"Milady."

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As vestes pretas eram tão opacas quanto os olhos verdes que ele carregava, ao seu lado uma enorme cobra o acompanhava rastejando em minha direção, aperto a calça do Draco nos meus dedos trêmulos e apoio uma parte do rosto na sua panturrilha.

- Não a machuque! - Draco grita tentando mais uma vez tirar as mãos atadas com correntes, porém só conseguiu deixar seus pulsos mais arroxeados do que estavam. - Ela não tem nada a ver com o seu plano podre, deixe ela em paz!

O homem não tinha um nariz, mas sim duas fendas como uma cobra, além da sua língua bifurcada, que o deixava mais parecido com o animal ainda. Ele para diante de nós dois e aponta a sua varinha para o Draco. Me coloco no meio dos dois.

- Ele está machucado, se o ferir, ele acabará morrendo. - seus olhos frios não demonstram qualquer tipo de emoção. - por favor, pare.

Ele aponta a varinha na minha direção e fecho os olhos esperando a morte ou mais uma sessão de tortura, porém apenas escuto barulho de correntes caindo no chão.

Olho para trás e o Draco estava caído no chão sem forças para se erguer, ajoelho ao seu lado e tento levantar o seu corpo pesado de bruços no chão, meu corpo inteiro doía como nunca, parecia que eu havia quebrado todos os meus ossos.

Uma queimadura horrível no seu pescoço chamou a minha atenção, e as mãos me puxam sem força para si, me via abraçada com ele naquela sala mal iluminada e fria.

- Fique de pé, Leonoora. - a voz fria ordena.

Com muita dificuldade, me ponho de pé com o meu corpo dolorido.

- O que quer comigo? - Pergunto rude. - Também quer me matar? Devo admitir que não é o primeiro.

Ele sorri exibindo seus dentes brancos entre seus lábios finos, me analisando cuidadosamente.

- Não seja tão arisca com o seu próprio pai. - ironiza e minhas mãos trêmulas erguem um dedo em sua direção.

- Você não é o meu pai. - digo pausadamente.

- Não seja precipitada, querida, acha que um aborto e um bruxo medroso iria dar a luz à uma grande bruxa como você? - Ele levanta o meu rosto com a varinha que tem nas mãos. - faz magia sem sequer precisar de varinha, usa as próprias mãos.

- Havia me dito que ela era apenas a sua arma. - A voz de Snape me faz ter calafrios.

- Bom... era uma pequena surpresa. - diz sem tirar os olhos de mim.

- Você...e...e a Sara? - A voz de Lúcio ecoa me dando vontade de vomitar, Voldemort apenas virou a sua cabeça com uma cara de desprezo para o homem loiro no chão.

- É claro que não, eu não me relacionaria com um aborto, Sara Walter era patética, vivia às sombras da irmã gêmea, Leonoora Walter, a maior bruxa que eu já conheci, a sua mãe. - minha cabeça parece que vai explodir.

- Está me contando mentiras, não é o meu pai, minha mãe nunca disse ter irmã alguma. - grito e ele permanece sem expressão.

- É claro que não, invejava demais a Leonoora para isso, queria ser forte, mas a sua mãe? Ela já nasceu forte, ela era impressionante, era igualzinha a você, e assim que você nasceu, ela foi morta por um auror, você, querida, foi tirada de mim pela Sara Walter. - os olhos dele me fazem perder o fôlego que eu tinha.
- Sabe por quê? Porque com você ao meu lado não há quem seja inatingível, você é o fruto da única coisa que eu amei, você é o meu lado bom, querida, e é a única que pode ferir quem me destruiu naquela noite.

- Harry Potter. - falo em um sussurro e ele assente. - Não vai acontecer, está sozinho. - Draco se contorcia com a dor dos ferimentos do seu corpo.

- E se eu garantir que o seu namorado ficará bem? - sinto suas mãos frias nos meus ombros, suspiro preocupada e o meus olhos se enchem de lágrimas. - Devo chamá-la de Milady? - olho nos olhos claros e torturados do meu amor e assinto levemente.

- Narcisa, venha buscar o seu filho e mantenha-o vivo, ele deve ser o único dos Malfoy que conhece o significado da palavra lealdade. - olha para a Bellatrix. - vá vesti-la dignamente.

Saio de lá para um quarto onde tomo um dos banhos mais desconfortáveis da minha vida e um vestido preto envolve o meu corpo quase me matando sufocada.

- Você não leva jeito para isso. - Bellatrix fechava um espartilho puxando o laço e empurrando o meu corpo com os pés. - Eu preciso mesmo usar essa porcaria?

- Prefere andar nua? - pergunta rude finalmente conseguindo fechar o espartilho. - Prontinho, Milady. - cospe com uma feia para mim.

Me estende uma gargantilha que parecia uma cobra fina e prateada com olhos de rubi, nego com a cabeça, já não bastava aquela roupa ridícula.

- Era da sua mãezinha estúpida, o lorde das trevas fez questão de que você o tivesse. - cogito a possibilidade.

Ainda não tinha processado toda a informação, não sabia se acreditava no que o Voldemort me dizia, no fundo algo me dizia que era verdade, mas ainda me recusava a acreditar.

Decido por fim aceitar o maldito colar, o apertando no meu pescoço logo em seguida. Me vestir daquela maneira me incomodava, mas era o necessário para manter o Draco a salvo.

- Eu só queria estar dentro da mente do Lúcio e da Cissa, deve estar malucos por descobrir que a pequena vadia mestiça que eles proibiram o filhinho de namorar na verdade é a filha do lorde das trevas com a sua antiga vagabunda. - a olho bem nos olhos.

- Notei que aqui existe uma hierarquia, certo? Então, sua vadia, elas se mantêm! - seu rosto sorridente murcha. - Sugiro que ao se referir a mim, use termos mais educados, se não, eu não vou ser tão boazinha como você pensa que eu sou. - coloco o meu dedo no rosto debochado dela. - Eu já estou farta das suas piadinhas, e eu fisicamente odeio você, odeio mesmo, sei o que você fez, e você sabe disso. Portanto, mantenha a sua língua bem guardada antes que eu a pregue na sua testa!

Até eu mesma me assusto com as palavras rudes, eu não sou essa pessoa, eu não sou má, eu sou uma pessoa boa, meus pais me criaram para ser uma pessoa boa.

Eles não eram os meus pais. - uma voz maldosa surge nos meus pensamentos.

Eles me criaram e me deram amor, são os meus pais.

Parecia um conflito de personalidades dentro de mim, estava assustada e ao mesmo tempo determinada a usar o poder que tinha contra quem me machucou.

E isso me assustava mais ainda, não era capaz de me reconhecer no espelho.

BE EVIL || DRACO MALFOYOnde as histórias ganham vida. Descobre agora