Any Gabrielly é uma brasileira que está trabalhando em Londres como professora do ensino médio. Com todas as dificuldades de cultura e por ser nova nesse emprego, tudo de que ela não precisava era ficar à fim de um garoto de 18 anos, que ainda por c...
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Manter um segredo é muito difícil e eu tenho vivido isso na pele durante as últimas semanas. Apesar de não estarmos nos encontrando com tanta frequência quanto antes por causa de suas aulas extracurriculares, olhar para Bailey sabendo que tenho algo extremamente importante para lhe contar faz a minha língua torcer dentro da boca.
Decidi esperar que a consulta se aproximasse para enfim revelar o que preciso, mas, a cada dia que passa, tem se tornado mais difícil conservar a minha boca fechada.
Também ando refletindo bastante, nos prós e nos contras, em tudo o que pode acontecer quando tivermos essa conversa. Ainda que eu não queira considerar o lado ruim, a verdade é que essa notícia mudará tudo, seja para o bem ou para o mal. O que, consequentemente, me deixa ainda mais nervosa.
Eu me pergunto como as pessoas conseguem guardar grandes segredos. Tipo, como raios os militares e políticos são capazes de manter aqueles segredos de Estado?
Eu mal estou conseguindo manter o meu (ok, não é bem um segredo já que eu pretendo contar), pior ainda seria ter que guardar algum que transformaria vidas para sempre.
Espera! O meu também não vai transformar vidas para sempre? Ai caramba!
– Professora?
Sou tirada dos meus devaneios pela voz de um dos alunos, que me observa como se eu fosse um bicho estranho. Devo ter ficado tão absorta em pensamentos, que provavelmente estava com cara de idiota. O que não é nenhuma novidade.
– O que foi?
– A música terminou.
Olho para o controle do som pendendo e quase caindo da minha mão e solto um suspiro. Me ajeito na cadeira, que agora decora o lado esquerdo do grande espelho, e lhe dou um sorriso cansado.
– Desculpa, eu não percebi.
– Está tudo bem, professora?
– Sim, sim. Não se preocupe, só estava distraída.
O garoto dá de ombros, mudando de assunto.
– Poderia dizer como estamos nos saindo?
– Ah, claro. Se organizem para recomeçar, preciso analisar a desenvoltura do grupo.
Direciono minha total atenção para os alunos no centro da sala, em suas posições e reinicio a música que ensaiamos para a apresentação.
Durante vários minutos, me dedico a instruir o pessoal em relação a coreografia e arrumar alguns pequenos detalhes. Pela primeira vez, fico tão entretida que o assunto que anda dominando a minha cabeça dá espaço para o que eu mais amo: a dança.
Porém, assim que os ponteiros do relógio na parede indicam que a aula terminou, a realidade vem à tona e, com ela, a decisão de que vou contar para Bailey esta noite.
