capítulo 17

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(Lena)

Ela estava doente e por minha culpa. Fechei as mãos em punho e esperei para ter certeza de que voltou para o seu aposento, só então sai.

O tempo estava fechado e chovia. segui até o carro no estacionamento. Poucos minutos depois cheguei à Lcorp e fui em direção a  minha sala, antes avisei sam para agendar minha viagem à sede em central city para o início de janeiro. Se eu não fosse logo até lá para a minha visita trimestral,meus pais provavelmente viriam de surpresa para National city  e ficaria até não sei quando em minha casa para matar a saudade. O que não era a verdade. A verdade era que gostavam de controlar a minha vida.

Conferi as horas quando dei por encerrado o meu dia na empresa, ainda era cedo, mas todos os assuntos pertinentes foram resolvidos. Resgatei o celular do bolso e liguei para jack, queria saber exatamente quais eram as pessoas que estavam na minha festinha privada na mansão.

— Fala, Luthor! — atendeu com sua fala mansa.
— jack, quero a lista ainda hoje.Ele sibilou do outro lado, sabendo muito bem do que eu estava falando.
— Pô, Lena, foi mal! Esqueci de enviar, estou encaminhando ainda hoje por email. Mas relaxa, foi tudo nos conformes, todos assinaram o acordo de não divulgação.

Soltei o ar que estava preso nos pulmões. Na sexta eu estava tão fora de mim que mal planejei as coisas direito, sorte que jack me conhece e sabia como organizar tudo do meu jeito, discretamente. No final das contas eu nem aproveitei direito as mulheres e tampouco os showzinhos rolando entre os convidados por todo o canto da casa. Estava consumindo a minha dor de forma solitária, me inebriando com as músicas e gemidos como plano de fundo enquanto eu me afundava cada vez mais na escuridão. Foi uma péssima ideia,e eu sabia disso.Poderia ter vazado alguma notícia, alguma foto. Eu poderia ter ferrado com a imagem da minha empresa. Tudo porque eu me deixei levar pela emoção e fantasmas do passado.

— Da próxima vez quero saber de tudo antes, não depois de já ter rolado!
Encerrei a ligação sabendo que em menos de um minuto receberia um alerta de novo email. Agora eu poderia voltar para casa mais tranquila, com uma única preocupação remanescente. Kara.

A chuva havia dado uma trégua, mas só de olhar para o céu negro em plena tarde eu sabia que não por muito tempo. Cheguei o mais rápido possível em casa depois de uma pequena passada na farmácia, encontrando o lugar em um breu total, Kara devia estar dormindo e com a folga de última hora de Marta não havia ninguém para ascender as luzes. Segui pelo corredor e parei em frente ao pequeno quarto, com as mãos ocupadas eu bati na porta com o meu cotovelo.

— Kara, sou eu. Deixe-me entrar.

Ouvi um resmungo do outro lado seguido por passos lentos. Quando seu rosto apareceu pela fresta eu não esperei, abri o restante da porta e entrei em seu aposento, largando as sacolas cheias de remédios em cima de sua cama antes de me virar para tocar seu rosto. Ela ardia em febre, estava com os cabelos grudados na face devido ao suor e com olheiras proeminentes.

— Droga, Kara! — Ela bambeou e seus olhos piscaram lentamente,pareciam desfocados. Precisei segurar sua cintura para mantê-la em pé.

—Você precisa abaixar sua temperatura, tome um banho frio. Eu esperarei do lado de fora.
— Água primeiro... — sussurrou ao tocar seus lábios ressecados.
A ajudei a se sentar na beirada do colchão e revirei uma das sacolas.
— Trouxe Gatorade, vai te hidratar melhor. — Desenrosquei a tampa e entreguei a garrafa para ela que bebeu até a metade do conteúdo.
— Obrigada, Lena. Acho melhor eu tomar mesmo aquele banho e então devo me sentir melhor. Tentou se levantar e percebi o grau de sua fraqueza quando vi suas pernas instáveis. Enlacei novamente a sua cintura, fazendo-a se apoiar em mim. Seu rosto se voltou para o meu, os grandes olhos azuis me examinavam com incerteza, mas não enxerguei medo neles.

— Está tudo bem, não te farei cair dessa vez.

[...]

A noite passou em um silêncio ensurdecedor, Kara não quis jantar e preferiu comer alguns biscoitos com chá. Fiz questão de vê-la tomar o antigripal.

Além dos comprimidos, eu havia comprado alguns xaropes,pastilhas e spray para garganta, descongestionante nasal, vitaminas e lenços.
Ela disse que ficaria bem, mas ainda assim não consegui dormir. Nem em condições normais eu conseguiria, os pesadelos estavam sempre a espreita velando minhas noites. Deitei-me no sofá da sala e passei a madrugada assistindo a TV, por isso, vi a primeira notícia do jornal da manhã alertando sobre o forte temporal e decretando estado de emergência. Mas eu não
precisava assistir ao noticiário para saber, a tempestade já havia chegado eu podia ouvir o uivo alto da ventania, as trovoadas com força, os estalos dos troncos das árvores se quebrando, o chiado das folhas como navalhas cortando o ar e as pancadas da chuva tão fortes que pareciam granito.Uma coisa era certa, estávamos presos aqui.

Levantei-me, passando bem longe dos vidros das portas e janelas que trepidavam de forma preocupante, e fui até a cozinha preparar o café. Montei dois sanduíches e algumas torradas, os levei na travessa junto com duas canecas de café fumegantes e um copo de suco de laranja até o pequeno aposento no fim do corredor. A porta estava entreaberta e não hesitei em
entrar.

— Bom dia, honey... — sussurrei para uma Kara adormecida e sentei-me na ponta da cama. Não achei que fosse acordar tão rápido, mas suas pálpebras se abriram e ao me encontrar do seu lado sorriu preguiçosamente.
— Eu ainda estou sonhando. — Voltou a fechar os olhos num suspiro.Coloquei a travessa na mesinha de cabeceira e levei uma das canecas
perto do seu rosto, a fim dela sentir o aroma e despertar.
— Não está sonhando, Kara.
Ao ouvir novamente a minha voz ela se sentou num rompante, quase derramando a bebida quente em cima de mim.
— Pelos deuses! — Tapou a boca com uma das mãos e encostou as costas na cabeceira, afastando-se.

— O que faz aqui?

Entreguei seu café como resposta e me inclinei para frente, pegando a minha caneca logo em seguida. Ela prendeu a respiração quando nossos rostos ficaram próximos e eu tive de reprimir um gemido quando a vi deslizando a língua pelos lábios enquanto me observava, atenta a cada movimento meu.

— Precisa se alimentar. — Levantei minha bebida em sua direção,incentivando a tomar o seu café da manhã antes de dar o meu primeiro gole.

— E não sairá desse quarto, você continua de repouso. Elevei as sobrancelhas para o seu nariz enrugado e lábios frisados, mas ela não fez nenhum comentário, então imaginei que estivesse de acordo.

Ainda não sabia o quanto ela poderia ser teimosa, e como uma mulher de aparência tão frágil e meiga, seria capaz de me por de joelhos.

T h e  B e a s tWhere stories live. Discover now