Capítulo 1

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Atualmente

Córdoba, 

Isabel García

As minhas pernas tremiam quando sobressaltei sob o impacto de alguém a esmurrar a porta do antigo vão escuro. Este foi meu primeiro lar. O lugar onde partilhei a minha infância ao lado do meu padrasto quando chegamos de Sevilha. A minúscula casa estruturada em paredes pútridas foi deixada de herança por meu bisavô que mudara para Córdoba há muitos anos. Ele acreditava que nesta terra seria feliz, não foi. Muito menos a sua geração a seguir. Os García não prosperavam, isto era lei.

Recusei as batidas incessantes.

Meu interior permanecia vazio.

Almejava ficar envolta da minha dor em posição fetal para sempre.

As batidas contra a porta estavam mais fortes, quem quer que fosse não partiria.

Caminhei lentamente em direção a entrada mal-acabada do quarto sujo em que vivi durante a minha infância. Ao abrir a porta principal, revivi um Déjà vu muito pior que o original.

Sangue cobria todo o seu terno de três peças, a camisa branca era apenas um intenso carmesim. Seus olhos azuis estavam demarcados por veias estouradas, um corte profundo nos seus lábios me fez estremecer. Apesar dos inúmeros cortes e manchas escuras no seu rosto, ele continuava igualmente belo.

Milo Giordani se prostrou diante de mim.

O chefe do Cartel Criminal mais temido da Europa estava ajoelhado na minha frente, algo que ele jurou um dia nunca fazê-lo. Suas mãos estavam atadas em volta da minha cintura a clamar silenciosamente por uma súplica que os seus lábios em vinte e cinco anos se recusara a fazer.

Tremia.

Os canos de botas pesadas de infantaria ecoaram sob o piso em cimento. Dois homens altos vestidos em ternos impecáveis adentraram no compartimento.

Há alguns meses estaria a me curvar em pânico em frente aos temíveis irmãos Giordani.

Hoje não.

— Milo. — A pronúncia do nome do irmão ecoou pelo compartimento vazio. Paco parecia aborrecido e, em simultâneo, chocado pela cena que se desenrolava a sua frente, porém ele adotava uma postura compulsivamente tenaz. — Isabel precisa de um tempo.

Milo continuava prostrado.

Seus olhos azuis encontraram os meus.

— Perdão por cortar as suas asas, Isabel. — Milo pronunciara um pedido de perdão que nos remeteu ao nosso passado.

Chorei.

Era demasiado tarde.

Demasiado.

Timothé e Paco o levaram para longe.

Para seu mundo escuro.

Onde não havia perdão, amor.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now