Isabel García, Há doze anos

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Córdoba, há doze anos

Isabel García

- O que serás quando crescer? - Rabisquei o perfil do garoto pensativo deitado sobre a relva. - Não me digas que serás grande. - Sorri ao observar o traço cinzento entre as linhas que marcavam a palma da minha mão. Amava isto. O pó do grafite anunciava que estivera a realizar uma das coisas que mais me deixava feliz nesta vida, desenhar.

O garoto mistério continuava perdido nos seus pensamentos.

- Já o deves saber. - Ditei sonhadoramente com a certeza que o futuro me reservaria algo bom. - Quero ser uma pintora. Não almejo ser a próxima Zurbarán. Mas quero deixar uma impressão minha neste mundo. Supõe-se que todas as pessoas deixem um vestígio, para que no futuro toda a sua vida não tenha sido apenas um rastro, mas uma marca tão duradoura que perdurará por anos. - Suspirei diante do meu monólogo. - Eu quero ser lembrada.

- Gostaria de ser piloto. - Após alguns minutos em silêncio a sua voz cortou o ar. - Um piloto de um planador. Perder-me no meio de todo o céu em caos, desaparecer.

- Que assustador. - Enquanto ele acendia um Marlboro, acolhi a embalagem vermelha repleta com pequenos Skittles frutados, engoli uma com o leve sabor de uva.

- Só é lembrando quem faz história, Isabel.

- Estás enganado. - Folhei o caderno em branco, numa folha em especial comecei a rascunhar o contorno de uma aeronave sem motor. - Ser lembrando por quem amamos é - Fiz um movimento rápido de aspas no ar. - fazer história.

Ele apenas respirou profundamente em total sinal de desacordo. Alguns minutos depois, terminei de rascunhar o planador.

- Me lembrarei de ti. - Entreguei a folha com um dos meus primeiros projetos com grafite. Estava orgulhosa com cada traço efetuado naquele desenho feito com tanto amor. A pequena aeronave ganhava o céu claro de uma Córdoba enaltecida com todas as cores das suas flores da estação.

Seus olhos azuis transmitiam uma sensação de paz uma primeira vez desde que nos conhecemos.

- Mãos de uma futura e respeitada pintora contemporânea. - Olhava para as palmas das minhas mãos sujas com o pó do grafite. - Serás lembrada, Isa.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora