Capítulo 18

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Isabel García

Naquela manhã acordei sozinha. Milo não estava mais ao meu lado na pequena cama naquilo que chamava de quarto. Desta vez, sabia que não tinha alucinado. Milo esteve mesmo a partilhar uma noite ao meu lado, entretanto antes de acordar havia partido.

Ainda confusa com todas as novas descobertas da noite passada, adentrei no bar do Cassino. Não passava das onze da manhã, todavia Gloria mandara uma mensagem a pedir que estivesse a encontrá-la no lounge principal.

- Bom dia, Isabel. - Na tentativa de esconder algo, Gloria usava um óculos de sol quadrado. - Isto é para ti. - Um envelope foi estendido em minha direção.

- O que é isto?

- Leia.

Abri o 'velcro'. Os meus olhos mal acreditavam naquilo que lia.

- Cessação de contrato? - Ditei ao ler o último parágrafo. - A dívida do meu padrasto foi paga?

- Não lhe posso informar, Isabel.

- Então, isto significa que acabou?

- Já não tens nenhum vínculo com o Cassino.

Respirei profundamente. Mas, a felicidade que pensei sentir quando isto acontecesse não veio.

- Quem autorizou isto, Gloria?

- Milo.

Sorri sem alegria.

- Tens a certeza?

Talvez Gloria não soubesse sobre o Distúrbio de personalidade do Milo.

- Eu sinto muito, Isabel. - As condolências não faziam sentido para o momento.

Olhei uma vez mais para o papel a livrar-me da dívida milionária do meu padrasto, bem como uma quantidade razoável de dinheiro para quem não tinha muito, como eu.

- Vou voltar para Sevilha. - Meu pensamento foi dito alto, um erro.

- Tens um bom trabalho na Torres Colecionadores e além disto, tens a bolsa de estudo num curso que amas, Isabel. Não podes deixar isto para trás. - Ela ditou perplexa com a minha rápida vontade de ir para longe de Córdoba.

Agora, tinha a certeza que meu padrasto esteve a mentir por todos estes anos. Talvez, ele tivesse me sequestrado e forjado toda uma mentira acerca da vinda da minha mãe e do Natan para Córdoba. Fui enganada, jamais deveria ter acreditado nele. Natan tinha toda a razão, José era um malfeitor.

Queria entender o real motivo por trás da reunião entre José, o policial da DEA e Milo na noite passada. Assim, saberia de uma vez por toda a história que poderia mudar minha vida. Porém, não conseguia assimilar nenhuma ligação entre eles, nenhuma.

- Posso conseguir um bom emprego em Sevilha, Gloria. Pagar um curso, encontrar minha mãe e meu irmão. Eu sei que posso. - Atalhei confusa diante do olhar emocionado de Gloria. - Não há nada nesta cidade para mim.

- Você e o Milo...

Deixei uma gargalhada seca repercutir no ar.

- Não existe nada entre nós os dois. Eu nem sequer o conheço, Gloria.

Guardei o envelope na bolsa de cintura.

- Isabel. - Gloria segurou na minha mão. - Ele jamais te magoará.

Balancei a cabeça.

- Qual deles, Gloria?

Seu aperto tornou brando, ela estava pálida.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now