CAPÍTULO 6 - RAYD E NOHRA

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A sala de jantar do salão principal era um detalhe à parte. Ficava no terceiro e último piso do palacete, o assoalho era de madeira, lambris escuros e brilhantes que mais pareciam um espelho em tom amarronzado. Finíssimos tapetes com imagens de batalhas, bailes ou simplesmente florestas com flores e animais, estavam estrategicamente distribuídos sobre ele. Uma mesa de madeira longa, escura e toda trabalhada, reinava imponente no centro do ambiente. Duas lareiras, cercadas de poltronas e pequenas mesas, aqueciam e deixavam tudo ainda mais aconchegante. Os pratos lindíssimos tinham motivos prussianos emoldurados por fios de ouro. Os talheres de prata e as taças de cristal complementavam o cenário que me deixou embevecido. Tão surpreso estava que não resisti, e questionei o General Jan.

- Caro General, como conseguiram construir tão bela e fortificada estrutura, e ainda com todos os requintes e confortos?

- Sim meu caro, é realmente uma obra formidável, mas sua construção data de muitos séculos. Um projeto secreto da resistência que se iniciou quase ao mesmo tempo que a invasão do império Teutônico! E complementou.

- Os nossos antecessores na Rebelião Prussiana não viam razão em levarmos uma vida quase monástica, espartana eu diria, apenas por estarmos em guerra. Todo guerreiro precisa de um merecido descanso, e por que não, desfrutando de conforto e boa comida! Respondeu com um sorriso sem graça, a tristeza e preocupação embotaram irremediavelmente o seu entusiasmo natural pela vida. Compreendi e me calei. Estava faminto.

O jantar teve vários pratos exóticos, novos para o meu paladar quase virgem. Gansos selvagens assados com uma crosta dourada e recheados, eram acompanhados de raízes e vegetais desconhecidos, sua apresentação enchia os olhos e torturava o estômago. Mas o ponto alto foi mesmo a carne dos famosos auroques do norte, mergulhada em um molho cremoso e levemente adocicado. Servido com os prestigiados cogumelos e trufas do Brandenburgo era um acepipe inigualável.

Após o jantar, saí para caminhar pela varanda que circundava todo o terceiro piso. Tinha uma bela vista da floresta em todas as direções, mas preferi a parte sul que dava para um pequeno vale descampado. Fiquei ali um longo tempo, a brisa gelada e a vista aconchegante acalmavam meu espírito. Marielle não saía dos meus pensamentos. Fui despertado pela voz suave e familiar de Nohra Marie.

- Pensativo Rayd?

- Olá Nohra, sim bastante, muitas decisões a tomar. Estou aguardando a definição dos meus aposentos para ir repousar essa carcaça! Respondi

Durante o jantar eu já tinha reparado em Nohra. Vestia um belo vestido de camurça marrom, com detalhes em couro cru. A combinação de cores deixava-a ainda mais diáfana. A pele leitosa e perfeita na altura dos seios estava particularmente reveladora. Ela parecia ter percebido os meus olhares e retribuiu-os com sorrisos e pequenos acenos. Com rubor nas faces voltei-me para o prato e não a olhei novamente. Onde diabos eu estava com a cabeça afinal, pensei. E agora ela estava ali bem próxima de mim, sem perceber, comecei a tremer.

- Bela noite não? Disse chegando mais perto.

- Sim bela e calma, o que é bom para quebrar o ritmo alucinante das últimas que tivemos! Respondi tentando soar divertido.

- Estava somente pensando nas suas decisões, ou reservou um pouco de seus pensamentos para a enfermeira? Perguntou com um sorriso.

- Sim com toda a certeza, Marielle não me sai da cabeça. Esteja onde estiver espero que não esteja ferida ou pior....! Respondi.

Uma estranha sombra transpassou os olhos verdes da moça, sua expressão se alterou.

- Será que ela merece tanta preocupação assim? Respondeu.

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum