59. Subentendido e óbvio 💕

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Sheilla respirou fundo. Seria mais desastroso "ser apresentada" a Rita por Mari, do que assumir o controle ali. O que Mari diria? "Essa é a She, vem meu bem, senta aqui", e, com um beijinho fofo na testa, ela diria, "não é a mulher mais linda desse mundo todo, Ritinha"? Seria típico dela. Sheilla morreria de vergonha.

Como ela, pensava em ir à Rolândia, depois de tudo, e encarar Dona Gisella, se ela estava ali paralisada, trancada num banheiro numa situação tão mais simples?

De cabeça baixa, Rita checava uma lista de ingredientes da receita de risoto que Mari tinha pedido-a para providenciar. De pé, próxima à pia, a mulher mantinha os olhos na anotação.

—Oi...—A voz mineira, mais rouca do que o costume, devido ao horário e pouco uso no dia, rompeu o silêncio.

—Jesus, Maria e José!—Rita gritou e saltou para trás. Ajustou o olho várias vezes, mas não foi erro de processamento. Era uma mulher sim, e quase tão alta como sua patroa, o oposto dela, mas tão linda quanto.

Sheilla sorriu. —Desculpe! te assustei...devo estar com a aparência péssima. Tô consumida por uma dor de barriga que já dura horas. —Mentiu a morena. —Eu sou a Sheilla. Você deve ser a "Ritinha, Ritalina, Rivotril Risperidona da Mari"—Sheilla estendeu a mão, carinhosa.

Rita nem conseguiu fazer a alusão de si com as medicações que Mari carinhosamente a apelidou para Sheilla. Rita acalmava Mari, botava- lhes em foco e a fazia sossegar, sentar e comer, dormir... por isso Rita era seu remedinho. Mari nem fazia uso de nenhuma dessas medicações, mas brincava que usufruía de Rita fazendo efeito em sua solitária vida em Bauru.

—Bom dia Sheilla! Imagina! Eu acho que sou muito assombrada! Eu, eu...não. Eh, você se sente mulher? Oh desculpe, você se sente melhor?

Bom, posso te oferecer um chá, um remédio... Mari pode comprar um marido, aff comprimido, ela já está vindo. Água? Me desculpe, moça. A mulher, sem graça, abaixou a cabeça, desistindo de falar.

Sheilla quase gargalhou. Rita estava mil vezes mais nervosa do que ela. —Estou melhor sim. Até vou comer algo leve. Felizmente sabemos qual é a melhor solução para dor de barriga né? e isso, estou fazendo desde cedo! —Sheilla tentou ser engraçada, e foi.

A pobre mulher olhava para a porta que dava aos quartos. Queria ver se tinha mais alguém para aparecer, além da bela moça magrela de cabelos cacheados.

A visita de Mari tinha os olhos muito doces e um dos sorrisos mais abertos que ela já viu.

Um gostoso sotaque mineiro e um alegre cheiro de fruta.

Olhos na mão. Aliança igual a de sua jovem patroa. Ninguém aparecia no corredor.

—Toma um suco pelo menos...Fique à vontade, Sheilla.

Sheilla sorriu sem jeito e sentou-se à mesa de café da manhã. Queria realmente era comer e tirar a barriga da miséria. Ante a boca aberta da mulher, a morena de Mari, fez um assombroso prato com tudo que tinha na mesa. Dor de barriga? Ué...

—Vou conferir a farmacinha que fiz para Mari. —Rita disse a Sheilla, enquanto a via finalizar o terceiro pão de queijo mineiro seguido.

Sheilla relaxou os nervos. Estava feito. E foi melhor do que correr o risco de Marianne constrangê-la numa enxurrada gostosa de amor. Acreditou que daria orgulho à loira.

Rita olhava boquiaberta o interior do quarto de Mari. Não tinha, nem teve outra pessoa por ali. A cama estava feita. Mesinha de Mari, mesinha de Sheilla, cada uma com distinção e rastro de suas donas. Cheiro de Sheilla no quarto.

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