capítulo 7

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Kara

O despertador tocou às sete e meia, me dando tempo o suficiente para me arrumar tranquilamente e tomar o café da manhã antes de começar a trabalhar. Tomei um banho morno, pois, mesmo no verão, o dia amanhecia com aquela brisa fria. Vesti meu uniforme que consistia em um vestidinho preto de manga curta com detalhe em viés branco e o avental preto. Como eu sou alta a saia batia um pouco mais de um palmo acima dos joelhos, exatamente igual ao vestido o qual minha chefe, tão indelicadamente, disse que era inapropriado. 

Eu queria ver a reação dela ao perceber esse detalhe. Ai dela se reclamasse! Não iria trabalhar que nem uma freira, Por mais que precisasse do emprego, não me sujeitaria a isso. Conseguiria outra coisa, o salário seria muito pior, eu sabia, mas eu não era obrigada à tortura! Tá, eu estava exagerando, só um pouco. Acordei de mal humor. 

— Bom dia — cumprimentei Marta que já estava na cozinha às oito horas. Devia chegar mais cedo para preparar o café da manhã da chefe. Ela, que estivera cortando fatias de queijo e os enrolando igual aos de peito de peru postos na travessa, parou o que estava fazendo e me inspecionou da cabeça aos pés. 

— Bom dia, kara! — Seu tom de voz parecia mais suave e em seus olhos notei aprovação. 

— Se alimente bem, pois o dia começa cedo e não é mole não! Por fora eu sorria, por dentro eu estava agitada e não via a hora da semana passar para ir para casa visitar minha mãe. Apoiei-me na grande ilha da cozinha e olhando para toda aquela opção de comida fiquei com água na boca e meu humor melhorou exponencialmente. Normalmente não tenho muita fome quando acordo, mas com tanta coisa gostosa para escolher, meu apetite se abriu. Como um buraco negro. 

— Obrigada, Marta. — Peguei um prato e saí colocando fatias de bolos, uma torrada quentinha junto com as fatias de queijo e blanquet de peru, passando cream cheese para completar. Preferi beber suco de melancia, do que leite ou café, e me sentei pronta para começar com a comilança. 

— Marta? — Esperei ter sua atenção para continuar a falar com a boca um pouco cheia, escondendo educadamente com a mão. 

— a senhorita Luthor já saiu para o trabalho? Vi os lábios dela se reprimindo enquanto negou com a cabeça. 

— Provavelmente não, mas não tenho certeza. Você terá que confirmar por si mesma. Só... — Hesitou, largando a faca na tábua, soltou um suspiro quase inaudível. 

— Tenha cuidado, Kara. Bata na porta antes. 

— Claro! — Uni as sobrancelhas, bebericando o suco para ajudar a engolir o pedaço do bolo que entalara na garganta. 

— É claro que irei me anunciar, Marta. — Faz bem, faz bem... Agora termine seu café, horas. — Encerrou o assunto e voltou aos seus afazeres. Não sabia o motivo, mas meu coração estava a mil por hora. Talvez fosse a ideia de poder encontrar Lena adormecida nua em sua cama, ou então, encontrá-la desperta e com a língua afiada para me atormentar. Ela poderia dormir vestida, é claro, mas a primeira coisa que me veio à cabeça foi ela sem roupas. Quase me dei um peteleco na testa para deixar de pensar coisas sem sentido, não tem porque eu querer vê-la pelada, seria constrangedor. 

Acabei de comer e escovei os dentes antes de buscar por meus utensílios de limpeza. Organizei tudo no carrinho e o levei até a outra ala da mansão, onde se encontravam os quartos. Deixaria as salas e banheiros por último. Estava passando pela sala de estar e adentrando o corredor que levaria às suítes quando me deparei com a escada em granito que dava para a suíte master e o escritório. Ponderei se seria uma boa ideia começar de cima e seguir para os demais aposentos no andar de baixo, e para mim parecia que sim. Até porque seria difícil carregar o carrinho escada acima, então melhor que fosse quando estivesse com os braços e pernas firmes no início do dia, do que cansados depois de arrumar os outros quartos. 

Como diziam: “Quem canta seus males espanta”, e a cena em que eu me deparava parecia mais como um conto de fadas às avessas. Eu me sentia como a Cinderela, mas estava na mansão da Fera. No entanto, ela não era nenhuma princesa enrustida, só havia a ogra mesmo. Talvez só pela beleza ela poderia ser comparada a uma princesa. Então, comecei a cantarolar para ver se minha situação melhorava. Arrastei o carrinho com muito custo, e meio atrapalhada. Estava com medo de deixar os utensílios caírem e, quando finalmente cheguei ao segundo andar, senti um frio no estômago. Havia uma energia estranha naquele lugar, algo que deixava minha pele formigando, como se eu estivesse sendo atraída. Como se eu fosse um ímã. Inspirando fundo, aprumei meu uniforme e caminhei até a grande e pesada porta de madeira que dava acesso ao quarto da srta insuportável. Eu não sabia naquele momento, mas já estava ferrada. Porque, eu havia me preparado psicologicamente para lidar com a fera libertina, mas me esqueci do essencial. Esqueci de preparar o coração. 

— Com licença, tem alguém aí? — disse contra a porta e bati três vezes consecutivas. Apurei os ouvidos, mas não podia ouvir nada do outro lado. Tentei pela segunda vez e, novamente, silêncio absoluto. Girei a maçaneta, minhas mãos inesperadamente trêmulas e o coração martelando contra as costelas. A porta estava destrancada, então suspirei em alívio. Ela não dormiria com ela aberta... 

Dei o primeiro passo e, assim que meus olhos se acostumaram com a pouca claridade devido às cortinas fechadas, engoli um grito de espanto. Sobre a cama havia três corpos nus.

 Sobre a cama havia três corpos nus

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