Isabel García, Há doze anos

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Trovejava.

O céu parecia carregar uma batalha de raios e trovões.

— Garoto mistério! — Gritei quando o visualizei sentando no tronco da árvore cortada. Ele estava de costas, seus ombros pareciam tensos. — Tudo bem?

Pousei a mão nas suas costas, levei um susto quando ele sobressaltou com o toque.

— Sou eu, a Isa. — Falei pausadamente ao conferir que seu rosto estava marcado por novos hematomas, desta vez, pareciam maiores e mais negros que o habitual.

Seus olhos estavam sem brilho, vida.

Outro trovão.

— Está tudo bem contigo, garoto mistério? — Ele estava petrificado como da primeira vez que o vi cercado de borboletas.

— Meu nome é Felipe.

Ele deu um passo em minha direção, mecânico. As minhas costas embateram no caule áspero de uma árvore. Suas mãos fecharam-se em torno do meu pescoço, as veias saltavam consoante o seu aperto.

— Sou eu. — Meus olhos estavam cheios de lágrimas. — A Isa. — Soletrei com muita dificuldade. — A sua amiga Isabel.

Como estivesse a percorrer para fora da névoa de um feitiço, o garoto de olhos tempestuosos soltou o meu pescoço. Tossi, enquanto lágrimas caíam por meu rosto, meu coração saltava velozmente.

Felipe, o garoto mistério, deu dois passos para atrás. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.

Ele desapareceu por entre a bruma da noite.

🦋

Uma semana se passou desde a última vez que o vi.

Estava sentada contra o caule áspero, mantinha a cabeça pousada  nos meus joelhos. Ouvi um ruído de botas contra as folhas ressequidas, não ergui a cabeça.

— Isa... — Sua voz perpassou por entre os ramos que nos fechava numa floresta só nossa. — Por onde estiveste? —Ele parou há três passos de distância. — Senti a sua falta, Isa. — Notei algo diferente no seu look que consistia em calças jeans e casacos compridos negros. Agora, o garoto a minha frente usava luvas em couro. — Aconteceu algo?

Estreitei os olhos, pensativa.

— Você não lembra, Felipe? — Sussurrei, quebrada.

— Felipe? — Ele abanou a cabeça várias vezes.

— Este não é o seu nome?

Ele deu um passo na minha direção.

— Isa. — Dois passos.

— Me magoaste. — Pousei a mão sobre meu pescoço.

— Isa...Eu não queria. Eu tentei não ser como ele. — O couro das suas luvas apanhou uma lágrima minha. —Eu vou te proteger contra ele. Por favor, Isa. Confie em mim.

— A quem te referes?

Seus olhos eram tão azuis.

— Contra mim mesmo.

Azuis vivos.

— Qual o seu nome, garoto mistério?

Ele sorriu uma primeira vez desde que nos encontramos nesta floresta. Retirou cuidadosamente as luvas, seus dedos perpassaram por minhas sardas e pelas variações de cores da minha pele, subtilmente.

— Milo. — Interligou as sardas nas minhas bochechas. — E eu vou proteger-te de todos eles. Do meu pai, tio. E principalmente do Felipe. — Suspirou. — Por favor, acredite em mim

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now