Milo Giordani - Há doze anos

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Córdoba, Há doze anos

Milo Giordani

    Mirei a Glock18C na direção dos cabelos ruivos que se movia em pequenas ondulações sob o impacto de uma leve brisa

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    Mirei a Glock18C na direção dos cabelos ruivos que se movia em pequenas ondulações sob o impacto de uma leve brisa. Ela estava totalmente alheia ao fato de que aquela poderia ser sua última respiração. Um cão desnutrido corria a sua volta de todo feliz na sua visível desgraça.

— Um dia terás que pressionar o gatilho, Milo. — Facundo esbravejou ao meu lado a depositar a sua mão pesada no meu ombro numa manifestação clara da sua insatisfação com a minha recusa em atirar nela agora. — Podes fugir disto hoje, mas no futuro cobrarei o sangue de Isabel. Ele deverá estar nas tuas mãos, filho.

  Continuei a segurar a arma de fogo, mas já agora tinha a certeza que hoje não seria o dia em que mataria Isabel. Guardei a Glock18C no coldre axilar coberto por um casaco em lã grossa de inverno.

Isabel tinha se movido até uma das torres.

Nos últimos dias a observá-la percebi que ela estava a espera de alguém.

— Olá! — Cumprimentou a distância.

O cão permaneceu ao de longe na medida que ela dava pequenos passos na minha direção

Não respondi.

— Queres brincar de esconde-esconde? — Isabel correu na minha direção. Usava uma camisa rasgada com o triplo do seu tamanho, ela era apenas uma estrutura óssea danificada pela falta de boas refeições. As maças do seu rosto estavam demasiadas fundas, seus lábios ressequidos.

Seu inferno já havia começado.

— Não vais gostar da única versão de esconde-esconde que conheço. — Reprimi um sorriso mórbido. Não deveria trocar uma palavra com esta garota.

Isabel ergueu as sobrancelhas como estivesse prestes a evocar uma pergunta sobre a brincadeira sepulcral que Paco tanto gostava de executar. Neste território corpos dos nossos inimigos estavam aterrados abaixo de sete palmos, o meu irmão gostava de se certificar de os esconder em túmulos bem fundos feitos especialmente por ele. Sua invisibilidade em magnificência era um dos melhores dons de Paco Giordani.

— À propósito, sou Isabel García. — Estendeu a pequena mão que ficou suspensa no ar por segundos sem um retorno. — Como te chamas?

Não parecia ofendida com a minha recusa em trocar um aperto de mão.

— O meu nome não importa. — Pronunciei a fitar os seus olhos verdes incandescentes. — Sou a tormenta cujo nome não fará a diferença na sua vida.

Ela estreitou o olhar interrogativo.

— Quem lhe abandonou? — A pergunta causou uma fúria explosiva no meu interior. Quem ela pensava que era para realizar uma pergunta como esta?

— Fique longe deste lugar, Isabel García.

A menção do seu nome a empalideceu.

Dei um passo para trás a segurar o cabo da Glock18C sob a lã.

Um dia terei que apertar o gatilho, Isabel.

Terei que mostrar a quem pertence  minha lealdade.

Em Córdoba não há flores - Filhos Do Cartel Do Sul 1 Where stories live. Discover now