Capítulo 46

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O caminho até à enfermaria foi mais curto do que esperava e cedo perdi contacto com o rapaz que me carregara até aqui. No entanto, a sua figura manteve-se certa do meu lado enquanto a mulher, de cabelos louros e sardas salpicadas pelo rosto, me analisava a lesão. A dor começava lentamente a aliviar e sempre que a enfermeira apertava ligeiramente a zona dorida, parecia que aos poucos ia desaparecendo.

“Isto é apenas uma pequena entorse, querida.” Giselle informou-me com o seu sorriso meigo e afastou-se até ao armário da medicina. Deixei a mão poisar no braço da cadeira onde me haviam sentado e suspirei nervosamente. Não gostava daquele sítio, o cheiro da doença acudia-me, o pressentimento da dor incutia-se nas minhas emoções e eu não gostava disso. Muito menos quando era eu que estava a ser analisada.

“De-desculpa.” Ouvi-o pronunciar bem pertinho de mim e quando me voltei, Harry estava ajoelhado do meu lado. A sua mão quente, e muito maior que a minha, entrelaçou os seus dedos nos meus e eu senti um arrepio pela espinha acima. Existia um contraste tão grande entre as nossas temperaturas que me custava a crer que teríamos vindo do mesmo sítio. Ergui o sobrolho, demonstrando não saber ao que se referia. “Devia ter evitado isto, estava tão concentrado no jogo que nem dei conta que ele estava a ir na tua dir-“

“Harry” Interrompi-o colocando dois dedos por baixo do seu queixo, com a mão livre. Obriguei-o a encarar-me, já que ele havia baixado o rosto para não o fazer. Eu sabia que lhe custava pedir desculpas e que o seu orgulho era tão ou maior que o meu. Mas ele não deveria estar a pedir-me desculpas por um acidente, mas sim por toda a semana em que me tem evitado. “foi um acidente e eu estou bem.” Sorri-lhe meigamente tentando ver além do verde intenso e iluminado pelas luzes claras da enfermaria. Ficavam tão lindos daquela maneira, claros e quase transparentes. Quem me dera puder passar aquela barreira e ver o que me esconde.

“Tenho sido um idiota contigo e tu não mereces nada disso.” Ele deixou escapar num suspiro e se não soubesse que isso o ia afastar de novo, teria deixado a boca cair-me em espanto. Não percebi como é que ele tinha sido capaz de o dizer ou se estava apenas a tentar animar-me pela lesão, mas seja como for, soaram a pequenas setas que se me espetaram no peito recheadas se intensidade e anseio. Sentia a minha respiração acelerar ao repeti-las na minha cabeça vezes sem conta como uma pequena adolescente que coloca o mesmo cd mil vezes por dia.

“Aqui está.” A voz aguda da enfermeira captou de novo a nossa atenção antes de poder formular ma frase adequada para lhe responder. O que é suposto dizermos depois disto? “Vou-te dar esta pomada e vais pô-la todos os dias de manhã, à noite e depois do banho, está bem? Daqui a uns dias estás como nova.” A mulher foi explicando enquanto massajava o meu tornozelo colocando a pasta transparente que seria a minha cura.

Depois a mulher acabou por entregar o frasco a Harry que o guardou no bolso. Ajudou-me a levantar e a caminhar até aos balneários. Como a aula ainda não tinha terminado o espaço das raparigas estava vazio e Harry pode ajudar-me a entrar e a sentar nos bancos.

“Precisas de ajuda a despir-te?” Ele perguntou num tom divertido e eu senti-me tremer por dentro. Rapidamente olhei o seu rosto mas tarde de mais, o sorriso tinha desaparecido e apenas um suspiro me serviu de consolo ao sentimento de derrota.

“Não, obrigada.” Rejeitei enquanto retirava as roupas dos cacifos e as colocava no banco, sempre ao pé coxinho, para depois as vestir.

“Sendo assim vou trocar de roupa também, estou à tua espera.” O moreno plantou o beijo na minha testa e depois abandonou o local dirigindo-se ao seu destino.

Deixei-me cair sobre o banco branco, com um pesado suspiro.

