capítulo 28

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(Lena)

Naquela madrugada de sexta-feira eu acordei com um grito de dor brotando na garganta. Sentei-me num rompante, chutando o lençol para longe do meu corpo pingando de suor. Espalmei o peito dolorido de tanto que o meu coração o espancava e forcei os meus pulmões a trabalharem. Eu estava me afogando em minhas próprias mágoas.

Quando enfim a minha visão clareou e a pressão esmagadora no peito se dissipou, tateei o colchão ao meu lado, Ali estava ela, encolhida no canto da cama. Só de saber que estava ao meu lado eu me senti mais leve e pude respirar melhor. Voltei a me deitar e me aproximei de sua figura. Mal conseguia enxergar no breu, mas ouvi um farfalhar e notei o seu corpo trêmulo.

— Kara? — minha voz saiu arranhada pela falta de uso. Levei uma mão até suas costas e as afaguei, sentindo os músculos se retesarem ao meu toque, Sem saber o que estava acontecendo eu me debrucei e acendi o abajur, a luz banhou o seu belo rosto por onde lágrimas deixavam rastros. Ela gemeu com a claridade repentina e se virou, fitando-me com olhos espremidos.

— Por que está chorando? — sussurrei, levando um dedo até sua face e resgatando uma gota que escorrera até o seu queixo.

— Por você... — murmurou de volta. Apoiou a cabeça em uma mão e trouxe a outra para o meu rosto. Senti a ponta de seus dedos deslizaram em minha pele molhada e então
percebi. Também havia lágrimas em meus olhos.

— Com o que sonha, Lena? Por que sofre tanto?

Cerrei as pálpebras e puxei o ar pelos dentes. Eu sabia que esse dia chegaria, mas esperava poder adiar ou evitar explicações, e por mais que eu quisesse me abrir com ela, por mais que eu confiasse nela, eu não conseguia. Eu não poderia reviver o passado, ainda não estava pronta para abrir antigas feridas.

Voltei a me sufocar. Submersa por uma onda de pânico eu tentava preencher os pulmões, mas o ar parecia não passar pelas vias respiratórias.

— Shiu... está tudo bem. — Fui acolhida por braços protetores e, ao descansar o rosto em seus seios cálidos, sorvi o seu aroma doce e suave. Enfim não me afogava mais.

— São figuras do passado... — disse com a voz abafada por sua pele quente

— À vezes aparecem para me atormentar. Ela parou com as carícias que fazia em meu cabelo e senti o seu peito se elevar em um suspiro.

— Quem é Lana? — perguntou baixinho, sem saber como aquele nome esmagava o meu coração.

— Como você soube desse nome? — Rosnei e afastei a cabeça de seu colo, jogando-me para trás a fim de olhar em seus olhos. Minha garganta se fechou e eu engoli em seco. Eu não estava preparada para aquilo, porra! Eu não queria me lembrar!

— V-você chama por ela... Nos pesadelos você chama por Lana. — Tropeçou nas palavras ao que seus olhos começaram a inundar. Agarrei meus cabelos ao vê-la chorar por minha causa. De novo. Droga!

— Ela me destruiu, Kara... — Segurei seus ombros e nivelei nossas cabeças para prender seu olhar angustiado ao meu. Tentei transmitir pelo olhar o que eu não conseguia dizer por palavras.

— Foi tão ruim assim? — perguntou, tocando em meu rosto com a palma da mão.
Comprimi os lábios e assenti brevemente.

— Você... — hesitou e inspirou fundo antes de tentar novamente

— Você a amava?
Desviei os olhos para o lado e os fixei em um ponto da parede.

— Mais do que deveria — assoprei, já sem forças para falar. kara ofegou e o som reverberou alto pelo quarto silencioso. Voltei minha atenção para ela, franzindo as sobrancelhas ao encontrá-la com uma expressão sombria.

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