Milo Giordani, há doze anos

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As surras tornaram-se um ritual.

Era quase impossível encontrar com Paco em algum lugar da nossa casa. Após a morte da nossa mãe, Facundo concentrou toda a sua ira nos seus filhos. Paco era o seu alvo, no entanto. Constantemente, quando os seus planos não aconteciam como o planeado, Facundo levava Paco para a masmorra, onde o punia por seus erros. Erros estes que não foram cometidos por meu irmão. Meu pai educava os seus filhos da única forma que ele conhecia, com punhos e socos. Ele acreditava que a disciplina da dor gerava mais resultados que uma conversa. Na verdade, se ele tivesse um pouco de discernimento, entenderia que nenhum dos seus filhos merecia passar dias a fio a sentir fome e sede em um dos seus lugares utilizados para tortura. Não tínhamos culpa da morte da nossa mãe. Facundo jamais entenderia isto.

Já não suportava presenciar Paco sofrer por uma transgressão que não cometeu. Lua estava cada dia mais fria e distante, Timo totalmente silencioso, refém das atrocidades cometidas contra a nossa mãe.

Suor gotejava na minha coluna, rosto e abdômen. Fazia imenso calor no subsolo onde meu pai me disciplinava uma vez mais, todavia, desta vez era diferente. A maldade provinda de Facundo estava no nível para além daquilo que já havíamos conhecido. Seus socos eram mais forte, mal conseguia abrir o olho esquerdo.

Minha cabeça estava demasiada pesada.

Tremi subitamente de frio, apesar do meu corpo se verter em suor.

- Amanhã será o grande dia. E você será responsável por aniquilar um Dávila deste mundo, hijo. Isabel merece morrer, Milo. Aquele asqueroso do Andres vai conhecer a dor de perder alguém que amamos.

Minha visão estava escura.

- Amanhã te vingarás pela morte da minha Esperanza.

Seus passos ecoaram por todo o lugar. Minha cabeça tombou sobre o peito, precisava descansar. Queria acordar longe deste lugar. Ser outro garoto, não ter Facundo como pai. Queria salvar meus irmãos da sua crueldade, apagar todas as más recordações que tinha dele da minha mente. Queria ser outro garoto.

🦋

- Milo! - Castel tocou em meu ombro. Abri apenas o olho direito, ele sentiu a frieza percorrer do meu corpo quando o fitei.

- Não me toque, hijo de puta. - Gritei, consciente de uma dor profunda em cada parte do meu corpo.

- Ele está louco, Facundo.

Castel deu um passo para trás.

Todos os integrantes do Cartel estavam dentro da masmorra. Facundo os orientava sobre algo que estava para acontecer.

Esperanza. Morte. Culpa. Isabel.

As vozes se esgueiravam por minha mente causando certo desequilíbrio.

- Isabel pagará. Isabel... - Facundo ditava vezes seguidas.

Estava confuso, elevei as mãos até os ouvidos tentando calar todas as vozes.

- A hora chegou. - Alguém anunciou.

Meu pai empurrou meu corpo para a saída do seu complexo de tortura, não antes de entregar-me uma Balaclava, a touca escondia todos os traços do meu rosto, exceto os meus olhos.

Culpa. Esperanza. Isabel. Morte.

Queria estar longe daqui.

Movi-me em direção ao seu Mercedes-AMG. O carro desfilou por entre as ruas movimentadas de Córdoba, a seguir caminhamos para o interior da floresta que em algum lugar ardia. O cheiro do fumo das folhas cortou minha respiração por alguns minutos.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now