Sentia a cabeça à roda com tudo isto. Por um lado achava idiota o que estava a sentir, mas por outro não conseguia evitá-lo. Queria gritar, deitar tudo cá para fora, mostrar-lhe o que sinto e perceber de uma vez por todas o que se passa comigo. Mas eu não posso, não só porque isso o afastaria mais de mim como poderia agravar ainda mais as coisas em casa, com Liam. O Liam, é outra peça na minha vida que se me contorce no coração. Talvez ele seja mesmo a única pessoa com que algum dia irei encaixar. O Harry e eu nunca iriamos encaixar um com o outro, somos demasiado diferentes para isso. Talvez os opostos se atraiam mas nós não somos opostos, somos apenas… diferentes. E ele nunca olhará para mim da maneira que olho para ele. Será?

[Harry]

O que é que se passa comigo? Não consigo agir por ordem próprio, faço as coisas como se fossem meros instintos, digo coisas que não fazem sentido e nem consigo pensar direito. Porque é que lhe disse aquilo? Apesar de ser verdade, nunca no meu perfeito juízo lhe diria tal coisa.

Se eu me apaixonar por ela será o meu fim, tudo estaria acabado. Eu não posso deixar-me levar por estes sentimentos, por muito que queira.

“Hey,” uma voz captou a minha atenção e eu ergui a cabeça para encarar o louro que se sentou do meu lado. Mantive os cotovelos apoiados nos joelhos mas o meu olhar não desgrudou do chão. “pareces um bocado abalado.” Niall constatou no seu sotaque irlandês que eu aprendera a tolerar.

“Estou ótimo.” Atirei-lhe orgulhosamente e ergui-me para preparar as coisas para o duche. Mas uma mão no meu ombro impediu-me de prosseguir o meu caminho. Voltei-me, pronto para lhe gritar que me soltasse e para empurra-lo, mas assim que encarei os seus olhos azuis preocupados, perdi toda a coragem. Faziam-me lembrar os de Evelyn mesmo que existissem largas diferenças. Sabia que se magoasse esta figura ela nunca me perdoaria e, de novo, eu não aguentaria se isso acontecesse.

“Não me interessa como tu estás,” Ele respondeu com um suspiro encostando as costas aos cacifos fechados que preenchiam a parede. “Interessa-me que se tu não estás bem, ela também não estará. E interessa-me que se tu a magoares não ficarás bem no final.” Horan cruzou os braços e atirou-me um meio sorriso ameaçador.

“Eu não tenho de ficar aqui a ouv-“

“O que eu quero dizer é,” ele interrompeu-me, colocando-se na mesma posição que eu, permitindo o seu rosto ficar a centímetros do meu. “eu não sei porque estás aqui, na verdade, mas se a Evelyn confia em ti, eu vou apoiá-la. Já todos percebemos que há algo mais entre vocês os dois e, se queres a minha opinião, eu preferia que ela não ficasse com o Liam.”

Como?!

“Porquê?” A pergunta saiu-me tão automaticamente que tive vontade de me bater por isso.

“Eles são demasiado perfeitos um para o outro e magoam-se aos poucos.” Niall justificou-me com um suspiro. “Sabes porque é que eles acabaram da última vez?”

“Porquê?”

“A desculpa foi que se tornou demasiado confuso para as suas famílias, mas a verdade é que se cansaram um do outro. Eu sei que depois de tudo o que aconteceu eles ainda têm sentimentos um pelo outro, mas eu não apostaria nesses sentimentos que depois nos enfadam.” A explicação pareceu-me estranha mas ao mesmo tempo com algum sentido. E por alguma razão tive vontade de sorrir, sorrir como nunca antes haveria sorrido. “Por isso, tens o meu apoio e confiança até ao dia em que lhe quebrares o coração, Harry. Ela não merece que um desgraçado lhe destrua o pouco que ela já tem.” Foi tudo o que o louro disse antes de regressar para o final da aula.

Ela não merece que  um desgraçado lhe destrua o pouco que ela já tem.

E o peso da consciência começava a acumular-se no meu interior.

E eu odeio-me por isso.

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 Eu não era para vir postar, mas tinha de vos vir agradecer a posição #4 nos rankings. Nada disto seria possível sem vocês (:
Espero que ter vindo postar tão depressa não afete nada, (aa) e queria pedir-vos se consego chegar aos 30 comentários (?) É porque eu estou a ver as minhas leitoras mais antigas a desaparecer e preciso de saber se deixaram de gostar da fic e isto da posição é só uma ilusão :s
Please <3
Obrigadaa minhas princesas mais lindas, devo-vos muitoo (:
xx biiiiig

Save Yoυ  △ |h.s|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora