CAPÍTULO 25 - O BISPO E O SANGUE

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O xerife foi recebido pelos diáconos do bispo na porta da antessala. Precisava pôr o Voivoda à par dos planos de libertação da filha de Bazynski, e obter sua autorização para partir com a tropa. Karvelis o recebeu contrariado na mesa que servia para despachos rápidos e audiências, mas onde agora, estranhamente estava posta uma ceia. O estômago do xerife roncou diante das delícias sobre ela.

- Pois bem Andruliz, à que devo essa audiência em hora tão imprópria!

- Peço perdão vossa eminência, só insisti em vê-lo devido à grande urgência da situação!

- Pois fale homem, sê rápido! Respondeu Karvelis, impaciente.

O xerife então desatou a contar tudo que ouvira do espião, e sua intenção de impedir o resgate.

O Bispo ouviu tudo com uma atenção ansiosa, mas ao fim pôs-se em sua costumeira pose de reflexão olhando para o nada. Repentinamente seus olhos se arregalaram. Um dos capítulos do livro das sombras veio claro em sua mente. Claro como um raio cortando a noite.

"Acies spectaculo fore ut in omnibus principibus quaerere. Vitalem sanguinem eorum vivit in"

- E os exércitos irão em busca de seus príncipes. Pois em seu sangue reside a força vital! Sussurrou.

- O que disse vossa eminência? Questionou o xerife que não conseguira ouvi-lo.

- Não importa! Cortou o clérigo.

- Xerife, preciso que seja rápido. Tem minha autorização, reúna os seus melhores homens impeça o resgate e traga a mulher de volta à Balga!

- Trazê-la de volta? Mas Bispo, a ideia é garantir a sua chegada em Marienburg! Tornou o Xerife.

Karvelis perfurou-o com o olhar deixando-o mudo.

- Pois vá agora xerife e.....! Foram interrompidos por um barulho que se fez ouvir no quarto do Bispo. A porta se abriu, e em meio a penumbra o Xerife distinguiu o rosto de um jovem. Logo em seguida a porta se fechou.

Andruliz voltou sua atenção para o Bispo que agora estava colérico. A expressão dura e furiosa, desmontou qualquer outro argumento. Não havia mais nada a se dizer, nem mais o que fazer ali. Sentiu-se desconfortável, despediu-se e saiu rapidamente.

Karvelis ficou ali, parado, olhando para o ferrolho da porta, que ainda balançava com a saída apressada do xerife. Estava em êxtase, mas ao mesmo tempo uma revolta furiosa o devorava. Após décadas de estudo, a solução para a real vida eterna vinha de uma conversa com o desprezível Andruliz. Precisava voltar aos grimórios, mais precisamente ao Livro das Sombras e ao Enchridion. Precisava resgatar os capítulos que mencionavam o Sanguis Vitalis Vis. Mas não agora, isso poderia esperar.

O jovem falava sem parar. Era de uma alegria e um entusiasmo dignos de nota. O bispo já o observara nos encontros dominicais no seminário, e agora podia constatar esses predicados pessoalmente. O apetite também era invejável. O rapaz devorava tudo sem sequer tomar fôlego. Tinha uma fome de vida que infelizmente para ele, era tudo que o bispo precisava. A presa perfeita, transbordante de energia vital, não definitiva, mas suficiente para restaurá-lo e mantê-lo por um tempo. Apreciava o bater forte do jovem coração, bombeando o sangue por sua jugular que pulsava freneticamente. O aroma da carne jovem também era enlouquecedor. Sua vontade era de se atirar ferozmente sobre o mancebo, destroçar seu pescoço em busca da veia principal e sentir o sangue jorrar em sua garganta. Mas ele não conseguiria tal intento nas condições em que se encontrava agora. Velho e enfraquecido, precisava da presa satisfeita e feliz. Precisava que ela não oferecesse resistência, pois ele não teria chance contra o vigoroso rapaz.

- Aceita mais vinho Davak?

- Por favor, sim vossa eminência! Respondeu o jovem estendendo à taça. Sequer notou o pó caindo do anel eclesiástico.

Em instantes estava caído sobre o prato. Karvelis sem perder tempo arrastou-o para o quarto e o colocou sobre o catre das vítimas. Despiu-o apenas para apreciar o corpo jovem, não havia outra necessidade a não ser o prazer que isso lhe proporcionava. Em seguida afundou as narinas sobre a pele do rapaz, aspirava profundamente sentindo seu perfume natural. O coração do Bispo que batia em intervalos muito distantes agora sofria uma pequena arritmia de excitação. Os olhos agora estavam turvos pelo desejo, enquanto ele percorria o corpo, acariciando e cheirando cada pedaço do rapaz. Deteve-se nas genitais, ali se demorou mais tempo tentando absorver sua masculinidade, tentando sentir o que lhe havia sido retirado com o passar dos séculos, o desejo de comunhão carnal com outro ser humano. Nada. Buscava o que lhe fora negado e talvez não tivesse mais recuperação. Olhou para o alto e gritou indignado. Mas já não era mais ele, seu rosto havia mudado. Os olhos de um vermelho intenso estavam injetados e choravam sangue. Seus dentes estavam pontiagudos e irregulares. O animal sedento de sangue havia se apossado dele. Com um grito angustiado e grotesco atacou a jugular quente e ainda pulsante. A carne tenra partiu-se facilmente e o sangue jorrou enchendo sua garganta. O líquido salgado e ferroso inundou suas papilas, enchendo-o de vida, invadindo seu corpo e restaurando a força e o vigor. Bebeu até a última gota, e em seguida foi se lavar. Precisava purificar-se. Olhou-se no espelho e sorriu ao se deparar com sua imagem jovial, repleta da vitalidade roubada pelo tempo. Mais calmo e satisfeito Karvelis iria agora em busca da fonte definitiva. O sangue puro e repleto de energia vital de seu casal de inimigos. Mas antes, precisava atrair o caçador, precisava de uma isca. 

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteWo Geschichten leben. Entdecke jetzt