As buscas se mostraram infrutíferas, jamais alguém ouviu falar dos Kovach em Tórun. Perseguíamos fantasmas de um passado que nunca existiu. Isso sinceramente não me surpreendia, pois a cidade, por mais bela e acolhedora que fosse, não me despertava qualquer resquício de nostalgia. Uma sensação ruim começou a tomar conta de mim. Me sentia cansado, confuso e vazio. Procurar minha mãe era mais penoso que todas as batalhas que havia enfrentado. Eu já não me reconhecia, meu vigor físico e entusiasmo se desvaneciam na tristeza de não ter respostas. E o pior, o que tinha de mais valioso em toda minha vida começava a me faltar, a memória. As lembranças do passado longínquo não me vinham e as do passado recente pareciam embotadas. Marielle aturdida com a minha súbita mudança de comportamento, interpelou Tia Martha. Deitado em meu quarto podia ouvi-las discutindo num tom de voz ríspido e até então desconhecido entre elas. Se digladiaram por horas, de súbito, ficaram em silêncio e em seguida Martha abriu lentamente a porta do quarto.
- Rayd meu querido, posso lhe falar? Disse ela tímida na fresta da porta.
- Oh tia, por favor, aproxime-se, não me sinto bem com tudo isso, queria me descul.....! Ela não me deixou terminar.
- Oh meu querido, eu, eu é que peço perdão. Me perdoe por ter que esconder isso de você, mas, sabes eu fui avisada e....!
- Do que estais falando tia? Desculpe estou confuso, está tudo...! Martha amparou gentilmente minhas bochechas em suas mãos, me olhou firmemente e falou.
- Sinto que devo falar, eu mesma não suporto mais a carga desse segredo. Mas temo que o que vou lhe contar agora, mude para sempre nossas vidas!
Parei aturdido e esperei, era tudo que podia fazer.
- Eu...., eu sou...., eu sou a sua mãe! Disse ela num desabafo aliviado enquanto os olhos se inundavam.
- Como...co.....! Tentei responder.
- Eu sou a sua mãe, Mythra Kovach não existe, nem nunca existiu. Eu menti, eu sei que foi errado, mas eu precisei, por mais contraditório que isso possa parecer, eu precisei. E agora devo sofrer as consequências desse ato. Ou pior ainda, talvez assista você sofrer!
- E como, por que, como isso tudo....?
- Acalma vosso coração meu filho, meu amado e querido filho. Saberás de tudo agora, mas antes chamemos Marielle. Ela deve saber de tudo também, e não sei se terei forças para repetir uma história tão inimaginável. Marielle entrou no quarto com uma expressão ansiosa, mas nada falou. Apenas sentou-se e ouviu, assim como eu, apenas ouviu e ouviu.
Nada do que tia Martha falou parecia possível, mas, depois de tudo que passamos, nada parecia impossível. Tantos acontecimentos inexplicáveis povoaram nossas vidas e todos tão insondáveis e misticamente conectados, que a nós restava apenas nos apoiarmos no amor sincero que nos unia. Abracei minha mãe e senti seu coração batendo junto ao meu. Seríamos assim daquele momento em diante. Jamais me afastaria daquela mulher e do seu amor. Um alívio imenso invadiu meu espírito. Sentia-me novamente pleno e seguro para enfrentar os desafios que haviam pela frente.
Ficamos ali um longo tempo conversando, rindo e chorando todos os três numa celebração íntima e carinhosa. Mas o que era satisfação e plenitude se transformou em medo e agonia. Uma sensação bem conhecida tomou conta dos dedos do meu pé esquerdo. Um suave formigamento que foi aumentando aos poucos, tomando todo o meu corpo.
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Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O Necromante
FantasyO grande mal cresce a cada dia. O império teutônico mostra sua verdadeira face de tirania prendendo e torturando todos os supostos membros da rebelião prussiana. Com Marielle e Zorn desaparecidos, Rayd se une aos rebeldes que agora lutam desesperado...