, também.
Eu liguei para Viv, eu pressionei a Loff...
E eu sei que é invasivo, mas não controlo meu ímpeto.

Between Us - SHARIWhere stories live. Discover now