Nós nos encaramos e noto um relampejo de medo passar por seus olhos. Por mais que esteja "lidando bem" com tudo o que está acontecendo, sei que no fundo tem medo e eu não posso culpá-la. Se eu estivesse em seu lugar, com certeza já teria surtado. Só por receber aquela notícia, acho que teria provocado um escândalo.

Somente imaginar me causa calafrios.

– Seja qual for a sua decisão, saiba que estarei com você. – digo, tocando os seus cabelos - Pode contar comigo, independente para o que seja.

– Eu sei, amiga. Obrigada!

Sofya deita no meu colo e eu continuo lhe dando carinho, isso até um cheiro de queimado me fazer levantar num pulo e correr desesperadamente em direção ao fogão. 

Apesar do susto, consigo salvar a canja. Sirvo dois pratos, um para mim e outro mais caprichado para Soso, e me junto a ela no sofá novamente.

Jantamos assistindo a reprise de um programa chamado We Got Married e, pela primeira vez, compartilhando mais do que um momento tão comum para nós ou nossos problemas amorosos, que agora aparentam ser bobos.

Como há algum tempo não acontecia, nos deitamos juntas em sua cama e nos abraçamos. Algo que fazíamos muito quando estávamos mal e, mesmo que não seja necessariamente ruim o que se passa, sei que o que mais a Sofya precisa agora é de conforto e muito, muito cafuné.

Se o médico não tivesse restringido à sua dieta para apenas alimentos saudáveis, uma boa dose de porcarias doces também.

Na penumbra do seu quarto, permanecemos enroscadas uma a outra, à medida em que eu lhe faço carinho. Mesmo que não seja do nosso feitio, ficamos em silêncio.

– Você está feliz? – indago minutos depois, sem conter minha curiosidade. E, mais uma vez, já sabendo a resposta.

Ela permanece quieta, mas ouço o seu riso emocionado, seguido por lágrimas teimosas que escapam e molham a blusa do meu pijama. Seu coração está acelerado.

– Muito!

Eu sorrio, também emocionada. Se ela está feliz, eu estou feliz. É o que importa.

– E você, está feliz? – devolve a pergunta.

– Mais do que você possa imaginar.

– Sei que pode parecer sem sentido agora, mas, por que decidiu perdoar o Noah? Bom, eu sei que você o ama e isso já é motivo o bastante, só que...

– Apesar de muitas vezes eu não o enxergar dessa maneira, a verdade é que o Noah ainda é um garoto de dezoito anos. Como eu posso culpá-lo por errar? Todos nós erramos, especialmente quando somos jovens. Ele não fez por mal, apenas... Quis proteger a amizade dele com a pessoa que o ajudou no momento mais difícil e deu no que deu. Além disso, o próprio Joshua tinha um motivo forte para agir como agiu.

Deito de lado, ficando de frente para a minha amiga. Ela faz o mesmo.

– Eu seria muito cruel se não perdoasse os dois, e seria muito burra em deixar que isso me afastasse do Noah. Eu o amo demais e não poderia estar mais feliz por tê-lo perdoado e trazido de volta para a minha vida.

Manu me abraça e murmura:

– Você fez a escolha certa.

Eu sei que fiz. Nós duas fizemos as escolhas certas.

Acordo mais cedo que o de costume, encolhida no canto do colchão, enquanto minha amiga toma todo o espaço esparramada entre os lençóis e ronca como um velho.

Sentindo todos os ossos estalando, levanto e deixo que a minha amiga durma mais um pouco e sigo para o meu quarto, a fim de começar a me arrumar para o trabalho. 

𝑰𝒓𝒓𝒆𝒔𝒊𝒔𝒕𝒊́𝒗𝒆𝒍 𝒆 𝑰𝒏𝒆𝒗𝒊𝒕𝒂́𝒗𝒆𝒍 ❃ Noany ❃Onde as histórias ganham vida. Descobre agora