Capítulo 17

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Milo Giordani

Odeio o homem que me olha como se soubesse tudo ao meu respeito. Como se soubesse que pode controlar minha mente, minhas ações. Dávila acredita que pode me manipular, que finalmente conseguiu realizar a proeza de trazer um dos filhos do cartel criminal do sul para a sua facção. Este filho da puta fodido acredita que posso ser um dos seus. Matarei este maldito quando ele menos esperar.

- A carga de Sevilha foi interceptada com sucesso. - Dávila cuspiu no chão arenoso a sua volta. - Benzodiazepina é a mais nova sensação do momento. Quero mais, Giordani. Quero muito mais que a dosagem abordada na última carga.

Tenho nojo desse homem. Deslizei o dedo sobre a pistola em meu coldre, almejava disparar contra sua cabeça agora mesmo. Porém, muitas coisas impediam-me agora.

- Quando me entregarás, Isabel? -Ele caminhou em torno do seu carro, pensativo. - Não te esqueças da aliança que tens comigo, Milo. Ou devo chamá-lo Felipe?

Apertei os dedos em torno da Glock com mais força.

- Na próxima carga para Ronda, estarei a espera que me devolvas a porra da minha filha.

Este fodido sabe muito ao meu respeito.

Sabe das surras disciplinadas, como o meu pai intitulava as suas torturas, que levei durante toda a infância. Tem conhecimento dos dias em que fiquei preso na masmorra, sem água ou comida. Sabe de todas as mentiras que contei para Lupita na tentativa de a proteger da maldade dos seus próprios filhos. Dávila sabe das duas personalidades que coexistem dentro de mim. A maldade, a bondade. Este filho da puta sabe a razão pelo qual passei a utilizar constantemente luvas de couro. Antes disto, ele é conhecedor do motivo de fatiar as minhas palmas das mãos até perder a consciência quando mais novo, ele sabe muito ao meu respeito. Mas há algo que este sacana não sabe. As duas personalidades dentro de mim, amam a mesma mulher. Enquanto Milo ama a garota de cabelos ruivos que planeava um bom futuro para os dois naquela floresta fria, Felipe a amou no segundo que ela o desafiou no seu julgamento, e que em momento algum abaixou o olhar enquanto confidenciava que os dois tinha um único destino em comum.

Andres Dávila não sabia, mas planeava a porra da sua morte como Milo planeou nos últimos doze anos.

- Dois milhões. Este é o acordo. - Ditei ao prosseguir para o Porsche. - E a porra da sua fodida cabeça numa bandeja de prata. - Segredei para o vento.

Pousei as mãos enluvadas sobre o volante.

Há um vazio abissal no meu peito, uma maldade corrosiva a fluir por minhas veias. Mas, jamais a destruiria.

A viagem para Córdoba é mais longa que o previsto. Parei uma hora depois, minha cabeça pesava. Os meus olhos estavam secos, sentia os lábios gretarem. Procurei por um Marlboro, traguei meia dúzia deles, enquanto tentava manter os meus olhos abertos. Estava extremamente cansado. A batalha em algures dentro do meu íntimo era lancinante, dolorosa. Precisava manter a minha mente sob uma vigilância constante.

Acordei com o barulho de uma buzinadela.

Ajustei a porra da visão, estava escuro. Liguei o GPS, em segundos, o mapa de Ronda se amplificou na tela. Disquei o primeiro número na minha lista de contato.

- Milo? - A voz do meu irmão denotava preocupação.

- Estou em Ronda, Paco. - Passei as mãos frenéticas pelo rosto. - Não sei ao certo como cheguei aqui. - Fúria desenrolou dentro de mim como a própria mamba-negra de Timothé prestes a dar o bote.

- Estás ferido?

Minha cabeça pesava absurdamente.

- Estou apenas confuso, Paco.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora