CAPÍTULO 41 - AS AMARGAS SENSACÕES DO ADEUS

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Arik suava frio e delirava enquanto era atendido pelo xamã. Sua pele brilhava sob a luz da fogueira. A febre ia e voltava torturando ainda mais o seu enfraquecido corpo. A perda de sangue fora massiva e o jovem gritava de dor e desespero chamando os irmãos. Darik e Marik inconsoláveis seguravam fortemente suas mãos e respondiam em vão os seus chamados. O xamã então se levantou e chamou-me a um canto.

- Não era uma flecha comum, parece ter sido envenenada!

- Quer dizer, nós a retiramos, mas a febre não cede e o sangue não estanca. Nossas poções mais poderosas foram aplicadas, e nada. Sinto muito, mas ele não tem chance!

Ouvi incrédulo aquelas palavras. Não seria eu portador delas para os irmãos, apenas juntei-me a eles e esperei.

Morte, perda, tanto em minhas lembranças, quanto em meu coração, não conseguia resgatar essas sensações. Nem sequer podia supor que tal vazio pudesse existir. Uma dor profunda que só tinha cura com a presença do ente amado e por sua impossibilidade, era incurável. Divagava abraçado aos irmãos quando o último suspiro de Arik foi percebido. Marik caiu sobre ele gritando enlouquecido enquanto chacoalhava o cadáver. Darik tentava contê-lo, mas não tinha forças. O rapaz sacou o martelo de guerra e saiu numa corrida desembestada em direção à floresta. Seus gritos podiam ser ouvidos ao longe na noite fria.

Mestre Tynus, recuperara-se bem do ferimento e mesmo abatido fez questão de estar junto de nós. Agora estava em pé ao nosso lado, no funeral de Arik. Os irmãos desde muito tempo haviam se identificado profundamente com os Caninos, e resolveram de comum acordo que a cerimônia seguiria as tradições da tribo. A fogueira foi acesa nas primeiras horas da manhã. Junto ao corpo, depositados aos seus pés, os trajes dos Carcaju estavam ali para serem cremados com o irmão.Não precisei perguntar, sentia que com Arik, morriam também os Terríveis Irmãos Carcaju.

Toda a tribo entoava uma de suas canções fúnebres, muito bela e tocante. Ainda divagava sobre a morte e seus mistérios quando a imagem nítida dos tios me atingiu como um raio. Não soube explicar, mas a sensação de vazio e perda que sentira com a morte de Arik, se multiplicou mil vezes. Contraí o corpo como se tivesse recebido uma punhalada no estômago. A dor lancinante me fez vomitar, a visão ficou turva e o mundo parecia girar. As gargalhadas de tio Aldo vieram aos meus ouvidos como se ele estivesse ao meu lado. Tia Martha e suas repreensões carinhosas ecoavam por todo o ambiente. Caí de joelhos amparando o abdômen e ali, no pátio central da aldeia, em meio as chamas que devolviam meu irmão às cinzas, vi o sorriso e o olhar carinhosos de meu tio e mestre, Aldo Garzulis. Depois disso, a escuridão.

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteWhere stories live. Discover now