CAPÍTULO 26 - DE ELK A ZANTYR

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Saímos todos antes das primeiras luzes da aurora. Gudruk tomara para si a missão de trazer os tios até a segurança do Capítulo, enquanto um pelotão dos Lagartos liderado pelo Capitão Von Reynes seguiu em direção a Mauersee. Ninguém entendeu muito bem a minha decisão de percorrer o longo trecho entre as florestas de Elk e Zantyr sem uma montaria. Meu plano consistia em usar a rede de portos clandestinos do Capitão Moreau, me levando até Elblag. Em seguida, seguiria pelas rotas secundárias que ligavam Elblag a Zantyr. Um cavalo seria um estorvo nos caminhos acidentados da rota paralela. Os dias corriam rápido e o tempo não estava a meu favor. Me despedi de todos e segui pela floresta até o porto fluvial de Bartenstein, onde a Condessa me esperava.


Seguimos sem maiores contratempos pelo rio Alle, até o ponto mais próximo do rio Passarge. De lá segui até a passagem norte de Elblag procurando me distanciar de todas as estradas conhecidas pelos Teutões. Ao final do segundo dia de viagem adentrei a misteriosa floresta de Zantyr. Um instinto feroz e urgente guiava-me até meus amigos.O mesmo instinto me fez procurar o alto das árvores. Na primeira noite me acomodei no alto de um carvalho ajeitando-me entre seus galhos. Apesar do cansaço extremo não tive tempo de fechar os olhos. Em pouco tempo, na trilha da floresta mais abaixo, percebi o que parecia ser uma patrulha passar sob mim. Eram assustadores em seus estranhos trajes de pele imitando lobos. Parecia ser um hábito comum nas tribos locais inspirar-se em animais que julgavam sagrados para intimidarem seus oponentes, ou de alguma maneira absorver seu poder. Resolvi segui-los mantendo uma distância segura. Saltava silenciosamente de uma árvore para outra.Os homens eram rastreadores habilidosos, farejavam o ar em permanente estado de alerta. Perscrutavam o chão em busca de rastros, examinando cada moita amassada ou galho quebrado. Não pareciam estar caçando, pelo menos não algo para comer. Parecia mais ser uma patrulha de batedores, vasculhando seu território em busca de inimigos potenciais. Vez ou outra se voltavam em minha direção. Pareciam pressentir a minha presença, mas sem uma certeza absoluta prosseguiam no seu caminho. Ficamos assim por um longo tempo, íamos cada vez mais fundo na floresta que assumia uma característica única. Zantyr era muito diferente das florestas de Elk e Alle. Parecia ser muito velha, o ar era frio e seco, não havia o confortável forro de turfas e musgos no chão. Era uma floresta antiga, composta de imensas árvores retorcidas e cobertas de barbas de velho. Seus troncos eram tão grossos que podiam ser habitados. Ao pensar nisso, parei imediatamente de segui-los, percebi numa das grandes árvores à frente, luzes em buracos nos troncos. E então percebi que aquele povo fazia das arvores sua morada.


Me aproximei com cuidado, circundando o que parecia ser a entrada da aldeia. Um grande pátio de terra batida era iluminado por uma série de fogueiras. Ele antecedia uma enorme choupana que devia ser o centro nervoso do lugar. Havia uma grande movimentação de pessoas, parecia algum tipo de comemoração, me aproximei curioso e pude notar qual era o motivo de tanta agitação. Preso a um suporte de pesados troncos e próximo à grande fogueira central, um homem se contorcia tentando escapar. Ele parecia indignado enquanto ouvia o líder da tribo falando para a multidão à sua frente. Cerrei os olhos e me concentrei na pessoa presa e então eu reconheci o condenado, o pânico tomou conta de mim. Era Darik ali amarrado e lutando pela vida, definitivamente não era um festejo, era uma execução.

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteWhere stories live. Discover now