CAPÍTULO 12 - O RITUAL

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O animal não se movia. Na cabeça uma grande ferida aberta mostrava o lugar onde recebera o golpe. Não o suficiente para matá-lo, mas para mantê-lo desacordado. Zorn raspava a coxa traseira do grande javali preso sobre a mesa, precisava da pele exposta para o teste final. Em seguida pingou a fusão de compostos que, segundo seus estudos revelava a compatibilidade entre o animal doador e o ser humano receptor. A substância de um vermelho muito escuro mudava para o verde ou amarelo na pele onde era aplicada. Se ambos ficassem com a mesma cor era o sinal quase que definitivo de compatibilidade.

- Quase?! Questionou Gheller.

- Sim, quer dizer, não posso afirmar com total certeza de que o pobre não sofrerá em vão! Respondeu Zorn num tom cansado. Sequer olhou para Gheller, olhava para o homem que se encontrava no outro leito. Escaras cobriam seu corpo, a pele parecia se desmanchar. As únicas partes ainda saudáveis eram o torso e o rosto. Estava a dias debruçado em suas pesquisas e ainda mais angustiado. Não tivera mais notícias de sua amada. Esperava que o sucesso de seu estudo pudesse dar-lhe mais uma oportunidade para visitá-la.

- Estais vendo? Disse Gheller que, parecendo não o ouvir, só tinha olhos para os leitos.

- Que maravilha de trabalho meu jovem, as manchas apresentam a mesma coloração!

- Sim, agora precisamos fazer as demais aplicações! Respondeu Zorn indiferente. Gheller desmanchou o sorriso no mesmo instante.

- O doutor parece esgotado, deixe-me assumir daqui. Vá descansar, pois temos um compromisso muito importante hoje à noite!

- Compromisso? Eu....quer dizer que espécie.....? Disse Zorn confuso.

- Soldado, acompanhe mestre Zorn aos seus aposentos, imediatamente! Ordenou Gheller!

- Mas eu, eu.....er.....ainda tinha esperanças de poder ver Marielle!

- A enfermeira já não se encontra mais em Honeda, meu jovem, foi levada para Marienburg na madrugada de hoje!

- Como....Marienburg por quê?

Zorn nem sequer pôde protestar, recebeu um empurrão truculento do guarda responsável por sua escolta. Foi praticamente arrastado de volta ao seu quarto. A cabeça latejava, se sentia enjoado e cansado, caiu em seu leito e adormeceu num sono pesado, escuro e sem sonhos.

 A cabeça latejava, se sentia enjoado e cansado, caiu em seu leito e adormeceu num sono pesado, escuro e sem sonhos

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Foi acordado bruscamente pelas sacudidelas do guarda. Confuso não sabia quantas horas haviam se passado desde o apagão. Se sentia um pouco melhor, mas a imagem de Marielle não o abandonava.

- Vamos doutor, Mestre Gheller o aguarda nos túneis! Disse o sujeito.

- Vamos, para on....er....onde....? Ao tentar argumentar foi arrancado da cama.

Desceram até os túneis onde uma carruagem o aguardava. Gheller e dois desconhecidos já estavam nela. Com as cabeças cobertas pelo capuz de seus hábitos monásticos ele não conseguiu divisar seus rostos. Ao partirem ele descobriu assombrado que havia um terceiro túnel que saía do castelo, mas cuja direção era desconhecida. Definitivamente não seguiam para o hospital. Seguiram pela escuridão do túnel por um tempo indeterminado, Zorn se sentia completamente perdido e sem vontade de trocar uma palavra com Gheller. Este também não se mostrava disposto a nada, provavelmente concentrado no que viria a acontecer mais à frente. Zorn sentiu que agora estavam num aclive, no final dele atravessaram o que parecia ser uma parede de folhas e galhos e pela janela, ele recebeu o beijo gelado da noite.

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteOnde histórias criam vida. Descubra agora