Capítulo 26

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Milo Giordani

          Passaram-se mais de setenta e duas horas desde a morte de Castel. Não havia dormido desde então, meu corpo inteiro protestava. Todavia, não conseguia pensar na possibilidade de adormecer enquanto o inferno estourava num intenso festim a minha volta.

Caminhei até o escritório a sentir um punho de ferro se fechar envolta do meu coração em titânio, havia acabado com todas as possibilidades de Isabel perdoar-me no futuro. Não era merecedor do seu perdão em qualquer das hipóteses.

Ao entrar no compartimento aquecido, a sombra de homem alto tremulava no único fecho de luz provindo por uma luminária. Paco mantinha as mãos aquecidas dentro do bolso da sua calça social, ele ainda estava vestido com o mesmo traje do casamento de Dario.

— Durante a tarde de hoje sofremos mais seis atentados em nossos armazéns. O restaurante do Luke foi alvo de vandalismo, o pior não aconteceu, pois haviam alguns dos nossos homens a vigiar o estabelecimento. Eles contra-atacam, se continuarmos de braços cruzados haverá mais mortes. — Paco ditou pensativo, seus olhos varreram meu terno por alguns segundos, no entanto, ele não fez nenhuma pergunta relacionada aos pontos luminosos que adornavam o tecido escuro. — Facundo continua desaparecido.

Quando soube que estávamos indo ao seu encontro em Cádis, o filho da puta fugiu.

— A noite está apenas começando, Paco. — Em meu âmago, o desejo de vingança tripudiava-me. — Quero o dobro de homens a vigiar esta casa. Lua e Lupita não sairão desta acomodação por absolutamente nada. Enviaremos mais homens para as nossas principais autoestradas, esqueça a porra dos questionamentos. Agora não haverá necessidades de perguntas, aquele que estiver no nosso caminho, morrerá. — Fechei os olhos, a porra do sorriso de Isabel se alojou em minhas pálpebras como uma lembrança dolorosa daquilo que perdia. — Notifique Pablo Salvatierra que poderemos precisar da T26 a qualquer altura destes dias. Chegou a hora das nossas famílias firmarem os laços, hermano.

— Isabel. — O nome surgiu como uma esperança em meio ao caos que nos cercava.

— Terá uma nova vida a partir de amanhã.

— Ela não era o rato. — O olhar de Paco caiu sobre os envelopes lacrados com o símbolo do Cernuno MC. Dentro dele havia uma gravação de um suposto encontro de Isabel com Miguel Barbosa, um dos homens de Damián De las Heras. Algo que descobrimos recentemente e que não chocou nenhum de nós. Barbosa esbanjava todos os requisitos idolatrados por seu Prez, ele era fraco, totalmente manipulável, inútil. Ele pensara que ao mandar aquele vídeo, desconfiaria de Isabel como rato. Que talvez a magoaria como faria os integrantes do seu clube de motoqueiros fracassados. Barbosa era ingênuo por demasia ao acreditar nisto.

— Ela estará melhor longe de Córdoba.

Paco abanou a cabeça lentamente como estivesse a acreditar que não estava em condições psicológicas ao alegar aquilo.

— O rato se arrependerá da traição, Paco. A morte não virá com rapidez, mas como uma longa madrugada coberta por tortura.

— Isabel apenas estará em segurança ao seu lado.

Paco não esperou uma resposta, deixou-me a sós com os meus pensamentos conflituosos.

Passado algumas horas, voltei ao quarto de pintura.

O cheiro da Flor da laranjeira a mesclar com a fragrância forte das tintas, invadiu todo meu organismo.

A presença de Isabel estava por todo lugar naquele cômodo. Seu amor pela pintura alojado em cada rascunho no seu livro de esboço. Inspirei lentamente a minha combinação de fragrâncias preferida, a memorizar aquilo que em breve seria lembrança.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now