capítulo 35 -part of us

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A única que não me largava, nem quando eu queria. Minha odiada e amada Droga. A partir daquele momento eu me rendi completamente, já não existia mais nada a perder. Eu já havia perdido tudo e então, para completar, decidi perder a mim mesma.

Cheirei tanto que também perdi a noção do tempo e espaço. Uma hora eu estava deitada na cama, sentindo como se meu peito fosse explodir e eu estivesse finalmente morrendo. Outra eu estava na rua, esmurrando a porta de Kara e pedindo para ela voltar. Mas, na maioria das vezes, eu estava na companhia da cocaína.

Tudo se passava em lapsos de lucidez. Minha consciência ia e vinha, mas de uma coisa eu tinha absoluta certeza. Por mais que tentassem, eu não ficaria com outra mulher. Não poderia nem se eu quisesse.

Eu ainda amava a Kara, de corpo e alma. Até ousava dizer que ela possuía o meu coração, mas então eu me lembrava de que eu não o tinha mais. Ele havia sido completamente destruído, enfim. Afundei o nariz em mais uma carreira e abracei o esquecimento.

Era melhor não lembrar.

Era melhor não sentir.

Era melhor simplesmente me deixar levar.

Simplesmente deixar de existir.









(Kara)

Cada molécula do meu corpo gritava para eu voltar, mas eu não conseguiria viver com ela daquela forma. Vê-la usar a droga foi uma das coisas mais horríveis que presenciei na vida. Lena se transformara de mulher a um animal selvagem  bem na frente dos meus olhos. Foi desesperador ver a pessoa que eu amava se destruir deliberadamente, perdendo a dignidade e a razão para a droga.

Por mais que eu tentasse, eu não entendia o motivo de ela ter entrado para aquele mundo sombrio. E eu queria entender! Por que ela fazia aquilo? Por que ela sequer experimentou? O que a levou a se afundar na droga? O que a afligia tanto a ponto dela procurar a cocaína para aliviar a sua dor?

Mas, sempre que eu perguntava sobre os seus pesadelos ou tentava desvendar a dor por trás de seus olhos, Lena se fechava ainda mais. Parecia querer fugir das lembranças que a atormentavam, ainda que eu achasse o quanto seria bom para ela colocar seus tormentos para fora ela não se abria.

Há dois dias eu fizera do confortável sofá bege na sala de Lucy a minha morada. Ainda não tinha coragem de explicar minha situação para a minha mãe. E eu não queria que ela me visse daquele jeito, tão deprimida que mal conseguia me alimentar. Mal conseguia respirar sem sentir a dor esmagando o peito. Mal conseguia abrir os olhos inchados de tanto chorar.

Na verdade eu mal sabia o que de fato estava fazendo. Eu a amava muito, tanto que eu estava sofrendo por ela. Sofrendo demais. Porém eu sabia que, apesar das minhas tentativas e de todo o amor que tinha para oferecer, eu não seria o suficiente para fazê-la mudar de vida.

E eu não poderia continuar com ela se não estivesse livre das drogas. Não viveria com alguém, que por mais que eu amasse, que se destruía diariamente sem pensar como aquilo afetaria as pessoas ao seu redor.

Estávamos sozinhas na casa de Lucy, eu me escondia por lá enquanto não conseguia reprimir as minhas lágrimas. Naquele dia, porém, eu havia decidido parar. Aquele seria o último dia o qual eu me deixaria ser tomada pela tristeza. Eu só precisava de um tempo para assimilar as coisas, sentir o que tinha para sentir. E então seguir em frente. Não queria ficar sozinha imersa em meus pensamentos, era doloroso me lembrar dos nossos momentos juntas. Tanto os bons quanto os ruins.

Lucy me ajudava nesse ponto, mantinha-me distraída. Sempre tentando colocar um sorriso no meu rosto. Entretanto, naquele instante, o silêncio predominava o lugar. Sendo interrompido ocasionalmente por minhas fungadas, Só de saber que a minha amiga estava por perto me fazia me sentir melhor, a sua presença me passava confiança. E aquilo era o que eu mais precisava. Sentir-me confiante e forte para enfrentar minha situação. Até então eu não tinha forças sequer para me levantar daquele sofá, quem dirá enfrentar a Lena.

T h e  B e a s tWhere stories live. Discover now