CAPÍTULO 67 - UM NOVO DESPERTAR

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Quando consegui abrir os olhos, uma cascata de azul e dourado os invadiu. Uma miríade de galhos verdes bordava o céu límpido e me protegia do sol. Aos poucos me apercebia de mim mesmo. Estava deitado sob uma bela e frondosa árvore como corpo inerte e entorpecido. Só o olfato, a visão e a audição me faziam sentir vivo. Enquanto tentava me recuperar, via as horas passarem rápido no caminho percorrido pelo sol.

"Em breve ele sumirá no horizonte e eu estarei sozinho. Somente eu e a noite!" Pensei.

Meu corpo despertava em espasmos, seguindo seu próprio ritmo. Ao meu redor, somente o vento nos galhos e um pio distante me avisava que havia vida por ali. Depois do pôr-do-sol, finalmente comecei a sentir meus pés. Acordei assustado no meio da madrugada quando uma das pernas chutou o vazio. Não me lembrava de ter adormecido, aliás, não me lembrava de nada. Permaneci acordado até por volta do meio-dia do dia seguinte. O sol está a pino e um calor reconfortante invadiu meu corpo, agradeci profundamente pois estava nu. Num esforço sobre-humano me levanto lentamente enquanto cada músculo teima em permanecer em repouso. Os ossos estalam um a um, acompanhados de pequenas centelhas de dor como agulhas em brasa em meus nervos. Sento-me encostado na grande árvore. É estranho, mas uma energia revigorante emana dela para o meu corpo. Olho para onde antes repousava minha cabeça e percebo um confortável travesseiro sobre um tapete de belas flores azuis. Ao seu lado uma bolsa de couro jaz semioculta pela relva e pelas touceiras de flores azuis. Apanho-a e descubro dentro dela uma muda de roupas, confuso, levanto e me visto o mais rápido que consigo, precisava sair dali rápido.

Caminho cambaleante por entre as árvores, usando-as como apoio, mas de súbito uma náusea dilacerante apunhala meu estômago. Vomitei gosma e bílis amparando o ventre com os braços entrelaçados e em um esforço gigantesco retomo a caminhada. Não sei por quanto tempo estive desacordado, mas tenho a certeza de que não vou durar muito. Preciso encontrar ajuda, preciso urgente de água e comida e de saber onde estou. Depois de algumas horas, vislumbro uma construção entre as árvores. Era uma espécie de barracão.

"Deve haver alguém que possa me ajudar!" Pensei.

Sigo até láno meu passo trôpego, e, sentindo outra aguda pontada no estômago me desequilibro e bato a cabeça em um grosso pilar de madeira da construção. A forte pancada me leva para um lugar conhecido, a escuridão.

Desperto em um confortável leito. A cabeça dói muito e a visão está turva. Estou confuso, mas não sinto medo ou qualquer insegurança. Percebo assustado e feliz, que o aroma do ambiente me é conhecido. Listras irregulares se desenham à minha frente, ou melhor acima de mim. Reconheço imediatamente o telhado de madeiras fortemente trançadas e pregadas. Lentamente movo a cabeça para a direita, na direção de algumas pessoas que percebo ao meu lado. Assim que a visão se ajusta perco a voz e começo um choro convulsivo de alívio. Eu reconheço tudo a minha volta, me lembro de tudo agora, diferente da primeira vez. As pessoas, o lugar, tudo é familiar e reconfortante para mim. Ali sentadas nos pés da cama estavam minha amada mãe Martha Kovach e a dona do meu coração Marielle Bazynski. Em seu colo, curiosos e tímidos, dois anjos não tiravam os olhos de mim.

Marielle levantou-se e pousou-os suavemente sobre meu ventre. Eram duas peças de porcelana, haviam herdado a tez pálida e os olhos da mãe, numa curiosa matiz entre o verde e o azul. Os cabelos bastos, eram de um castanho claro e dourado. Deslizei meus dedos delicadamente sobre seus rostinhos. A menina sorriu e o menino gargalhou. Devo ter feito-lhe cócegas. Marielle falou abrindo um grande sorriso.

- Marianne, Ryan esse é o seu papai!

Ambos ainda não falavam, somente balbuciaram algo. Curioso questionei.

- Quantos...que dizer, qual....qual a idade deles?

- Farão dois anos no outono, daqui a alguns meses! Respondeu Marielle.

Calei-me. Um engulho sufocante atravessou minha garganta como um punhal.

"Dois anos! Passei mais de dois anos em um limbo, ou no purgatório, ou seja lá em que diabos de lugar. Onde estive, o que aconteceu?" Pensei.

Olhei desconsolado para Martha e em seguida para Marielle, fitei os pequeninos que brincavam inocentes remexendo os dedinhos. Naquele momento, meu coração bateu mais forte se enchendo de amor e ternura.

"Eu ontem era ninguém, hoje sou todos nós. Sou feliz por tudo que fui, por tudo que sou e por tudo que fiz!" Pensei.

Suspirei aliviado enquanto o nó na garganta se desfazia num sorriso. Naquele momento decidi não mais buscar respostas onde não havia, não olhar mais para trás. Precisava agora, recuperar o tempo perdido o futuro me esperava ansioso.

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteWhere stories live. Discover now