CAPÍTULO 65 - A PRÚSSIA REAL

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Jan Bazynski nomeado regente da Prússia, se mudara com Avha para a residência oficial no castelo de Malbork. De tempos em tempos visitava Balga e despachava as demandas da região como novo Voivoda, Milos Gudruk, que comandava a reconstrução da cidadela. Em uma decisão conjunta e jamais esclarecida, ambos decidiram por manter Honeda do jeito que os canhões e a batalha o deixaram. Destroçado. Queriam o local intocado, sua imagem serviria de lembrança da vitória prussiana sobre os tempos de terror e opressão impostos pelo Império Teutônico. Suas ruínas ao longe na paisagem, eram como um grande esqueleto negro sussurrando a todos a vitória sobre o mal. Gudruk convidara os gêmeos a se juntarem ao exército, coisa que prontamente recusaram. Disciplina definitivamente não era o forte deles. Preferiram voltar para o conforto e a segurança de sua casa na floresta. Viveriam o resto de seus dias como sempre viveram, livres. Tempos depois, testemunhas disseram tê-los visto cavalgando em direção a Zantyr, mas nada pôde ser provado. Zorn agora era o responsável pelo hospital de Balga, nomeado pelo próprio Voivoda. O doutor se sentiu feliz e aliviado ao ter as suas verdadeiras atribuições restauradas. Ele se sentia pertencido àquele lugar fazendo o que gostava. Em dezenas de cartas, pediu ao amigo sarraceno uma série de livros e instrumentos que estavam sendo usados no distante oriente, e aplicava todos os recursos possíveis no bem-estar de seus pacientes. Desposara Nohra Marie, e ambos viviam felizes numa confortável residência próxima ao hospital.

As boas relações firmadas com o rei Casemiro se refletiram no comércio entre os reinos trazendo prosperidade para todos. A antiga Rebelião Prussiana que tinha a guerra como principal razão de sua existência, dera lugar a uma confederação de Voivodias que se uniram para alavancar cada vez mais as parcerias comerciais. As fronteiras e os corações da Prússia foram abertos a todos que viessem em paz e munidos de vitalidade e honestidade. Havia muito trabalho a ser feito e as possibilidades eram infinitas em uma terra livre. E foi nesse cenário que Marielle, no final do inverno, decidiu voltar para Balga e ficar com Martha. Ela não quis se assentar em Malbork junto de Jan e Avha e longe da sogra. Estava tranquila em relação aos pais, mas não tão segura em relação a Martha. E ela a recebeu como uma filha e juntas dividiram a pesada carga da viuvez. Não chorara a morte de Rayd como deveria, pois não sabia ao certo o que havia acontecido. Os acontecimentos daquela tarde pareciam um borrão em sua mente. O que queria agora era estar perto daquela que era o mais próximo de Rayd que ela poderia ter. Também queria se aquietar e cuidar de si, e da vida que agora nela brotava. Sim, toda a sua tristeza fora substituída pela alegria de um bebê que viria dali a alguns meses. Pediu a Zorn que fizesse o parto com todos os cuidados possíveis que a época permitia.

Ambas passavam os os dias juntas, conversando, costurando, cozinhando e supervisionando a reconstrução da ferraria. Uma homenagem a Aldo, e por que não, uma homenagem também a Rayd. Sentavam-se na varanda e apreciavam os belos finais de tarde de primavera. Uma primavera mágica e quente, que estendera um imenso tapete verde salpicado de flores de todas as cores nas colinas e pradarias. Olhavam tudo com uma expressão melancólica, mas feliz. Queriam poder dividir tudo aquilo com os dois ferreiros mais importantes da vida delas. E, de alguma maneira inexplicável, sentiam que estavam dividindo. Marielle acariciou a barriga e olhou para Martha, a sogra passou o braço por sobre os ombros da nora e com um sorriso enigmático pousou a mão sobre o ventre de Marielle.

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon