capítulo 30

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(Lena)

Ao vê-la atravessando a porta um soluço atormentado me escapou, as minhas pernas vacilaram e o som dos meus joelhos colidindo no chão se propagou pela sala em um baque surdo.

Ela foi embora, e tudo por culpa da maldita cocaína!

— Droga! — o grito saiu arranhando a garganta.

Agarrei com ódio os pacotinhos e pinos espalhados pelo piso, e então percorri trôpego o caminho até o banheiro da suíte. Com as vista nublada pelas lágrimas e o coração espancando dolorosamente o meu peito, eu despejei o conteúdo no vaso.

— Sua desgraçada! Eu odeio você, sua maldita!— berrei ao dar descarga, socando a alavanca repetidas vezes.

No entanto, tão logo o barulho do redemoinho da água rompeu e eu assisti a corrente levando a droga para o fundo, bateu-me um desespero. Tentei alcançar os saquinhos, enfiando a mão tardiamente no vaso.

A aflição do arrependimento me consumiu e, por mais que eu soubesse o quanto eu deveria deixar de vez aquela vida, eu me via presa nas garras dela, Aquela droga consumia tanto de mim que eu perdia a sanidade.

 Eu havia acabado de ver a pessoa que eu amava ir embora e aquilo me destruiu, mas a tortura de ficar sem a droga me corroia.

As dores eram incomparáveis e imensuráveis. Eu sofria por ambas, Kara e a Droga. Entretanto, só uma delas fragmentava a minha alma, Naquele lapso eu grunhi alto, lamentando as minhas perdas. Estava na hora de mudar, e para isso eu precisava de ajuda, Eu precisava da minha cura, mas ela não estava ali para me desfragmentar.

Não sei por quanto tempo permaneci ali prostrada. Tampouco sabia se eu apaguei ou estive acordada a todo instante.

O rosto pressionado no mármore frio do banheiro estava dormente e leves tremores repercutiam por todo o meu corpo. No entanto, a aflição que sentia antes havia desvanecido, e eu estava bem o bastante para me levantar sem vacilar.

Reunindo forças eu decidi fazer algo, em vez de continuar inerte e me deixar afundando na melancolia. Pesquei o celular no bolso da calça e liguei para Sam. Eu precisava de um plano, antes que eu me sucumbisse novamente à cocaína e colocasse tudo a perder.

A voz carregada de sono me cumprimentou do outro lado da linha, e eu fechei a expressão em uma careta. Deveria ser tarde da madrugada, mas eu não me importava. Sam um dia me prometeu que estaria ao meu lado pelo que fosse, e o momento de cobrar a promessa havia chegado.

— s-sam... — exalei abatida, andando de um lado para o outro

— Ela se foi. Eu não sei o que faço. O que eu faço?  Sam! — Soquei a parede do quarto, a frustração se alastrando assim como o choque de dor em minha mão.

— Lena? Calma! — disse mais desperta. Ouvi um farfalhar de lençol seguido por leves passos, e então o som de uma porta sendo fechada. 

—O que aconteceu?

Sorvi uma grande lufada de ar, abrindo e fechando os dedos doloridos da mão enquanto tentava me acalmar e organizar os pensamentos.

— A Kara descobriu antes que eu pudesse contar. Ela encontrou a droga Sam! — Esfreguei a testa, balançando a cabeça em negativa.

— Ela se foi. Kara foi embora e agora só consigo pensar na porra da droga! E eu joguei tudo fora, Sam. Eu quero parar, me ajuda. Me ajuda, por favor, antes que eu faça uma merda!

Terminei de falar ofegante, e os ruídos altos da minha respiração ressoando nos ouvidos abafaram a voz de Sam.

— Estou indo para aí. Não faça nada, ouviu? Fique no seu quarto até eu chegar.

T h e  B e a s tWhere stories live. Discover now