CAPÍTULO 32 - O ENCONTRO

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A corrente ia na direção oposta dos soldados, Marielle já esgotadausava os remos apenas como leme, guiando o barco para longe das margens. Desceu o rio por um longo tempo e adormeceu sem perceber. O roçar do casco da canoa nas pedras a despertou. O dia já ia claro, deslizara a noite toda pelo rio e agora estava em algum lugar da margem oposta,talvez a quilômetros de seus captores.Inspirou aliviada o ar da manhã, olhou em volta avaliando a paisagem e desceu do barco seguindo em direção à floresta. No rio estava muito exposta, não poderia em sã consciência permanecer ali.

A praia onde encalhara era feita de seixos redondos, de várias matizes.Ela apanhou alguns na mão e apreciou-os. Molhados, eram brilhantes e multifacetados, ela sorriu nostálgica lembrando-se dos seixos que se misturavam às areiasdas praias do Vístula. Lágrimas fugidias encharcaram seus olhos, secou-as rapidamente e não mais se permitiu sentir pena de si mesma e nem ser sentimental. Olhou em volta e avaliou friamente a situação. À sua frente altas colinas cobertas por uma densa floresta prenunciavam o rigor do caminho, não podia esperar mais, escolheu o melhor ponto e penetrouna floresta de Zantyr.

A escalada foi sofrida, ela chegou ao topo no início da tarde, que veio acompanhada de frio e neve. A paisagem pouco se alterara, muitas árvores e arbustos, alguns espinheiros e o frio que aumentava a cada passo.

"Preciso encontrar logo um abrigo, fazer uma fogueira e me aquecer! Mas, como, onde?" Pensou aflita.

Seguiu sem destino caminhando trôpega pela floresta já parcialmente coberta de neve, e foi assim até o início da noite. O vento gelado cobrava seu preço, roubando o calor de seu corpo e minando sua energia numa velocidade espantosa. Marielle, sem escolha, abrigou-se na raiz de uma imensa árvore na vã esperança de seu algoz gelado se abrandar. Permaneceu na proteção provisória sem saber por quanto tempo, tiritando descontroladamente. E então, em meio aos sons do vento e da floresta pode distinguir o que parecia ser um assobio.

A canção era alegre e ela se sentiu estranhamente atraída pelo reconfortante som. Caminhou na direção de onde vinha e descobriu espantada uma simpática cabana entre as árvores. Um homem descansava sentado em uma cadeira na pequena varanda da entrada. Estava entretido esculpindo em um pedaço de madeira, enquanto assobiava despreocupado a canção que ela ouvira. Ela ficou ali parada, oculta em uma moita de espinheiros enquanto apreciava a inacreditável visão. O sujeito que não se preocupava em ser visto em dado momento ficou em silêncio, em seguida olhou na direção dela. A jovem achou impossível, mas ele pareceu tê-la visto ou pressentido.

- Não encostes nesse arbusto minha cara, seus espinhos queimam como brasa!

"Como ele me enxergou aqui?" A jovem piscou várias vezes confusa enquanto se perguntava.

- Por favor se aproxime, vamos entrar, estou congelando aqui fora, assim como vossa mercê! Falou com serenidade. A jovem deu-se por vencida e saiu de seu esconderijo, tomando o cuidado de não o tocar.

- Como...como sabia que eu....!

-Queira entrar por favor e tenha o meu lar como seu! Ao ouvir a última frase e ser conduzida ao interior da cabana, Marielle sentiu um estranho e delicioso calor envolvê-la. Sentia-se bem, sentia-se salva.

O fogo crepitava na lareira aquecendo o interior da casa e um pequeno caldeirão que exalava o cheiro característico do goulach borbulhante em seu interior. Pedaços suculentos de carne flutuavam ao lado de grossas pastinacas no caldo vermelho, escuro e apetitoso. Marielle se sentiu tonta e foi imediatamente amparada pelo homem que a acomodou na cadeira em frente ao fogo. Apesar da estranheza da situação, ela não se sentia ameaçada, o estranho não media esforços para confortá-la. Em pouco tempo jantavam cada um uma tigela funda do belo ensopado com pão de sorgo. Marielle, aquecida e recuperada, saboreava cada colherada como se fosse a última. Só então lembrou-se de que mal trocara uma palavra com seu salvador, envergonhada descansou a colher e virou-se para o homem.

- Senhor, quero agradecer-lhe sinceramente, devo-lhe a vida! Disse num tom tímido.

- Não por isso minha jovem, fico grato que tenhas chegado a tempo! Disse num sorriso simpático e indecifrável.

"Tempo? Tempo para que?" Se perguntou.

O homem tinha um porte distinto, quase aristocrático. Apesar de ser praticamente um eremita, vestia um traje confortável e muito bem cortado. O rosto era arredondado e simpático, emoldurado por uma barba grisalha e bem aparada. Os cabelos, também grisalhos tinham entradas pronunciadas, mas que combinavam com ele conferindo-lhe um ar respeitoso. Seus olhos cor de mel completavam a figura possuidora de uma simpatia irresistível. Mas acima de tudo, o homem provocava nela a sensação de já conhecê-lo. Um deja-vu tão forte que deixou Marielle assustada. Pensou em perguntar-lhe sobre o vulto com a tocha na beira do rio, mas se deteve sem coragem. Decidiu então perguntar seu nome. Mas ele se adiantou.

- Qual a sua graça, minha querida?

- Ah sim que indelicadeza a minha, Marielle, Marielle Bazynski! Respondeu.

- Muito prazer minha cara, me chamo Janus, Janus Kovach!

A jovem ficou paralisada ao ouvir aquele nome. Sem reação, ficou ali estática enquanto o homem lhe estendia uma concha.

- Aceita mais goulach? Perguntou sorridente.

Rayd e a lua do caçador Volume 2 - O NecromanteOnde histórias criam vida. Descubra agora