31. Garota de Rolândia

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Por mais "descansando" que estivesse, o condicionamento, natureza atleta somados à hiperatividade inerente de sua pessoa, a loira nunca ficava parada. Ela sempre  arrastava consigo as mais preguiçosas criaturas como companhias em alguma atividade física.

Naquele entardecer, a roleta russa de Mari apontou quem seria o azarado ou azarada que correria com ela. Era a coitada da Luiza, uma das poucas amigas de infância da loira. Não tinha desculpa.

Antes da corrida, a ponteira já tinha batido uma bolinha, na rua de casa com os moleques do bairro. Peladinha de futebol, com uma bola amadora mesmo. Era um acontecimento. Mari amava.

Sempre que jogava com os moleques, a vizinhança toda vinha assistir. Não assediavam Mari, davam-lhe um carinho leve, conterrâneo, sem câmeras e em troca a loira interagia com todos com sua extrema simplicidade e alegria.

Para a mãe de Mari, poucas cenas lhe traziam lembranças da filha novinha obcecada por bola, como aquela pelada barulhenta de futebol que ela observava. Quem também observava a loira jogar, apaixonado, acompanhando com os olhinhos era o cãozinho Noah.

A mãe de David e Mari já tinha batido o martelo. Queria um churrasco naquela noite. David compraria as coisas, Mari conduziria a churrasqueira. Os dois irmãos implicavam um com o outro facilmente por tudo e por nada, mas adoravam fazer tudo juntos.

Para a alegria de Luiza, ela continuaria viva após aquela corrida, graças a Deus, pois elas já estavam quase chegando de volta.

Mari veio ensinando-a pela milésima vez, como devia respirar, usar os braços como alavancas e não como duas "lebancas", como aterrissar o pé no chão, como olhar para o horizonte, quando de repente a loira se assustou.

—Luba, que luzes são aquelas? Parece lá em casa.

—Ih Mari, é lá sim. Parece policia ou ambulância.

—Apressa o pace aí. —A grande e a pequena praticamente voaram.

O coração de Mari disparou angustiado. O que estava acontecendo? Com as bocas secas, a dor de lado e a fisgada nas canelas, elas chegaram. Havia certa aglomeração em volta da casa, giroflex ativo.

Não via David, nem a mãe, nem os cachorros. Rolândia era tranquila, o que teria ocorrido? Não tinha jeito de acidente.

—É a polícia mesmo. Pelo menos ninguém tá doente Mari! Mas é encrenca ou sej...

—Escuta aí Lub, que porra de barulho é aquele?—As duas já eram vistas se aproximando. O Som agora era mais claro, com menos ruídos.

—"Sai da toca Marianne, sabemos que você está aí, deixa de ser desnaturada loirão, vem receber seu clã saía com as mãos para o alto"!

—"Mari! Mari"!

A voz chiada do sotaque do Rio de Janeiro não deixava dúvidas de quem era que falava no autofalante do sistema de rádio/comunicação da viatura.

—Ainda bem que a polícia já está aqui, porque eu vou cometer um crime. —Mari sacudia a cabeça em negação com as mãos no rosto, os pulmões fundidos, quase caindo no chão.

🎶"Olha que coisa mais linda

Mais cheia de graça

Between Us - SHARIWhere stories live. Discover now