Capítulo 30

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Isabel García

    Ao acordar notei a presença de uma bandeja com sumo, pães e uma cesta cheia de morangos. Relembrei a noite passada, a quebra de tensão e de alucinar que Milo esteve a segurar-me por toda a noite. Todavia, ao me mexer na cama, o perfume que Milo usava pairou no ar a afirmar que ele esteve aqui comigo.

Trouxe o tecido suave próximo ao rosto, suspirei lentamente. De certeza não estava nos meus melhores dias, quem estivesse a entrar no quarto agora constataria que ficava louca.

Trouxe a bandeja com o pequeno-almoço para junto da cama. Apanhei primeiro um morango, quando o sumo da fruta deslizou por meus lábios senti um pequeno tremor no meu ventre. Sobressaltei-me com o movimento inesperado, cuidadosamente afastei a camisa larga que cobria meu ventre, esperei pacientemente por outro toque. Este veio um pouco mais intenso, cheio de vida. Sorri ao pousar a mão sob o tremular constante, meu coração quedou numa paz imensurável ao presenciar aquele momento.

Mal poderia esperar para saber o sexo do segundo bebê.

Amava aquela etapa da minha vida.

**

Gloria não permitiu que voltasse a trabalhar no LaRio. Sentia-me mal por estar a usufruir da sua casa e comida de graça. Gloria por sua vez, afirmava que a minha companhia era a melhor coisa para ela naqueles dias. Que não deveria me preocupar com nada, que deveria apenas descansar.

Tinha muita sorte de tê-la na minha vida.

Pensava com frequência na minha mãe, gostaria de partilhar este momento com ela. Esperava que aonde quer que ela estivesse a paz estivesse consigo.

**

   Hoje a noite aconteceria a apresentação das artes que apresentaríamos em uma das melhores galerias de Córdoba. Estava demasiadamente nervosa a considerar que Vincent Allaire estaria presente durante a cerimônia. O Francês era reconhecido por toda a Europa por ser um dos melhores artistas contemporâneos da atualidade. Os seus atelieres estavam espalhados por Florença, Versalhes, Barcelona, Paris e Istambul. Nos últimos meses houve um murmúrio que ele estaria a abrir um atelier em Córdoba, todos os amantes da sua arte estavam eufóricos para saber se realmente a cidade das flores seria agraciada com uma galeria de Allaire.

Meu coração mal se continha em nervosismo ao adentrar na galeria, todos os alunos do curso de artes visuais estavam acompanhados por seus familiares e amigos que prestigiavam as suas obras com fascínio. Esteban e Gloria me acompanharam por todo o percurso feito com quadros e esculturas criadas com amor e dedicação. Muitos dos convidados capturavam aqueles momentos, fotografias e vídeos eram gravados por familiares orgulhosos por seus entes queridos. Apercebi-me que enquanto caminhava a verificar as artes expostas, olhares minuciosos decaíam sobre o meu ventre, os meus colegas de classe não conseguiam esconder a perplexidade nos seus rostos. Já agora, o suposto motivo do meu afastamento era sabido por todos.

Repousei a mão sobre a barriga e sorri para cada um deles. Esta gestação não havia sido planeada, trabalhava num restaurante, o meu tão sonhado curso de artes plásticas foi suspenso por tantos outros motivos que não tinha nada a ver com a gestação. Enfrentava uma fase difícil da minha vida, mas tinha a certeza que conseguiria vencer.

Puxei cuidadosamente a ponta do vestido longo azul que usava e que pertencia a Gloria. Tivemos que realizar vários pequenos ajustes, mas no final o vestido suavizou todas as minhas curvas proporcionadas pela gravidez.

Parei diante de um dos quadros com mais cores vivas, nele uma garota segurava firmemente a mão de um rapaz enquanto eles caminhavam sob um arco-íris repleto de borboletas iluminadas.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now