Posso sentir o tempo parar enquanto meus olhos focam no azul cintilante que me dava arrepios, seu olhar era abalado e os olhos marejavam. Minha raiva se dissipa, dando lugar apenas à frustração imensa que parecia me sufocar.

- Por que não me contou? - sua boca não se move nem um centímetro. - Me ouviu falar da minha família, e não disse uma palavra sequer.

- eu sei.

- Vou te dar uma última chance de não ser um canalha, pelo menos não completamente. - suspiro. -  seu pai é um deles? - minha voz falha.

- eu não sei. - fala baixinho.

- Draco. - sua mentira me corta o coração e ele assente desviando o olhar com vergonha. - Você me viu chorar pela morte dos meus pais, me viu despedaçada, e não disse nada?

- se eu dissesse, você iria ficar assim, como está agora. - gargalho ironicamente o fazendo pular de susto.

- Nossa, é realmente uma atitude linda, Draco. Seu idiota infantil.

- Eu não queria que você soubesse dessas coisas sobre mim, eu sabia que iria me odiar, eu realmente gosto de você.

- Não muda que você é um mentiroso. Negócio da família, Draco? Sério? - minha vontade era atira-lo daquela torre.

Ele se aproxima de mim e suas mãos quentes apertam meu pulso, minha respiração falha com a proximidade repentina.

Acho que seria mais útil me jogar dessa torre.

- Você é um deles? - corto o silêncio mortal que tinha se instaurado por uns minutos.

- não.

- "Não" ou "ainda não"?

- ainda não. - um grunhido escapa dos seus lábios. - quer dizer, ele queria que eu fizesse a iniciação hoje, mas não estou pronto. - permaneço petrificada. - desde que me apaixonei por você, penso que não vou estar pronto nunca.

As lágrimas deixavam a minha visão turva e os soluços pareciam estrangular minha garganta.

- não aja como se suas escolhas fossem da minha conta.

- então por que me pergunta? - diz irônico, ficaria mais convincente sem as lágrimas. Suspiro pesadamente como resposta e seu lábio se contorce em um sorriso amarelo. - mesmo depois de tudo, ainda é apaixonada por mim.

Me calo, pois não conseguiria mentir, e falar a verdade seria doloroso demais, como eu pude me deixar envolver assim? E por ele? Eu só posso ser algum tipo de masoquista.

- eu só... não consigo enfrentar o meu pai.

- precisa tentar, Draco, não faça escolhas ruins apenas por elas parecerem mais fáceis. - lá estava eu, novamente, baixando a guarda para ele.

Estúpida.

Ele chorava como uma criança, parecia vulnerável, e como meu subconsciente afirmou: sou estúpida, essa sucessão de fatos me fez consola-lo, tiro os cabelos do seu rosto, colocando os fios para trás enquanto ele encosta na parede.

- não queria que me visse chorando.

- acho que posso aguentar, aliás, não é a primeira vez. - ele sorri, mas o medo não saiu dos seus olhos desde que estávamos com o pai dele. - só porque o seu pai é um monstro, não significa que você tenha que ser também.

- você não entende, Noora.

- não pode viver com medo de enfrenta-lo, sabe disso, não sabe?

- quando se trata dele, eu tenho medo o tempo todo.

Ele pega minha mão, me causando arrepios ao fazer semicírculos com seus dedos.

- Sobre o que vocês falaram? - pergunta ainda sem me olhar.

- não foi uma conversa muito longa, ele só queria que me afastasse de você, não me deu a oportunidade de explicar que você já havia feito estrago o suficiente sozinho. - lembro das coisas ruins que ele havia me dito, e da cena dele mais cedo com a Dafne, o que faz meu estômago revirar.

- Eu sei que sou um babaca. - ele sai da parede e me encara alisando meu rosto. - mas eu garanto que dessa vez, se você ficar comigo, prometo que você não sofrerá mais por minha causa. - me da um selinho rápido. - prometo que serei o melhor que eu posso ser, basta você me dar uma chance, não ligo se precisarei enfrentar meu pai e talvez ter a cabeça decepada.

- Draco... - adverti.

- basta você dizer que me perdoa. - amoleço, e o remorso que corroía meu corpo, parece se dissipar.

- tudo bem. - o perdoo e forço um sorriso.

Ainda estava tensa, e me sentia muito mal por tudo, mas não pude negar perdão a ele, isso eu não era capaz de fazer, quando se tratava dele, eu não conseguia ser firme nunca. Eu só esperava com todas as forças não ser pisoteada novamente.

Seus braços apertam meus ombros em um abraço e seu cheiro penetra minhas narinas, me fazendo esquecer da idiota que sou.

BE EVIL || DRACO MALFOYOnde as histórias ganham vida. Descobre agora