CAPÍTULO 20 - CASEMIRO E O DIABO

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A recepção aos nobres da Península da Sambia prosseguiu normalmente, enquanto nós, eu, Bazynski, DeKitnow e Zig nos reunimos em um aposento anexo com o Rei e seus ministros e assessores.

- Então general DeKitnow, também recebi suas missivas sobre uma possível incorporação de Kulmerland ao reino da Polônia, mas confesso que as achei despropositadas!

O homem soava pedante e afetado, mas sem perder sua aura de rigidez adquirida nos campos de batalha. Em outros momentos parecia irônico.

- Nada mais verdadeiro majestade! Espero ter transmitido todo o sentimento de revolta que imprimi naquelas palavras!

– Quero sim Kulmerland livre dos Teutônicos, assim como o general Jan aqui, quer a liberdade da Prússia! Ambos os generais se olharam em cumplicidade.

- Por certo, confesso que o Império Teutônico foi, e ainda é, um grande embaraço para a diplomacia e economia da região do Báltico! Começou o Rei.

– Mas, por uma série de motivos longos e tediosos demais para serem explicados agora, a guerra com os teutões não se justifica!

- Somente isso vossa majestade? - É isso que essa ocupação impiedosa é, um... um mero embaraço? Questionei indignado.

O rei pareceu se aperceber de mim pela primeira vez. Examinou-me de cima a baixo, mas agora não exibia a ironia inicial, parecia zangado. Sequer pronunciou uma palavra. Voltou-se para os generais e continuou sua argumentação.

- Uma guerra por um território que não nos pertence, seria uma....! Eu cometi a loucura de interrompê-lo.

- Mas que já pertenceu! – Já fomos todos uma coisa só, um povo só!

- Dividíamos os mesmos territórios e a mesma cultura!

– Tudo nos foi tirado impiedosamente pela sede de poder do Império e da Igreja. Por eles fomos divididos, separados, como a faca separa a carne. E agora o que nos resta?

- Sermos esmagados pela crueldade de ambos somente porque cometemos o grave erro de existirmos. Agradeça majestade, a seja lá quais forem seus deuses, por serem livres. Vossa majestade e seu povo jamais saberão o vazio e o abandono que tomam a alma de um povo subjugado, violentado em suas raízes! - Apesar de todos aqui negarem, existe sim uma guerra não declarada entre vossos reinos e nossos malditos invasores!

- Todos aqui sabem da insaciável sede de conquista do exército Teutônico. Seu plano de expansão para o leste é uma realidade e a Polônia e a Lituânia estão no caminho. Correm o mesmo risco que nós, um dia corremos!

- Um exército negro e maligno está sendo construído sob as hostes da Ordem Teutônica. Não demorará muito para que tenham um número suficiente de soldados para invasões ainda maiores! Respirei um pouco, dando tempo para o Rei absorver o impacto das minhas palavras, mas não tempo suficiente para ser calado.

- Sois um governante justo e honrado, diferente em muito do Grão-mestre do Império. Vosso povo jamais saberá o que é viver sob o gume da opressão cortando o coração e o espírito, drenando nossas almas de toda vitalidade!

Todos ficaram paralisados pela minha ousadia. Inclusive eu. O rei me fuzilava com olhos dançantes, que absorviam tudo com uma perspicácia inigualável.

- Quem sois vós meu jovem? Perguntou o Jaguelão.

- Rayd Kovach à suas ordens Majestade!

- Qual seu posto no exército da Prússia, já que vosso peculiar uniforme não porta divisas?

- Não sou soldado nobre Rei, sou ferreiro e.....! Fui interrompido.

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteWhere stories live. Discover now