CAPÍTULO 62 - MÃE

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As buscas se mostraram infrutíferas, jamais alguém ouviu falar dos Kovach em Tórun. Perseguíamos fantasmas de um passado que nunca existiu. Isso sinceramente não me surpreendia, pois a cidade, por mais bela e acolhedora que fosse, não me despertava qualquer resquício de nostalgia. Uma sensação ruim começou a tomar conta de mim. Me sentia cansado, confuso e vazio. Procurar minha mãe era mais penoso que todas as batalhas que havia enfrentado. Eu já não me reconhecia, meu vigor físico e entusiasmo se desvaneciam na tristeza de não ter respostas. E o pior, o que tinha de mais valioso em toda minha vida começava a me faltar, a memória. As lembranças do passado longínquo não me vinham e as do passado recente pareciam embotadas. Marielle aturdida com a minha súbita mudança de comportamento, interpelou Tia Martha. Deitado em meu quarto podia ouvi-las discutindo num tom de voz ríspido e até então desconhecido entre elas. Se digladiaram por horas, de súbito, ficaram em silêncio e em seguida Martha abriu lentamente a porta do quarto.

- Rayd meu querido, posso lhe falar? Disse ela tímida na fresta da porta.

- Oh tia, por favor, aproxime-se, não me sinto bem com tudo isso, queria me descul.....! Ela não me deixou terminar.

- Oh meu querido, eu, eu é que peço perdão. Me perdoe por ter que esconder isso de você, mas, sabes eu fui avisada e....!

- Do que estais falando tia? Desculpe estou confuso, está tudo...! Martha amparou gentilmente minhas bochechas em suas mãos, me olhou firmemente e falou.

- Sinto que devo falar, eu mesma não suporto mais a carga desse segredo. Mas temo que o que vou lhe contar agora, mude para sempre nossas vidas!

Parei aturdido e esperei, era tudo que podia fazer.

- Eu...., eu sou...., eu sou a sua mãe! Disse ela num desabafo aliviado enquanto os olhos se inundavam.

- Como...co.....! Tentei responder.

- Eu sou a sua mãe, Mythra Kovach não existe, nem nunca existiu. Eu menti, eu sei que foi errado, mas eu precisei, por mais contraditório que isso possa parecer, eu precisei. E agora devo sofrer as consequências desse ato. Ou pior ainda, talvez assista você sofrer!

- E como, por que, como isso tudo....?

- Acalma vosso coração meu filho, meu amado e querido filho. Saberás de tudo agora, mas antes chamemos Marielle. Ela deve saber de tudo também, e não sei se terei forças para repetir uma história tão inimaginável. Marielle entrou no quarto com uma expressão ansiosa, mas nada falou. Apenas sentou-se e ouviu, assim como eu, apenas ouviu e ouviu.

Nada do que tia Martha falou parecia possível, mas, depois de tudo que passamos, nada parecia impossível. Tantos acontecimentos inexplicáveis povoaram nossas vidas e todos tão insondáveis e misticamente conectados, que a nós restava apenas nos apoiarmos no amor sincero que nos unia. Abracei minha mãe e senti seu coração batendo junto ao meu. Seríamos assim daquele momento em diante. Jamais me afastaria daquela mulher e do seu amor. Um alívio imenso invadiu meu espírito. Sentia-me novamente pleno e seguro para enfrentar os desafios que haviam pela frente.

Ficamos ali um longo tempo conversando, rindo e chorando todos os três numa celebração íntima e carinhosa. Mas o que era satisfação e plenitude se transformou em medo e agonia. Uma sensação bem conhecida tomou conta dos dedos do meu pé esquerdo. Um suave formigamento que foi aumentando aos poucos, tomando todo o meu corpo. 

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteOnde histórias criam vida. Descubra agora