CAPÍTULO 45 - MARIELLE E O CAPÍTULO

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Abracei-a com todas as minhas forças, e no impacto do encontro perdemos o fôlego. Beijamo-nos sôfrega e profundamente. Não podia acreditar, meu coração saía pela boca. A felicidade e o alívio eram insuportáveis. Beijei sua testa, suas bochechas, seu nariz, seus olhos e novamente a boca. Acho que não pararia mais, se não fossemos interrompidos pelo grito emocionado do general Bazynski.

- Filha!

Marielle ouviu a voz do pai e correu ao seu encontro. Foi recebida por outro abraço sufocante.

- Oh minha amada, meu tesouro...como...como senti...s....! O homem não conseguiu concluir a frase. Caiu num pranto convulsivo de alívio e felicidade.

Assistia extasiado o reencontro, e por um instante me esqueci do misterioso homem na névoa. Voltei meus olhos para onde ela havia surgido, mas não havia mais nada, nem o homem nem a neblina brilhante estavam mais lá.

- Estou bem pai, por favor se acalme, onde....onde está mamãe?

- Escondida em algum lugar além de Wistotempil. Concordamos que aqui não é um local seguro nem para ela nem para ninguém que não esteja pronto para a guerra!

- Mas..., mas como chegou aqui? Quer dizer onde estava, o que aconteceu.......e como chegou até aqui? Questionava Jan enquanto eu me aproximava.

- Melhor deixarmos isso para depois general, vamos entrar, a neve está engrossando!

Subimos até a sala de comando no segundo piso.

Lá ainda estavam Zorn, Gudruk e Zatik. Zorn calou-se e empalideceu no exato momento em que pousou os olhos em Marielle. Confesso que fiquei muito contrariado com a alegria efusiva dela ao vê-lo.

- Iordan? Mas...o que...como! Ambos se abraçaram fortemente, e isso só alimentou ainda mais a chama do ciúme que ardia em mim.

- Marielle minha...Marielle você está aqui. Sã e salva, você está aqui e...! O magrelo não conseguia completar uma frase, ficaram uma eternidade juntos, ali, naquele abraço. Até que não aguentei e resolvi interrompê-los.

- Hã, Zorn por favor, Marielle precisa de algum espaço. Precisamos saber o que aconteceu!

O sujeitinho me olhou contrariado, mas cedeu. Olhou para o general Bazynski que ainda confuso olhava-os com reprovação. Zorn olhou-me com o rosto afogueado e uma raiva incontida, sorri vitorioso enquanto devolvia o olhar na mesma intensidade. Após algum tempo e com os ânimos mais abrandados, sentamo-nos à mesa.

- Filha, você estava perdida em algum lugar da floresta de Zantyr, um lugar inóspito e muito perigoso. E agora está aqui, conte-nos o que aconteceu?

- Não sei se conseguirei papai. Sinceramente não sei se acreditarão em mim. Nem eu mesmo acredito em tudo que aconteceu! E falando isso, Marielle olhou através do pai e para além das paredes. Parecia ter ido para um lugar distante e irreal. Parecia estar sonhando de olhos abertos.

Os dias que se seguiram em Zantyr foram agradáveis, alegres e ao mesmo tempo cansativos. Era um treinamento, definitivamente um treinamento, concluiu Marielle. Janus não economizava seus conhecimentos sobre plantas, exercícios de tiro e estratégias de ataque e fuga. Tinha uma urgência em passar o máximo de conhecimento a ela, mas sem causar-lhe esgotamento. Nos intervalos, tinham conversas amenas e superficiais. O homem era um mestre na arte de ocultar sua origem e seus objetivos. No final da tarde de um dia incomumente belo para aquela época do ano, ele comunicou à Marielle que a conduziria em segurança até seu pai.

- Ao meu pai, mas como pode saber onde ele está agora?

- Falando com sinceridade, não sei de seu paradeiro atual. Mas tenho suspeitas bastante fundamentadas! Respondeu Janus, reticente.

Arrumaram as tralhas de viagem e seguiram por uma pequena trilha que começava atrás da cabana. Marielle não havia reparado nela até aquele dia. Conformada, pensou consigo mesma.

"Mais um dos enigmas desse homem, e que jamais serão esclarecidos!"

A neblina costumeira envolvia as árvores, enquanto Janus e Marielle caminhavam silenciosos. Marielle aproveitou as horas de silencio e a paisagem bucólica para acalmar a mente. Caminharam por um longo tempo, o homem usava o cajado como apoio e o batia de uma forma cadenciada, em sincronia com seus passos. A neblina foi se tornando um nevoeiro denso que limitava a visão a menos de dez passos à frente. Mesmo assim, ele parecia saber bem para onde estava indo. Marielle não teve muita certeza a partir daquele ponto, mas a névoa começou a brilhar e assumir tons de azul, dourado e prata num caleidoscópio etéreo e inebriante. Ela começou a sentir o conhecido amortecimento enquanto a forte luz que ia do azul ao dourado impregnava a neblina. Mais uma vez o insondável apanhou Marielle de surpresa, emudecendo-a diante da estranha magia que orbitava aquele homem. Se sentia perdida e impotente diante dos estranhos sortilégios que Janus invocava e regia. Foi se sentindo sonolenta, temia cair em um sono letárgico a qualquer momento, mas isso não aconteceu. Janus diminuiu o ritmo e foi ficando para trás. Marielle não conseguiu protestar, se sentia cansada e só pensava em seguir em frente, sua vida parecia depender disso. E então um enorme pátio surgiu à sua frente, terminava no pórtico de um grande palacete. Ela não conhecia o lugar, mas conhecia bem o jovem que corria desabalado em sua direção. Ela voltou-se uma última vez para a neblina, que agora estava reduzida a um túnel que ia se fechando. Ao longe, Janus acenava se despedindo.

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteWhere stories live. Discover now