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Córdoba, Maio de 2021

Isabel García

Azul, rosa, violeta, vermelho, castanho...

Explosões de cores vibrantes cobriam os pátios que poderiam facilmente ser designado como o paraíso floral. Estávamos na segunda semana de Maio, as fragrâncias da flor de laranjeira e jasmim que ornamentavam os pátios das residências locais pairavam no ar. Tradicionalmente nesta época do ano, Córdoba recepcionava um dos momentos mais apreciados por seus moradores e turistas, La Fiesta de los Patios Cordobeses.

A multidão Cordobesa celebrava e assistia o espetáculo de 'flamenco' na noite perfumada sob a influência de um dos vinhos mais degustado durante aquela altura do ano, Montilla-Mariles.

Admirei as paredes brancas caiadas adornadas por gerânios, cravos e jasmim. A arquitetura dos complexos habitacionais foram projetadas com minúcia pelos romanos na tentativa de amenizar o calor extremista durante o verão. O planeamento de jardins apinhados de flores e plantas resultariam num ambiente mais propício à sombra e frescor. A cidade de Córdoba era conhecida por suas coroas de flores.

— Para ti. — Um dos anfitriões do espetáculo ofereceu-me um cravo a sorrir.

Esta era uma das únicas alturas do ano em que me sentia em casa. A tradição que datava os tempos romanos eram algo que me encantava, nestes momentos esquecia completamente a outra faceta de Córdoba. Aquela que poucas pessoas conheciam, a obscuridade que emanava subtilmente entre as flores e as suas festividades.

Desviei de um casal que se beijava sob o arco de água de uma fonte que alegava trazer prosperidade em relacionamentos. Nunca acreditei neste tipo de amor, nunca acreditaria tendo em vista tudo aquilo que testemunhava acontecer no Copacabana e em especial no casamento da minha mãe alicerçado em mentiras e supostas traições.

Aos seis anos mudei para Córdoba com José. Ele acreditava que neste lugar seríamos felizes, meu padrasto estava completamente enganado.

Desvaneci-me de uma multidão alegre a segurar o cravo entre os meus dedos. Ao passo que caminhava os acordes do Flamenco foi abafado pelas recordações do passado.

— Bel, acorda. —A voz do meu padrasto estava ao de longe. — Precisamos ir, hija.

Um casaco pesado que abrigaria uma adolescente deslizou por meus braços magricelas.

— Para onde vamos? —Falar custava imenso. Estava com fome, muita fome.

— Para o lugar onde poderemos ser felizes.

— Onde estão a mamã e o Natan?

Papá tragou profundamente o cigarro em seus lábios.

— Partiremos primeiro, eles nos encontrarão em Córdoba dentre alguns dias.

A afirmação era baseada numa confiança que há muito não sentia emanar dele.

— Serás feliz, Isabel. Prometo!

Uma BMW carbon parou bruscamente ao meu lado a livrar-me das recordações do passado. Um corpo foi arremessado com violência para fora do automóvel, estagnei.

Caminhei a observar algum movimento suspeito ao meu redor, tudo era quietude. Apressei o passo a ouvir o meu coração bater contra as minhas têmporas, poderosamente. De princípio suspeitei que aquele homem possivelmente havia sido alvo de agressão do clube Cernuno MC de Espiel, eventualmente deixado para morrer no território do Cartel Criminal do Sul. Ao que todos sabiam, nenhum motoqueiro do clube MC poderia cruzar a linha do território do Cartel. Isto seria um erro passível à uma guerra que há alguns anos se mantivera adormecida, mas que todos tinha a consciência que um dia aconteceria. A ira dos Giordani permanecia enterrada sobre uma promessa de retaliação no tempo conveniente. Era do conhecimento de todos que o presidente do Cernuno havia sequestrado, violado e matado a mãe dos Giordani. Enrico Fernandez, um dos mais velhos integrantes do Cartel havia traído o seu chefe ao entregar Esperanza Giordani nas mãos do presidente do clube MC. Por anos era esperado o fim de uma trégua que nunca deveria ter acontecido tendo em vista o quão maléficos os irmãos poderiam ser tornar quando o assunto era traição. Acreditava que os irmãos planearam ao longo dos anos destruir cada membro do clube, porém até o momento estes esperavam o tempo oportuno para entrar no terreno do inimigo e destruir aquilo que eles começaram quando ainda eram crianças.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now