Capítulo 35

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Isabel García

     Minhas mãos tremiam sob o volante, na verdade, todo o meu corpo. Felipe sentou no banco do passageiro a contragosto, no entanto, em nenhum momento ditou uma única palavra durante todo o trajeto até a mansão. O silêncio era doloroso em meus ouvidos e alma. No segundo que estacionei o Porsche em frente aos portões das mansões dos Giordani, Sean estreitou os olhos com curiosidade para dentro do automóvel, suas sobrancelhas ergueram-se sugestivamente ao perceber quem conduzia. No exato momento que consegui balizar, Felipe desceu do carro apressadamente. Respirei profundamente na tentativa de acalmar os meus nervos aflorados por todo o ocorrido durante as últimas horas.

Toda a mansão sulista estava abrangida por uma escuridão angustiante, subi os degraus em direção ao quarto, todavia percebi que havia um 'flashes' de luz a serpentear para o corredor principal entre os quartos. Paco caminhava de um lado para o outro no escritório, ele estava sozinho. A observar os anéis nos seus dedos como se deles surgissem aquilo que ele esperava com tamanha pressa, angústia.

— Qual foi a maior duração de tempo que Felipe esteve no poder? — A pergunta decorreu para fora dos meus lábios com pesar.

Paco suspirou pesadamente antes de responder.

— Três anos e seis meses.

Meu coração já contrito, estremeceu no peito.

— Sinto muito, Isabel.

Apenas acenei com a cabeça e parti para o quarto, tinha a certeza que ele não estava ali.

Tomei um banho a pensar onde Felipe estaria agora. Em situações como esta ele costumava se refugiar na masmorra, tinha a impressão que ele passaria toda a noite naquele subsolo frio. Longe de todo calor humano, longe de mim.

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Aurora e Serena não paravam de mexer em meu ventre, porém os movimentos mais bruscos vinham de Serena. Eu entendia-lhe na perfeição, Serena sentia o impacto da falta de Milo. Dos seus contatos durante a noite, da interação entre os dois. Tentei cantarolar, repousar as mãos em ambos os lados da barriga a ter uma conversa baixa com minhas meninas. Todavia, Serena queria mais. Ela ansiava pelo toque de Milo, embora na maior parte das vezes ele usasse a luva. Serena sentia saudade do pai. Agora entendia que a conexão gerada ainda no ventre era de toda especial para um bebê.

Quando passava da meia-noite, Felipe ainda não havia voltado para o quarto.

Apanhei minha bolsa, havia dez ligações perdidas de Lua, algumas muitas de Esli e chamadas e mensagens de Gloria. Liguei primeiro para Lua, informe-lhe o sucedido, ela tristemente comunicou que sentia muito e que amanhã ela e o Esli estariam de volta. Enquanto terminava a chamada, espreitei pela janela em vidro uma van negra adentrar no jardim. Cinco ou seis seguranças de Milo deram a volta no carro, em menos de um segundo um homem com uma balaclava no rosto foi arremessado para fora da van. Suas mãos e pernas estavam atadas por fios grossos de uma corda apinhada de pequenos pontos afiados. Semicerrei o olhar para detectar um novo integrante, Esteban falava ao telefone com alguém ao passo que dava ordem para levarem o indivíduo supostamente para a masmorra. No meu subconsciente sabia aquilo que estava para acontecer, bloqueei os pensamentos tenebrosos de imediato.

Voltei a atenção para a tela escura do meu aparelho móvel, no segundo que estava para ligar para Gloria, uma batida suave soou na porta.

— Entre.

Gloria estava com um aspecto de cansada, as olheiras evidenciavam as suas poucas horas de sono durante a noite. Senti-me mal imediatamente por estar a colocá-la mais uma vez numa situação complexa que nenhuma mulher no seu estado deveria passar. Gloria caminhou até a cama onde ainda estava enrolada num roupão felpudo, seus braços acolheram-me com amor e paz.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now