CAPÍTULO 19 - REI CASEMIRO IV, O JAGUELÃO

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Vilnius foi para mim uma bela surpresa. Era linda, imensa e bem estruturada. O rio Neris dividia a capital em duas partes, e, uma grande ponte de pedra as unia novamente. No final dela o majestoso castelo de Gediminas, morada de todos os Grão-Duques da Lituânia e agora também do rei Casemiro. Para mim, que só conhecia Balga, não conseguia conceber que existisse nada maior que a cidadela. Olhava tudo em êxtase, enquanto era ciceroneado pelo general Bazynski.

Desembarcamos em um pequeno porto esculpido na pedra da colina encimada pelo castelo. Uma grande escadaria ia do rio até a entrada da muralha circular de pedras lavradas, que protegia todo o complexo. A estátua em bronze do Grão-Duque Gediminas e dois torreões repletos de soldados fizeram a nossa recepção. Fomos conduzidos à presença do Rei Casemiro na imensa nave do salão principal. Ele nos aguardava em seu trono.

Percebemos ter interrompido algo importante

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Percebemos ter interrompido algo importante. Menestréis, bobos e equilibristas nos olhavam curiosos pois haviam recebido de última hora, a ordem de parar os espetáculos, e nós éramos o motivo. Uma pequena multidão de pessoas vestidas com roupas luxuosas, a maioria segurando belas taças douradas ou canecos de fina porcelana olhava-nos com desdém e reprovação. O próprio Rei Jaguelão não se levantou, mas mesmo sentado, percebia-se que era um homem alto e esguio. O rosto anguloso e pálido era emoldurado por uma barba muito negra e bem aparada. O nariz aquilino e as sobrancelhas grossas e escuras lhe davam um aspecto ao mesmo tempo distinto e intimidador.

- Longa vida rei Casemiro! Nós, vossos humildes servos, o saudamos! Disse o capitão Jonas enquanto se curvava. Seguimos seu exemplo.

- E a que devo tão inesperada audiência capitão!?

– Sabeis interromper uma importante comemoração? O homem falou como uma voz grave e poderosa enquanto estendia a mão de longos dedos pelo salão. Em cada um deles um grande e pesado anel.

- Sentimos interromper vossa comemoração rei Casemiro, e sentimos ainda mais pois o assunto que aqui nos traz é de uma gravidade que eclipsará qualquer comemoração! Disse o General Bazynski tomando a palavra com sua costumeira retórica eloquente.

- E quem sois vós caro.....? O homem tornou curioso.

- Bazynski vossa majestade!

– General Jan Bazynski!

Ao ouvir aquilo, o homem curvou-se lentamente à frente e começou a coçar a ponta do queixo. Em seguida, levantou-se e desceu a escada que separava o trono do piso do salão, estudando-nos à cada degrau. O homem usava um belo traje com inegável pompa militar. Sobre os ombros um enorme manto de veludo azul salpicado com os brasões da dinastia Jaguelônica. Parou exatamente em frente ao general, examinou-o de cima a baixo sem a menor cerimônia e exclamou com indisfarçável ironia.

- General Jan Bazynski, por certo! Tornou o rei. – Líder inconteste da Rebelião Prussiana!

- Precisamente majestade! Disse Jan sem se abalar.

O rei, com um gesto, chamou um homem a sua direita, e com ele trocou algumas palavras. Em seguida, ele sumiu por uma das naves colaterais.

- Aquele é o principal conselheiro do rei aqui na Lituânia, o que chamam de primeiro-ministro! Me esclareceu DeKitnow.

O rei acompanhou o homem sumir entre as colunas e então voltou-se para o General.

- Se não estou enganado, recebemos de vossa mercê diversas missivas assinadas e com o selo de seu, digamos assim, governo paralelo. A famosa Resistência Prussiana!

- Sim majestade, nem todas escritas de próprio punho, mas todas por mim assinadas!

Ouvindo isso, ele fez um segundo gesto e um valete aproximou-se. Trocaram algumas palavras sussurradas e o rapaz também desapareceu entre os convidados. Voltou rapidamente trazendo uma pequena mesa com papel e tinteiro. Colocou tudo em frente ao general, que confuso voltou o olhar para o rei.

- Escreva algo General! Disse apontando para o papel.

- Perdão vossa majestade, o que disse?

- Se vós sois quem dizeis ser, e escrevestes as tais cartas, pois então que prove. Quero a sua caligrafia e assinatura nesse papel! Ordenou o Rei.

Observando a tudo, fiquei impressionado com a perspicácia do Grão Duque, ou Rei, ou fosse lá o que fosse. Aquele homem tinha uma mente aguçada e em contínua prontidão, não à toa ocupava a posição que ocupava. Não à toa governava dois reinos tão habilmente.

Mestre Bazynski inabalável escreveu um breve texto e assinou-o, batendo convictamente a pena sobre a mesa ao terminar. O rei puxou o papel, e num sorriso indecifrável voltou ao seu trono. O ministro voltou algum tempo depois, com as tão aguardadas cartas. Ele postou-se ao lado do trono e ambos se puseram a comparar as caligrafias e assinaturas. A expressão de Casemiro foi de concentrada a descontraída em questão de pouco tempo. Ele então levantou-se e falou para nós e para todos os presentes.

- General Jan Bazynski, gostaria de em nome do Grão-Ducado da Lituânia dar-vos as nossas boas-vindas. A vós e a vossos companheiros de jornada!

No mesmo instante uma salva de palmas e uma série de urras dissiparam todo o peso do ambiente.

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteWhere stories live. Discover now