Milo Giordani - Há doze anos

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Córdoba, há doze anos

Milo Giordani

Isabel pintava as unhas dos seus pés, num tom laranja nada agradável.

— Estava indecisa entre o verde e este tom. — Erguera os vernizes que pertencera a Luna ao ar. Roubei furtivamente do seu quarto em um dia deste, Isabel agradeceu com um sorriso triunfante. Quem testemunhara aquilo poderia pensar que ela acabara de ganhar uma das Barbies fashionistas da minha irmã mais nova.

— Talvez esta cor seja realmente o mais apropriado para o seu tom de pele. — Mencionei ao sentar ao seu lado.

— Não combino com verde?

Sabia como manter um homem vivo mesmo a fazê-lo sangrar por horas, tão certo como conhecia por nome todo um arsenal com equipamentos de tortura. Mas sobre isto...

— Não sei, Isabel. Apenas falei por falar.

Ela sorriu ao tocar levemente no meu peito, logo quando deixei escapar um resmungo de dor os seus olhos verdes dobraram de tamanho.

— Magoei você? — Isabel fitava o local recém-tatuado, disfarcei qualquer evidência de dor.

— Não tens força suficiente para me magoar, Isabel.

— Não duvide da minha capacidade em machucar você, garoto sem nome. — Ela acenou com a cabeça com um sorriso largo nos seus lábios a espreitar os seus dedos dos pés que dançavam sobre a relva. Laranja néon, os seus dedos lembravam a porra do nascer do sol. — Quando saberei algo sobre você?

Logo, ficou pensativa.

Há uma hora o símbolo do Cartel fora gravado na minha pele, o Barão de Samedi foi cravado sob as batidas do meu coração. A minha iniciação aconteceria esta noite, estava ansioso por isto.

— Hoje completo anos.

— Feliz cumpleaños! — Isabel pulou sobre o meu corpo, os seus braços enrodilharam-se em torno da minha cintura. Rapidamente, ela ficou inerte quando sentiu o contorno da adega no meu coldre axilar.

— É apenas uma adaga com cabo de couro, Isabel. E não uma semiautomática.

Quebrou o nosso contato quando apanhei a Smith & Wesson.

— Não! — Gritou quando deslizei a adaga na palma da minha mão esquerda.

Observei uma lágrima deslizar por seu rosto polvilhado em sardas.

— Confias em mim, Isabel?

Respirou pesadamente a retirar os fios ruivos que atingia o seu rosto devido ao vento frio que nos fustigava. Isabel assentiu a observar a ponta afiada da adaga.

— Dê-me a sua mão, Isabel.

Do contrário que imaginei, ela não recuou. Isabel fechou os olhos quando a ponta perfurou a palma da sua mão.

— Prometo proteger você, Isabel. Com o meu corpo, com o meu sangue, protegerei a sua vida. O pacto de sangue que faço contigo hoje me seguirá até o dia da minha morte.

Selei as nossas mãos ensanguentadas.

Gotas de sangue a manchar as suas unhas laranjas recém-pintadas, anunciavam que lembraria daquela cor por toda a vida.

Naquela noite mataria pela primeira vez.

A minha iniciação começaria.

Prometi a Facundo que mataria Isabel García.

Quando este dia chegasse não haveria apenas uma cova, mas duas.

Deixei Isabel para trás a fitar o corte não muito profundo na palma da sua mão. Uma promessa à sangue feito por um Giordani era um pacto firmado em verdade, poucos teriam o prazer de ter a lealdade de um dos filhos do Cartel criminal do Sul ao seu lado.

Isabel García tinha esta maldita sorte.

☠️

Adrenalina bombeava fortemente pelo meu corpo após matar o Prez do Cernuno.

Estávamos no armazém industrial onde ocorria as iniciações. Uma numerosa multidão de seguidores do Cartel do Sul e arredores estavam ali para testemunhar o dia em que Milo Giordani se tornaria finalmente parte da organização como num todo. Eles estavam ante o futuro chefe do Cartel Criminal do Sul.

Esteban era o responsável por presidir estas ocasiões.

Timo e Paco permaneceram ao meu lado durante toda a cerimônia numa enorme plataforma voltada para o público ansioso.

— Milo Giordani, hoje passarás a ser parte do Cartel do Sul. — Esteban segurava com adoração a Karambit afiada. — Por nossa causa passarás pelo vale da morte, sangrarás. — A lâmina curva serpentou pela palma da minha mão, sangue começou a verter. — Pelo Cartel respirarás, sua devoção e lealdade estará sempre na nossa organização. A partir de hoje e até que o Barão da morte venha ao seu encontro, seu corpo, alma e coração pertence a nós. — Esteban fitou a minha mão esquerda, aquela que sangrara numa promessa a Isabel. — Inteiramente, Milo Giordani.

— Até que o Barão da morte venha ao meu encontro. — Recitei parte do juramento a sangrar. — Serei fiel ao Cartel até o dia que o véu negro sobrevir sobre a minha visão. Para ele, por ele até o meu último suspiro.

Naquele dia duas promessas foram feitas. Em meu íntimo sabia que só poderia cumprir uma delas futuramente.

Eventualmente, sangraria apenas por uma. 

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now