Capítulo 24

42 8 3
                                    

Milo Giordani

— Estou curiosa. — Isabel sussurrou enquanto a conduzia as cegas até um dos compartimentos da casa. — Minha mão esquerda tapava a sua visão enquanto a direita a segurava em sua cintura.

— Continue com os olhos fechados, amor. — Pedi enquanto abri a porta, acendi a luz do cômodo reformado recentemente. Isabel sorriu com os olhos fechados, suas mãos agora estavam em torno da cintura. Seu corpo estava envolvido num roupão negro, acabamos por usar toda a noite no meu quarto. Ela estava linda, no auge da felicidade. — Pode abrir, Isabel.

Lentamente os seus olhos abriram-se e revelaram admiração. O sorriso em seus lábios engrandeceu ainda mais a sua beleza, Isabel deu um passo a firmar seus pés no chão em madeira. Parecia não acreditar naquilo que via.

— Dios mio! — Isabel caminhou até um dos cavaletes em madeira, suspirou ao deslizar um dedo na tela em branco. Observei sua fascinação ao dedilhar tintas, pincéis e telas. Dedilhou a suspirar potes com tintas e outros com brilhantes em tons néon. — Este é o paraíso?

— É seu, amor.

Isabel parou no meio da sala de pintura, seus olhos verdes cintilavam de felicidade.

— Este lugar é meu?

Caminhei em sua direção ao passo que ela corava um pouco mais.

— Teria trazido o próprio Michelangelo se este estivesse vivo. — Repousei as mãos em sua cintura. — Apenas para despertar este sorriso em teu rosto.

— Este lugar já é o paraíso sem o Michelangelo. — Seus lábios se uniram aos meus por um instante. — Acredito que a minha inspiração voltará muito em breve, Lorde.

Meu telemóvel soou no bolso do meu roupão a anunciar uma chamada de Esteban às vinte e três horas. Pedi um segundo a Isabel a erguer um dedo para o aparelho em minha mãos, ela concordou a voltar toda a sua atenção para uma coleção de livros que contavam as histórias de vidas de pintores e escultores famosos.

— Depredaram o armazém cinco. Não levaram porra nenhuma desta vez, no entanto, uma mensagem escrita a sangue foi deixada na parede de concreto. — Sua voz mantinha raiva e desprezo. — Como eu escapei? Com dificuldade. Como eu preparei este momento? Com prazer. — A citação do clássico favorito de Facundo eclodiu por meus ouvidos como uma bomba. — Onde está Isabel?

Transferi minha linha de visão a mulher a folhear um dos livros que relatava a vida de Donatello.

— Comigo.

Quase ouvir um suspiro de alívio correr do outro lado da linha.

— Acredito que seja melhor mantê-la por perto, Milo. — Esteban ficou em silêncio por um segundo enquanto o ouvia falar com Esli. —Dario seguiu Facundo e Castel até uma pequena capela em Cádis, os fodidos se encontraram com o líder da gangue de Cádis que interceptou uma das nossas entregas e incendiaram os dois motoristas. Eles selaram um pacto, Milo. Para além disto. — O silêncio pesado de Esteban enrolou-se a volta do meu pescoço como a própria mamba-negra de Timothé, tinha a certeza que aquilo que ele estava para falar era potencialmente cruel. — Ao saírem da igreja, três meninos na idade de cinco até doze anos talvez, foram colocados dentro de um carro onde Castel era o condutor. Dario conseguiu seguir o carro, ele e estes meninos estão numa velha cabana no início de Cádis. Eu, Esli, Paco e Timo estamos partindo agora.

— Nem fodendo que ficarei para trás, Esteban. Mande a direção, este filho da puta terá aquilo que merece hoje.

— Milo, isto poderá não...

— Esteban, eu sou o caralho do seu chefe. Estou lhe ordenando mandar a localização da porra da cabana. — Meu tom autoritário reverberou pela sala. Isabel parou imediatamente de folhear o livro, pedi silenciosamente perdão através de um olhar. Não era do meu feitio falar deste modo com Esteban. Porém, neste momento tudo o que poderia sentir era ódio crescer nas minhas veias pelo homem que criou danos irreparáveis, deixou suas marcas cruéis em meu corpo quando ainda era um garoto.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora