Capítulo 15

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Milo Giordani

A multidão se dissipou quando mais um projétil foi disparado.

Sangue quente escorria por meu braço esquerdo na medida que caminhava para o outro lado do bar, onde o filho da puta com olhar sanguinário estava desfalecido no chão de madeira. Seus olhos se reviravam nas órbitas, o tiro atingiu seu ombro direito. Ele sofreria algumas horas, antes de finalmente encontrar com a morte. Antes disto, ele contaria os motivos que o levaram a invadir o 1998 e apontar uma arma para Isabel.

- Leve-o para o armazém, Paco. - Sibilei a mirar seus olhos negros em crueldade.

Voltei minha atenção para Isabel, uma mulher trôpega esbarrou nos meus braços. Seus olhos estavam fosco, talvez pelo uso desmedido de bebidas alcoólicas. Ela estremeceu ao reconhecer a quem pertencia o olhar que fitava. Rapidamente, sussurrou alguma desculpa e voltou a tropeçar para a saída de emergência onde um número elevado de pessoas se esbarravam para saí do próprio inferno.

Isabel estava petrificada próximo a um dos balcões do bar. Seu olhar decaiu sobre a camisa branca banhada num intenso carmesim.

- Levaste um tiro. - Não era uma pergunta, mas uma afirmação consolidada em medo. - Precisa ir a um hospital, Milo. -Sua mão tremia conforme tentava elevar até o ferimento.

- Estou bem, García. O projétil não foi alojado em meu braço.

- Por Dios. -Seus olhos verdes estavam cheios de temor, indignação. - Não me digas que vais suturar isto sozinho.

- Este procedimento ficará para mais tarde. - Minhas mãos encontraram o contorno das maças do seu rosto, Isabel tremia copiosamente. - Estás bem?

- Visto que tentaram matar-me há dez segundos, acredito que sim. - Respondeu, assertiva.

- Quero que me prometas que não vai a lugar nenhum, García. - Inalei a essência pura da flor de laranjeira que emanava dos seus cabelos, como se esta fragrância mantivesse a minha sanidade intacta. - Isto é a porra de uma ordem.

- Milo. Não pretendo ficar...

- Isabel. - Soprei seu nome num sussurro no seu ouvido.

- Não estou a obedecer as suas ordem. Ainda não mandas em mim, mas ficarei a sua espera, senhor Lorde. - Retorquiu ainda a olhar para a mancha vermelha que se intensificava sobre o tecido branco. - Sangrando desta forma, certamente morrerás.

- Ainda não, amor. - Elevei a mão em direção ao bar. - Sérgio, mantenha García em segurança. Qualquer movimento suspeito, estamos no armazém.

Afastei-me no segundo que Sérgio confirmou com a cabeça as ordens recebidas.

- Milo. - Isabel pronunciou baixo meu nome sobre a cacofonia da música alta ainda entoada pelos alto-falantes. - Apenas... - Mordeu os lábios cor de cereja. - Não é nada.

Me afastei com certa relutância, não confiava em nenhum destes filhos da puta perto de Isabel. Sabia que qualquer um deles poderia ser um inimigo do Cartel. Mirei um olhar intensivo em direção ao bartender do 1998 antes de prosseguir até o armazém. Afirmei através daquele olhar que o mataria dolorosamente se algo acontecesse com Isabel enquanto estivesse ausente. Ele assentiu a entender a minha sentença silenciosa.

Paco havia amarrado o homem, até o momento desconhecido. Seus pulsos estavam atados fortemente contra os braços de uma cadeira em ferro, da sua boca emanava sangue. Ele sorriu diabolicamente quando me viu chegar.

- É um desprazer finalmente lhe conhecer, Giordani. - Cuspiu como se o sobrenome fosse uma ofensa mortífera em sua língua.

Paco observava algo no aparelho entre seus dedos, seu semblante não denotava nenhuma emoção.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now