Capítulo 34

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Isabel García

    A porta foi trancada com um clique que reverberou por meus pensamentos confusos. O mundo ao meu redor parecia prestes a ser destroçado em pequenos fragmentos. Transferi o meu olhar para a Giordani mais velha que adentrava para o closet a procura de algo, ela estava demasiada tranquila para alguém que acabara de ver os seus netos irem para a guerra.

— Não estás preocupada ou com medo? — Em cada palavra havia uma acentuação de raiva diante da sua calmaria. — Seus netos acabaram de declarar uma possível guerra com os mexicanos, Lupita. E onde está Lua? Onde? — Quase gritei.

Os dedos enrugados de Lupita passaram demoradamente por um pequeno aparelho em especial, de toda pensativa.

— Milo certamente saberá ganhar esta guerra, Isabel. Não tenho medo nenhum quanto a isto. Ele é chefe do Cartel por um motivo. Meu neto não governa com medo, e em todas as suas batalhas ele saiu como vencedor. Portanto, tenho confiança que desta vez não será diferente. E quanto a Lua, ela está em total segurança.

Lupita continuava a observar o aparelho, desviei a minha atenção para Ângelo. Ele jogava no seu aparelho móvel, entretanto percebi que mantinha atenção na nossa conversa. Assim como Paco, ele era um Giordani observador. Quieto ao extremo, porém deveras analítico.

— As pétalas da flor de laranjeira se tornaram o pó do talismã que ele carrega no peito. — Sua voz estava suave e carregada de lembranças. — Lembras do presente que destes ao Milo quando ele completou treze anos?

Uma memória antiga rodopiou por minha mente a erguer um sentimento muito forte em meu coração em alvoroço. A recordação das flores de laranjeira do senhor Leonel e o desenho do rapaz em toda a sua majestade cercado por um redemoinho de borboletas, me fez sorrir.

— Então...

— O pó branco dentro do contador do tempo um dia foi aquele ramo de flores, Isabel. Ele não esqueceu de ti nem por um segundo, hija. — Logo a avó de Milo procurou aquilo que desejava, um rolo de tecido e linhas coloridas. Andou com dificuldade para o quarto, observou Ângelo a sorrir e confessou. — Ele chegou até aqui por ti, Isabel. Milo voltará para casa, para suas filhas e para o amor da sua vida.

Lupita sorriu.

Meu coração apertou fortemente no peito.

Milo Giordani

Pablo e Eduardo Salvatierra estavam sentados no sofá em couro, o pai parecia ansioso por nosso encontro, o filho nauseado.

— Não esperava vê-lo no meu território esta noite, Pablo. — Mirei o homem que levantou instantaneamente diante da minha presença. Ele ajustou o adereço em seu rosto, aquele que camuflava o seu olho defeituoso. Logo fez uma reverência inusitada, ouvi Timothé murmurar algo para Esteban sob os meus ombros.

— As notícias espalham-se demasiado rápido por Córdoba, Lorde. Fiquei a saber que o Cartel precisa de aliados contra uma nova investida de Facundo. Apressei o convite, e estou aqui para oferecer a nossa ajuda.

Repousei os dedos por sobre o coldre amostra, a ponta da adaga pulsava sobre a luva em couro no segundo que Eduardo sorriu pervertidamente na minha direção.

— Já conversamos sobre o noivado, este não acontecerá. — Repeti a mesma conversa de dias atrás. Certifiquei-me mais uma vez que Luna não casaria com Eduardo, jamais. Não sabia a razão deles estarem no nosso território a esta hora da noite.

Uma risada malévola ricocheteou por todas as paredes da casa em silêncio, Eduardo perpassou a língua por seus lábios gretados.

— Não quero a porra da Luna, Giordani.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora