Sentia agora o cheiro de sangue e cinzas vindo do chão. Curvado sobre o solo, descansava a cabeça em meus antebraços enquanto tentava recuperar o fôlego e aplacar a dor. Não sei ao certo quanto tempo fiquei ali. O vazio incurável da perda ainda não havia me invadido, mas sentia que não tardaria a chegar. Só tinha uma certeza, tia Martha tinha pouco tempo de vida. Um tropel vindo da retaguarda me tirou daquele pesadelo de olhos abertos.
- Ei soldado, qual sua graça? Perguntou um capitão à distância, sem se dar ao trabalho de desmontar.
- Rayd, Rayd Kovach! Respondi.
- Sois o ferreiro?
- Sim!
- Venha, nos siga! Tornou o homem em sua armadura reluzente.
- Para onde?
O homem soltou um meio sorriso irônico, e pensou por alguns instantes se deveria responder.
- Sua majestade, o Rei Casemiro IV demanda vossa presença!
Segui com a tropa ao encontro do rei. Conferi uma última vez a ferida causada pela lança, mas agora era somente uma cicatriz sob o rastro de sangue seco. Suspirei aliviado, o corte fora superficial, o que era quase impossível para aquelas lanças. Um vento suave, mas enregelante, e uma neve melancólica varriam o pátio nas primeiras horas daquela manhã. Uma imensa e requintada tenda já se encontrava montada onde antes jaziam os vários corpos de nossos soldados. A presteza e eficiência do exército do rei, eram realmente impressionantes. Caminhei lentamente pela extensa passadeira vermelha e dourada que levava até seu trono. O homem bebericava de uma taça, enquanto trocava algumas palavras com dois outros homens. Reconheci o primeiro-ministro como um deles. General Bazynski, Marielle,os Lagartos, Gudruk, Zatik e os irmãos assim como alguns capitães sobreviventes compunham a audiência. Sua majestade desviou atenção para mim com uma despreocupação irritante.
- Ora ora, eis que nos encontramos novamente jovem Rayd!
Curvei-me respeitoso.
- Vossa majestade, meu coração repleto de gratidão o saúda!
- Nossos futuros aliados aqui, demandam vossa presença nesse nosso pequeno conselho de guerra! Disse em um tom dúbio.
Olhei com estranheza para o general e em seguida para Gudruk. Confuso respondi sem medir o tom.
- Por certo, majestade, mas se me permite, o que há para planejar? Devemos sim partir imediatamente em direção à Balga. Nosso inimigo já deve estar se recompondo, coisa que não podemos permitir!
Mais uma vez o insuportável ar de superioridade e a percepção seletiva do rei desfilaram ante meus olhos. O homem dirigiu-se ao general Bazynski.
- General poderia atualizar o seu valoroso e tão indispensável comandado?
- Erhn.....não haverá ataque à Balga, Rayd! Respondeu o general vacilante.
- Mas..., mas como, quer dizer. Vossa majestade, devemos nos aproveitar da desorganização do exército teutônico causada por vosso providencial ataque surpresa! Declarei sem respirar.
Um de seus conselheiros se aproximou e cochichou algo em seus ouvidos. O sujeito suspirou profundamente revirando os olhos. Olhou para Bazynski e os outros, mas como não viu apoio refletido em nenhum olhar, se viu obrigado a dar alguma resposta.
- Vim até aqui com meu exército com o único propósito de derrubar esse Império e remover definitivamente o espinho de nossas gargantas. As notícias de seus corajosos atos em Vilnius se espalharam como uma doença, causando grande comoção entre a população. Devo confessar que me senti forçado a combater esse grande mal que se instalou entre meus dois reinos. Devemos cortar o mal pela raiz, e a raiz é Malbork, a capital!
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Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O Necromante
פנטזיהO grande mal cresce a cada dia. O império teutônico mostra sua verdadeira face de tirania prendendo e torturando todos os supostos membros da rebelião prussiana. Com Marielle e Zorn desaparecidos, Rayd se une aos rebeldes que agora lutam desesperado...