Capítulo 124

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Acordo com a voz da aeromoça anunciando que estamos prestes a pousar no Aeroporto de Heathrow

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Acordo com a voz da aeromoça anunciando que estamos prestes a pousar no Aeroporto de Heathrow. Depois de quase 10h de viagem e um ano em turnê, tudo o que eu mais quero é chegar em casa e cair na cama, à fim de ter algum descanso.

Embora o fato de estar de volta nunca me deixe verdadeiramente ter algum descanso.

São lembranças demais, arrependimentos demais.

Me ajeito na poltrona e travo o cinto de segurança, como manda o protocolo. Viro a cabeça para o lado e vejo que Krystian e Tony continuam dormindo, assim como a maioria da equipe. Olho através da janela e percebo que o céu continua azul, apesar de já estar entardecendo. Meus pensamentos vão longe. Bem, nem tão longe assim.

Vão para a única pessoa em que se mantiveram nesses últimos sete anos.
Suspiro profundamente, observando a pista cada vez mais próxima. Meu coração se comprime dentro do peito, acuado, frustrado. Mesmo que eu esteja feliz ao realizar o meu sonho e também com o rumo que a minha vida tomou, não são raras as vezes em que me pego imaginando (exatamente como agora) em como as coisas teriam sido diferentes se ela tivesse me pedido para ficar ou se eu não tivesse tomado aquela decisão. Será que eu teria sido mais feliz?

O avião dá um solavanco, ouço os pneus raspando no asfalto e os freios rangendo. Mais um solavanco e, enfim, pousamos. A voz do piloto anuncia que estamos em solo britânico e deseja a todos um bom desembarque. O pessoal vai acordando aos poucos, incluindo os meus amigos e, de repente, Luca está ao meu lado. Ele diz:

– Urrea, vamos precisar aderir aquele esquema de segurança. Acabei de ser informado que o portão de desembarque está lotado.

– Tudo bem. – levanto, à fim de pegar a mala no compartimento – Vamos esperar todos saírem então?!

– Sim. Os seguranças já estão se posicionando, e logo poderemos deixar o aeroporto. A van está aguardando na entrada do prédio.

– Vão me levar direto para casa?

– Se você quiser, sem problemas.

– É tudo o que eu mais quero.

Luca dá um sorriso fechado e toca o meu ombro de maneira compreensiva. Nós trocamos olhares. As vezes tenho a sensação de que ele se culpa pelo o que aconteceu. Se teve alguém que me viu chegar ao fundo do poço, esse alguém foi ele.

Com a mala na mão, sento de qualquer jeito no braço da poltrona à espera de que todos os passageiros saiam. Tony e Krystian, também com suas bagagens, se aproximam.

– Preparado para o assédio das fãs, grande Urrea? – Krys brinca, dando-me uma cotovelada amigável no braço.

– Te pergunto o mesmo. As suas fãs também estão à espera.

– Elas querem ver o vocalista galã, não o produtor musical dele.

– E que elas continuem querendo só o cantor galã, porque o produtor musical é muito bem casado. – Tony se pronuncia, franzindo as sobrancelhas e erguendo a mão esquerda, onde está a sua aliança – Comigo!

– Amor, não sei para que todo esse ciúme. Sabe que eu não curto o que elas querem me oferecer. Você é tudo o que eu quero e preciso, huh?!

Tony sorri e Krys também, tocando de leve a mão de seu marido. Nem parece que esses dois estão casados há quatro anos, e menos ainda que estão juntos a quase nove. Apesar de todo esse tempo, eles continuam muito apaixonados e eu entendo perfeitamente isso. Até demais.

Reencontrar os meus amigos em Nova York foi a melhor coisa que aconteceu. Admito que fiquei surpreso ao descobrir que Krystian havia conseguido uma bolsa de estudos na The Juilliard School, para cursar música.

Excelente pianista como é, não foi difícil. Ele se especializou em produção musical e eu não pensei duas vezes em chamá-lo para trabalhar comigo. O mesmo com Tony, que se formou em moda e agora é o meu figurinista.

No começo, o fato de ambos serem homossexuais e um casal desagradou algumas pessoas, mas eu fui enfático ao dizer para todos da minha equipe que se visse ou escutasse algum tipo de desrespeito para com os meus amigos, não toleraria. Sei que na nossa cultura a homossexualidade ainda é vista com certo preconceito, porém, a última coisa que eu vou permitir é que sejam preconceituosos.

Mais do que meus amigos da época de colégio, eles são excelentes profissionais, e se alguém não estiver confortável, bem, que arranje outro emprego.
Continuamos papeando até que Luca avisa que podemos sair.

Do corredor, posso ouvir as vozes exaltadas do outro lado do portão de desembarque. Assim que passamos as portas automáticas, flashes e mais flashes disparam em nossa direção e os gritos das fãs ecoam por todo o aeroporto. Ajeito os óculos escuros e vejo braços balançando no ar, garotas histéricas, uma comoção sem igual ao nosso redor.

Reconheço que as vezes ainda me impressiono com toda essa empolgação e devoção que as fãs têm comigo. É engraçado pensar que, através da minha voz e da paixão que eu tenho pela música, consegui tocar e ajudar tantas pessoas que, embora me sejam desconhecidas, são muito importantes para mim.

Eu sou grato a todos por me apoiarem e sempre faço o meu melhor para que tenham orgulho de serem os meus fãs.

Com a ajuda dos seguranças, percorremos o caminho formado até a saída onde a van da agência nos espera. Aceno para algumas pessoas e até pego os presentes que me são estendidos, mas a maioria dos pacotes é o manager que pega. Tony e Krystian estão bem atrás de mim, e tenho vontade de dar risada ao escutar vozes femininas chamando o nome do meu produtor musical.

Se soubessem que estão na mira de um certo estilista ciumento e psicótico, elas pensariam duas vezes antes de fazer isso. Mas é sempre assim. Tony apenas finge estar bravo, quando na verdade sabe perfeitamente que Krystian não tem olhos para outra pessoa que não seja ele. Vai entender.

Apesar do tumulto, conseguimos entrar na van sem maiores problemas. Aceno mais uma vez através da janela para alguns dos fãs que nos acompanharam e outros que aguardavam do lado de fora enquanto o motorista dá a partida, rumo a Londres.

Meus amigos engatam uma conversa qualquer com um dos staffs, porém, eu prefiro ficar de fora. Ninguém contesta, entendem que preciso desse tempo sozinho comigo mesmo. Respiro fundo, sentindo-me verdadeiramente esgotado. Apoio à cabeça no encosto do banco e fecho os olhos, mesmo sabendo que é em vão, pois tal ato não levará as recordações embora.

Já fiz esse trajeto milhares de vezes, mas o peso do passado está sempre comigo, em todas elas. Afinal, a última vez em que segurei a sua mão foi quando estávamos nessa mesma estrada, a caminho do aeroporto.

Naquela época, eu pensava que estava trilhando para um novo começo. E bem, realmente estava. O que não imaginava era que essa via também seria a rota para o fim. O nosso fim.

 O nosso fim

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𝑰𝒓𝒓𝒆𝒔𝒊𝒔𝒕𝒊́𝒗𝒆𝒍 𝒆 𝑰𝒏𝒆𝒗𝒊𝒕𝒂́𝒗𝒆𝒍 ❃ Noany ❃Onde as histórias ganham vida. Descobre agora