Capítulo 96

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ANTES DE LEREM LEIAM ISTO:

Resumidamente, para esclarecer dúvidas, o Calum é primo da Evelyn e do Liam. A Evelyn e o Liam são primos, sim. A Karen era prima da mãe da Evelyn, isso faz da Karen e do Liam primos da Evelyn, embora num grau diferente. Mas o Calum é filho da irmã da Karen, o que faz dele sobrinho da Karen! Espero ter esclarecido. Isto é uma família grande, eu sei, mas perguntem se tiverem dúvidas

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A mulher fechou a porta e rodou a chave, tendo a certeza que ninguém a iria abrir e interromper a nossa conversa. A sua mão um pouco mais envelhecida do que a achara da última vez, apontou para a cadeira do outro lado da mesa. Obedeci à sua ordem silenciosa e fitei o exterior da janela que se encontrava mesmo do meu lado direito. Lisboa escorrida ao longo daqueles vales, coroada por um castelo de histórias de encantar. Histórias, essas que pareciam tão distantes à minha, naquele momento.

Karen sentou-se à minha frente e pegou no bule branco, entornando o líquido quente nas duas chávenas que se encontravam sobre a madeira castanha escura. Vi-lhe as rugas da face calcarem na sua idade, e o stresse plantado nas raízes do seu cabelo. Da última vez que a vira, parecera-me tão serena e jovem, tão tranquila e feliz, que aquela imagem parecia-me totalmente irreal, ilusória.

“Porquê?” Foi tudo o que me saiu, num momento em que nem palavras nem gestos pareciam suficientes. Parecia que cada movimento nosso, cada solução, cada prova, eram apenas pretextos para uma nova investida da má sorte. Não que encontrar Karen tivesse sido mau, mas apenas tremendamente confuso e estranho. Havia tanta coisa que lhe queria perguntar, tantas questões que queria ver resolvidas e ela parecia demasiado cansada para me dar essas respostas. “O Liam é teu filho e ficou sozinho! Como é que foste capaz de lhe virar as costas depois do que aconteceu? O pai dele tinha acabado de morrer!” Atirei sem me aperceber da fúria com que jugava as minhas sentenças no ar.

“Como é que ele está?” A mulher questionou-me com um mero sorriso, empurrando a louça branca na minha direção e pegando na sua. Bebericou do seu chá enquanto esperava a minha incredulidade passar.

“Como é que és capaz de sorrir no meio de tudo isto? Tu fazes ideia do que tem acontecido?” Gritei empurrando a minha própria cadeira com os pés, pronta a erguer-me e tomar uma posição superior e propícia à libertação de toda a frustração que sentia.

“Evelyn” Chamou calmamente pousando a bebida de novo no sítio. Cruzou os dedos e pousou-os sobre as pernas cruzadas olhando o exterior. “Quando o Geoff morreu, eu senti-me perdida, devastada, mas mais do que isso, preocupada.”

“Preocupada com o quê? Tudo o que deverias ter-te preocupado era em cuidar do teu filho que-“

“O Liam era e é a minha preocupação.” Interrompeu-me, elevando um pouco o seu tom de voz e desviando, pela primeira vez, o olhar castanho chocolate tão caraterístico daquele lado da família, na direção do meu. Sustive a respiração por alguns momentos, como se a sua frase tivesse travado o oxigénio que existia dentro daquela sala. “Precisamente para proteger o Liam, é que eu tive de sair do país.”

“Para protege-lo? Porque é que todos pensam que nos protegem ao se afastarem?” Tornei a regressar ao meu tom de voz elevado, sentindo o ardor na garganta, consequência da amargura de uma raiva contida por muito tempo. “Tudo o que vocês fazem é deixar-nos a sentir sozinhos, excluídos, esquecidos, indefesos! O Zayn fez exatamente o mesmo comigo e olhar onde estou agora!”

“O Zayn deixou-te sozinha?” Karen questionou abrindo os olhos, chocada com a minha revelação.  Assenti, embora ainda me sentisse atordoada por ela não ter noção do que estava a acontecer em Inglaterra. “ E tu não sabes onde está?”

Save Yoυ  △ |h.s|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora