CAPÍTULO 43 - ZORN E A RESISTÊNCIA

1 1 0
                                    

Desembarcaram sob a proteção da madrugada no segundo porto clandestino do capitão Moreau, em algum lugar próximo à Schippenbel. Zorn estava inconsolável assim como Zig. Ambos haviam falhado com a criatura amigável que lhes devotara tanta fidelidade. Sentiam que Elza não seria páreo em uma luta com o gigante Zorbat e estaria morta à essa altura. Entristecidos e inconformados cavalgaram de volta ao Capítulo. Zorn ficou perplexo com a construção. Era bela e imensa, além de integrar-se providencialmente à paisagem. Uma grande fogueira ardia no pátio principal à frente do palacete, mas não puderam se aproximar mais, foram detidos por um pelotão de sentinelas.

O grupo de homens aproximou-se e Zorn reconheceu, mesmo em meio à luz bruxuleante das chamas, seus dois antigos comandados Zatik e Gudruk e suspirou aliviado.

- Podem deixá-los passar soldados, são amigos há muito esperados! Disse Gudruk não contendo o entusiasmo e abraçou Zig roubando-lhe o fôlego. Em seguida voltou-se para Zorn e com uma formalidade sem jeito tentou dar-lhe às boas-vindas. Muito tempo já havia se passado desde o desmonte da equipe, mas o seu respeito e admiração pelo doutor subxerife jamais se abrandara. Perdido em sentimentos, Gudruk abraçou Zorn carinhosamente que não sabendo como reagir, correspondeu ao abraço.

- Subxerife Zorn, que bom tê-lo conosco são e salvo! Disse o agora general, afastando-se.

Zatik ao seu lado foi mais comedido, estendeu a mão mantendo-se a uma certa distância, mas sem esconder a satisfação de tê-lo ali.

- Somente Iordan meu caro Gudruk, ou Zorn se preferir. Sinto, aliviado, que deixei o subxerife em outra vida!

Não pude conter minha alegria ao encontrar Zig, são e salvo e ainda por cima um herói, que retirara sabe-se lá de que maneira, o doutorzinho de dentro de Honeda. Abracei-o enquanto Zatik o fuzilava de perguntas.

- Zig seu velhaco, como...como conseguistes? Quer dizer quando voltou de Vilnius? E como retirastes o Doutor do Castelo e.........?

- Sim amigos, bastante coisa para contar, não vejo a hora podemos entrar? Respondeu o pequenino, mas não sem antes reparar no corpo ardendo dentro da fogueira. Nada perguntou, apenas nos olhou confuso. Percebi sua aflição e tentei confortá-lo.

- Venha amigo, entremos, também temos muito a vos contar!

Como previra Gudruk, Zorn ficou impressionado com a estrutura grandiosa da sala de comando, o equivalente à sua sala de investigações em Honeda. Passeava lentamente pelo imenso salão finamente decorado e com um sem-número de mapas, equipamentos e livros tudo devidamente organizado. Exibia um suave sorriso de satisfação. Sorriso esse, que se desfez quando nos sentamos à mesa e começamos a despejar sobre ele todas as perguntas que se faziam necessárias.

Ao final de algumas horas, Zorn pediu um chá enquanto massageava as têmporas exausto. As informações eram muitas e relativamente difíceis de assimilar. Para ele tudo fazia sentido agora. O grande mistério que fora Gudruk estava solucionado. O homem era figura importante na Resistência Prussiana e fora infiltrado nas tropas de segurança de Balga. Como espião, conseguira informações valiosas para os comandantes do movimento e com a vinda de Zorn que era um grande mistério para todos, ele fizera de tudo para integrar-se a equipe de investigações. Eles precisavam saber qual o papel do doutor subxerife nos planos do império. E por fim como o próprio Zorn descobrira, ele fora um simples fantoche para que os teutões ganhassem tempo para suprimir a inevitável revolução que se avizinhava.

- Mas agora é a sua vez, caro doutor! Cobrou o General Bazynski.

- Minha vez, como...como poderei ajudar. Nada tenho a revelar! Disse Zorn.

- Comeceis nos dizendo como escapou da morte, já que não servia mais aos propósitos do Império Teutônico? Cobrou Von Reynes.

- Sim doutor, fale sobre Elza, as jaulas e....! Zig ia contando tudo, mas foi calado pelo olhar de Zorn. Todos voltaram sua atenção para ele que, com o rosto afogueado, tomou outro grande gole de chá.

- O que, o que estais dizendo Zig? Pois bem doutor, é bom colocar as cartas na mesa! Trovejou o General Bazynski, impaciente.

- Eu, eu preciso antes saber de Marielle. Seu paradeiro, o que foi feito dela? Zorn respondeu vacilante.

- Minha filha está desaparecida! Tornou Bazynski.

Zorn atônito, olhava boquiaberto para o general. Pareceu reconhecê-lo somente naquele instante, não gravara a fisionomia do homem quando do primeiro encontro, na casa de Marielle. Ignorou-o, assim como foi ignorado. E agora estavam ali, frente a frente em uma situação única e totalmente diferente.

- Mas, ela foi levada para Malbork com uma grande escolta, segundo soube!

- Sim, montamos uma grande força para resgatá-la. Uma batalha sangrenta, muitos mortos. Mas quando fomos retirá-la da carroça de prisioneiros, não mais estava. Em seu lugar o cadáver de um oficial Teutônico! Respondeu Darik.

- Segundo um dos prisioneiros, ela escapou na noite anterior ao resgate. Sumiu em algum ponto próximo à floresta de Zantyr! Completei.

Zorn me olhou desconsolado, em seguida para um balcão de bebidas no final da sala. Repudiava o álcool e seus efeitos, mas por um instante, pensou em amortecer o cérebro com alguma bebida forte. Desistiu. Pediu mais uma caneca de chá enquanto se ajeitava na cadeira. Olhou para cima como que organizando seus pensamentos, e por fim com uma expressão decidida e raivosa levantou-se e passou a circular pelo ambiente. Por fim falou.

- Está certo! Não devo mais nada a esse maldito Império. Sinto que agora devo quebrar essa roda deaflições em que fui atirado. Tiraram de mim a única pessoa que realmente importava em minha vida! A voz ficara embargada.

- Nada me resta, a não ser consertar as coisas, e se para isso tenho que falar, então peço que sentem, a história é longa e recheada de dor e medo!

Todos se entreolharam e se sentaram puxados por Gudruk que já antevia a avalanche estruturada de informações que eram as palestras do doutor. Como todos acomodados e em silêncio,Zorn respirou fundo e mais uma vez usou toda sua altiloquência para traçar o tenebroso cenário que envolvia Karvelis, Gheller e seu exército de demônios.

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteWhere stories live. Discover now