Milo Giordani
— Estou curiosa. — Isabel sussurrou enquanto a conduzia as cegas até um dos compartimentos da casa. — Minha mão esquerda tapava a sua visão enquanto a direita a segurava em sua cintura.
— Continue com os olhos fechados, amor. — Pedi enquanto abri a porta, acendi a luz do cômodo reformado recentemente. Isabel sorriu com os olhos fechados, suas mãos agora estavam em torno da cintura. Seu corpo estava envolvido num roupão negro, acabamos por usar toda a noite no meu quarto. Ela estava linda, no auge da felicidade. — Pode abrir, Isabel.
Lentamente os seus olhos abriram-se e revelaram admiração. O sorriso em seus lábios engrandeceu ainda mais a sua beleza, Isabel deu um passo a firmar seus pés no chão em madeira. Parecia não acreditar naquilo que via.
— Dios mio! — Isabel caminhou até um dos cavaletes em madeira, suspirou ao deslizar um dedo na tela em branco. Observei sua fascinação ao dedilhar tintas, pincéis e telas. Dedilhou a suspirar potes com tintas e outros com brilhantes em tons néon. — Este é o paraíso?
— É seu, amor.
Isabel parou no meio da sala de pintura, seus olhos verdes cintilavam de felicidade.
— Este lugar é meu?
Caminhei em sua direção ao passo que ela corava um pouco mais.
— Teria trazido o próprio Michelangelo se este estivesse vivo. — Repousei as mãos em sua cintura. — Apenas para despertar este sorriso em teu rosto.
— Este lugar já é o paraíso sem o Michelangelo. — Seus lábios se uniram aos meus por um instante. — Acredito que a minha inspiração voltará muito em breve, Lorde.
Meu telemóvel soou no bolso do meu roupão a anunciar uma chamada de Esteban às vinte e três horas. Pedi um segundo a Isabel a erguer um dedo para o aparelho em minha mãos, ela concordou a voltar toda a sua atenção para uma coleção de livros que contavam as histórias de vidas de pintores e escultores famosos.
— Depredaram o armazém cinco. Não levaram porra nenhuma desta vez, no entanto, uma mensagem escrita a sangue foi deixada na parede de concreto. — Sua voz mantinha raiva e desprezo. — Como eu escapei? Com dificuldade. Como eu preparei este momento? Com prazer. — A citação do clássico favorito de Facundo eclodiu por meus ouvidos como uma bomba. — Onde está Isabel?
Transferi minha linha de visão a mulher a folhear um dos livros que relatava a vida de Donatello.
— Comigo.
Quase ouvir um suspiro de alívio correr do outro lado da linha.
— Acredito que seja melhor mantê-la por perto, Milo. — Esteban ficou em silêncio por um segundo enquanto o ouvia falar com Esli. —Dario seguiu Facundo e Castel até uma pequena capela em Cádis, os fodidos se encontraram com o líder da gangue de Cádis que interceptou uma das nossas entregas e incendiaram os dois motoristas. Eles selaram um pacto, Milo. Para além disto. — O silêncio pesado de Esteban enrolou-se a volta do meu pescoço como a própria mamba-negra de Timothé, tinha a certeza que aquilo que ele estava para falar era potencialmente cruel. — Ao saírem da igreja, três meninos na idade de cinco até doze anos talvez, foram colocados dentro de um carro onde Castel era o condutor. Dario conseguiu seguir o carro, ele e estes meninos estão numa velha cabana no início de Cádis. Eu, Esli, Paco e Timo estamos partindo agora.
— Nem fodendo que ficarei para trás, Esteban. Mande a direção, este filho da puta terá aquilo que merece hoje.
— Milo, isto poderá não...
— Esteban, eu sou o caralho do seu chefe. Estou lhe ordenando mandar a localização da porra da cabana. — Meu tom autoritário reverberou pela sala. Isabel parou imediatamente de folhear o livro, pedi silenciosamente perdão através de um olhar. Não era do meu feitio falar deste modo com Esteban. Porém, neste momento tudo o que poderia sentir era ódio crescer nas minhas veias pelo homem que criou danos irreparáveis, deixou suas marcas cruéis em meu corpo quando ainda era um garoto.
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