Milo Giordani

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Olá, meus sóis.

Perdão pela súbita ausência. Meus últimos meses foram conturbados. No princípio de Junho, meu esposo sofreu um acidente. Então, por cá se instalou uma correria daquelas. Hospital, fisioterapia, trabalho e filha. Conciliar tudo isto quase deu cabo dos meus nervos. No final de Julho apercebi-me que estava demasiada cansada (julguei que seria devido à correria que estava a minha vida) e apresentava alguns sintomas que me levaram a realizar analises, algumas semanas atrás descobri que tenho Hipotiroidismo + Anemia + Falta de vitamina D. Já estou em tratamento, acredito que toda a medicação já faz efeito. Desculpem a falta de aviso. Voltei. 🥺❤️

Milo Giordani - Noite da La Fiesta de los Patios Cordobeses

Luvas em tom de um azul-celeste seguravam um bisturi que gotejava sangue, uma pequena incisão foi feita na parte lateral do pescoço de Dávila que se debatia consideravelmente enquanto um dos médicos do Cartel trabalhava em implantar um microchip que o localizaria até mesmo nos portões do inferno. Esli havia desenvolvido o microchip, no entanto, a ideia de armazenar uma pequena quantidade de veneno contido numa planta nativa da Indonésia, Ervilha do Rosário, fora de Timothé. Apenas três microgramas de Abrina é o suficiente para matar. Timothé era um químico curioso, contudo a botânica sempre lhe atraiu. No seu laboratório poderia ser facilmente encontradas plantas venenosas que possuem toxinas que levam a morte em poucas horas. Dentro da baga vermelha do Teixo há uma semente que se consumida numa proporção de cinquenta gramas pode ser fatal. Recordo a primeira vez que adentrei em seu laboratório improvisado ao lado de uma velha Cerejeira, Timothé segurava a folha de uma Mamona. Enquanto observava meu rosto transmudado, ele recitava que a ricina encontrada na semente causaria uma morte agonizante para qualquer inimigo declarado do Cartel. Naquela época, ele ainda era apenas um garoto magricela, mas tinha mais conhecimento sobre o poder que existiam escondidos nas seivas das bagas que muitos botânicos. Anos mais tarde usei este seu conhecimento contra Dávila.

Repousei ambas as mãos enluvadas sob o coldre axilar, os olhos verdes de Dávila me encaravam com ódio mortal. Naquela noite o enganei, marcara uma reunião a dizer que precisávamos falar sobre uma entrega especial para um dos magnatas de Córdoba que completava anos naquela noite. Dávila acreditava que falava com Felipe, quando, na verdade Milo era quem o encontraria naquela noite.

Quando percebeu que algo estava errado, era tarde demais. Um dos muitos dos seus seguranças tentaram me parar enquanto conduzia o filho da puta do policial corrupto para uma das nossas trincheiras, onde as torturas aconteciam. No entanto, naquela noite não haveria tortura.

Se os meus lábios pudessem provocar qualquer esboço de felicidade, seria agora enquanto o microchip era implantado em Dávila. O médico pediu autorização para nos deixar a sós, quando o procedimento foi terminado com sucesso.

- Dávila. - Bati levemente em seu rosto. - Ânimo, hijo de puta. Estarei a vigiar cada maldito passo teu, se chegares perto de Isabel, te matarei. E se porventura, acreditas que há uma maneira de retirar este dispositivo sem morrer, estás de todo enganado.

Os únicos a saber que dentro do microchip existia uma cápsula a abrigar Abrina era eu e Timo. Já agora Dávila sabia que teria que conviver com aquele dispositivo por toda a porra da vida se quisesse continuar a viver. Do contrário, se tentasse retirar o microchip, a toxina seria liberada para seu organismo. Dávila poderia ter ao seu lado o melhor profissional de saúde deste mundo, todavia quando este descobrisse qual veneno era abrigado na pequena cápsula, Dávila já estaria a agonizar. Era mais prudente continuar a ser vigiado a morrer dolorosamente.

- Quando Felipe estiver no poder ele me trará informações privilégios as, Milo.- Dávila respondeu em escárnio. - Há um demônio que não consegues controlar e ele partilha o mesmo corpo contigo. Tudo que quiser, Felipe me dará.

Embora meu semblante não denunciasse medo, naquele momento temi por saber que talvez Felipe estivesse realmente em suas mãos. E posteriormente, acabasse por magoar Isabel. Não conseguia controlar as ações do meu alter-ego, não poderia ler sua mente mesmo partilhando do mesmo cérebro, corpo.

Horas mais tarde enquanto o levava de volta a Ronda, a BMW que conduzia foi perseguida por seus homens. Depois que o processo com o microchip foi realizado, nada parecia relevante. Desviei o automóvel para um encostamento enquanto esperava seus homens me atingirem. Dávila foi retirado da BMW sem nenhum ferimento, excepto claro, pela fina incisão no seu pescoço, ele estava ileso.

Reajustei a adaga no coldre, mas não tinha a menor intenção de usar naquela noite.

Dávila foi alojado num Mercedes-Benz enquanto reconhecia alguns dos rostos dos homens que esperavam que reagisse aos minutos de torturas a seguir. Um dos policiais corruptos de Ronda sorriu no segundo que um fio cortou o meu ar por alguns segundos, um deles estava atrás de mim. Senti a porra do seu corpo muito próximo ao meu, sua respiração em meu ouvido me causou ânsia.

"Não vai doer, Milo. Tens que relaxar, meu menino."- A voz de Castel retumbou em meus ouvidos. "Prometo que vais gostar, deixe-me tocá-lo."

Socos foram deferidos em meu estômago e rosto enquanto o fio ainda cortava meu ar. Esta não era a primeira vez que enfrentava uma quantidade generosa de rivais do Cartel sozinho, poderia matar estes filhos da puta. Todavia, a minha mente paralisou meus movimentos. Estava aterrado na maldita masmorra com Castel.

"Quanto tempo levaria para morrer ao ingerir uma baga venenosa do Timo?"- Pensava enquanto ele se dobrava contra meu corpo.

Fui golpeado uma última vez no rosto, cuspi sangue no segundo que me vi livre do fio negro que cortou meu pescoço e que quase me matara. Fui arremessado para dentro da BMW, um deles ajustou um gorro negro sob meus cabelos, nariz e boca. Recebi outros golpes no rosto envolvido pelo tecido escuro, não entendi o motivo de ceifarem a minha visão quando as minhas mãos continuavam livres. Mais tarde percebi que Dávila conhecia muito bem os seus inimigos, com toda a certeza ele sabia sobre as violações. Sabia que ao colocar a porra de um gorro negro despertaria o meu lado sombrio, as memórias da masmorra me assaltariam de imediato. Contudo, naquele momento desviei a atenção para o sorriso da garota ruiva, da cor intensa dos seus olhos verdes. Enquanto os homens de Dávila se revezavam para esmurrar o meu estômago, trazia a memória a voz suave de Isabel. O cheiro do grafite que emanava dos seus dedos prodigiosos. Poderia matar cada agressor num piscar de olhos, mas minha mente naquele momento estava ao de longe.

Isabel continuava a sorrir em algures da minha mente entorpecida.

Desfaleci ao receber um golpe no rosto, brutal.

- Preciso que acordes. Não consigo...

Não sei ao certo quantas horas estive sob o cuidado dos homens de Dávila, entretanto quando acordei uma primeira vez naquela noite em que Córdoba festejava, um rosto apreensivo me fitava. Seus lábios imploravam para que acordasse, ela continuava tão linda.

Isabel García, tão linda.

Naquele momento soube que precisava que Felipe também se apaixonasse por ela, caso contrário a perderia.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now