Milo Giordani, há doze anos

46 11 2
                                    


Passado, Córdoba

Milo há doze anos (antes da morte Esperanza)

Espreitei pelo compartimento secreto, o ar cheirava a bolor. Encostei a cabeça contra a parede úmida. No outro lado, ocorria uma reunião sigilosa com os sócios de Facundo. Um deles era um dos policiais corruptos da DEA, Andres Dávila.

- Quanto vale a carga que será transportada pelo clube dos motoqueiros? - Castel tragou um gole do que parecia ser cerveja preta.

- Milhões. - Facundo caminhou a passos largos para Dávila que o olhava com uma certa quantidade de receio. Tudo naquele homem emanava um poder sórdido, calculado em crueldade. - Certamente nos tornará os homens mais ricos da Espanha.

- Como acontecerá a interceptação? - Dávila inquiriu a serpentear pelo escritório, seus olhos vasculhavam todo o compartimento como estivesse a espera de qualquer atitude errônea vinda do meu pai.

Ouvi passos no segundo que Facundo começou a arquitetar o seu plano com os demais presentes. Prendi a respiração ao sentir alguém adentrar no cômodo com ar pútrido, um caminho de luz solar assolou o pequeno espaço quando Paco se aproximou com uma carranca de mau-humor.

- O que estás a fazer aqui, Milo? - Sussurrou a medida que os homens no outro lado alteravam as suas vozes, em risadas.

- Facundo está planeando interceptar uma carga do Cernuno MC.

- Se ele descobrir que espreitamos a sua reunião, nos mandará para a masmorra.

- Um dos seus sócios é um policial da DEA. - Comuniquei a observar a pupila de Paco dilatar. Certamente no futuro ele se tornaria um policial, era perceptível o seu interesse por esta organização. - Ele é corrupto, Paco.

- Quem está na reunião? - Suor começava a emanar na testa do meu irmão. O ar estava cada vez mais pesado.

- Facundo, Castel, Dávila, Enrico Fernandez e José.

Apenas os soldados mais velhos da organização eram solicitados em reuniões como esta. Observei um dos soldados do meu pai a fitar a taça com vinho nas suas mãos. José era um dos mais antigos integrantes do Cartel. Nosso pai confiava muito nele, tendo vista que nunca falhou em sua missão como comunicador da organização criminal. O outro homem de confiança do Facundo era Enrico Fernandez. Ele foi o primeiro cobrador sob o comando de Facundo. Conhecia muito sobre o Cartel ao ponto de destruir toda a vida do meu pai num piscar de olhos.

- Estou a foder com uma das informantes do DEA. - Dávila orgulhou-se do seu feito a esbanjar um sorriso escárnio. - Há anos ela tem me servido com um propósito. Santana tem trazido informações valiosas do Cernuno para as minhas mãos.

- Os gêmeos são seus filhos. - José que estava calado até aquele momento, entoou sarcástico.

- Ângela não pode saber que tens um caso há anos. - Castel interveio sorrindo. - Ela certamente cortaria as tuas bolas. Foste um pouco imprudente ao transar com uma denunciante, e além disto, a engravidar.

- Ângela é estéril. Dávila precisava dá continuidade ao seu legado, com uma delatora ou não, a sua futura geração está garantida. O rapaz será a porra de um excelente policial no futuro que trabalhará com os meus filhos. - Facundo afirmou a erguer um copo no ar, Dávila por sua vez, parecia não concordar com aquilo que os lábios do meu pai professara. Não era de todo conhecedor das emoções contundentes no rosto do sócio do meu pai, mas apercebi-me que ele não era de todo fiel a Facundo.

- Dávila não é confiável. - Paco confessou ao meu lado. - E pelo semblante do José acredito que ele não gosta nenhum pouco do policial.

- Há algo errado nesta história, Paco. - Sussurrei a espreitar Facundo a selar um acordo com Dávila.

A interceptação da carga multimilionária de cocaína aconteceria numa semana.

A porta do pequeno vão secreto se abriu lentamente.

- Meninos. - O sol iluminou os seus caracóis loiros. Apesar da voz aparentar estar zangada com nossa postura em espreitar uma reunião que não nos dizia a respeito, os olhos da minha mãe estava sobrecarregado de amor e preocupação. - O que vocês estão a tramar?

- Nada, mãe. - Paco a abraçou fortemente antes de caminhar para o lado oposto do escritório de Facundo.

A fragrância de erva-cidreira pairava no ar a limpar o cheiro de mofo alojado nas minhas narinas.

- Está tudo bem, Milo?

- Sim, mãe.

Ela deu um passo na minha direção.

- Sabe que podes conversar comigo sempre que precisar. Sim?

Acenei com a cabeça.

- Se algo perturba a sua mente fale comigo, meu amor. - Minha mãe enlaçou seus braços em torno do meu corpo. - Como cresceste, Milo. Um dia deste era apenas um menino, já agora estás a tornar-te um belo rapaz. - Suas mãos acariciaram os meus cabelos negros. - Não precisas temer o teu futuro, Milo. Estarei sempre contigo e com seus irmãos para orientar-vos. Eu amo-te tanto, hijo. - Seu abraço era tão bom, reconfortante. - És um bom rapaz. Não te esqueça nunca disso.

Inalei profundamente o seu perfume.

Naquela altura não sabia da sorte que tinha por tê-la por perto.



Uma semana mais tarde

Paco tremia copiosamente ao meu lado. Esteban tinha as duas mãos depositada no ombro do meu irmão que estava completamente pálido.

- Joder! - Facundo gritou a pleno pulmões. Suas mãos estavam ensanguentadas bem como toda a sua roupa. - O filho da puta nos enganou. Eu vou matar Dávila.

Meu pai gritava por toda a mansão o seu ódio pelo seu ex-sócio e agora inimigo mortal. A carga de cocaína que pertencia ao Cernuno MC foi interceptada como planeado, todavia o que não era esperado aconteceu. Facundo foi traído por Andres. O policial corrupto do DEA acabou por ficar com toda a transposição de droga, ou seja, meu pai provava do seu próprio veneno.

- Levaram-na! - A única vez que vi meu pai em desespero foi no dia em que minha mãe foi sequestrada pelo Cernuno MC. - Enrico Fernandez entregou a minha Esperanza para o Cernuno MC. Fomos traídos por estes filhos da puta. Vou matá-los! - Andou pela sala a segurar uma pistola. Seus olhos em fúria denunciavam que ele aniquilaria todo o clube de motoqueiro de Espiel.

Meu pai deu passo em direção a Paco, um estalo alto e forte foi provocado contra o rosto do meu irmão. Esteban empurrou com toda a força as mãos brutas de Facundo que daria um segundo soco no filho.

- Não, Porra! Controla a tua merda, Facundo. - Esteban atalhou, igualmente raivoso.

- A culpa deles a levarem foi deste maricón. - Facundo apontou a pistola em direção ao filho.

- Não, Facundo. Sabes muito bem de quem foi a culpa e esta não recai em nenhum dos teus filhos. - Esteban falava com ímpeto. Ele era o único a enfrentar a ira do meu pai.

- O que vamos fazer? - José perguntou com uma calma que entrava em desacordo com a situação.

- Primeiro vou matar o filho da puta do prez do Cernuno MC. - Facundo gritou. - Depois, vou converter a vida de Dávila num inferno. - Caminhou a passos largos em direção a José. - Vais te infiltrar na vida da Santana. Irá enganá-la com o poder da sua persuasão, José. Eu quero que Dávila sofra com aquilo que farei com os seus filhos. Ele vai se arrepender por ter me traído. Seus filhos pagarão por seu erro. - Jurou com um olhar sanguinário.

- Estás louco. - Esteban proferiu.

- O inferno abriu as suas portas, Esteban. Dávila conhecerá a minha fúria. Todo o dinheiro que ele conseguiu com a carga de cocaína se tornará em sangue. O sangue dos gêmeos estará nas suas mãos.

Meu pai cumpriria com sua promessa.

Ele transformaria a vida dos gêmeos num inferno.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now