Capítulo 32

28.4K 1.1K 65
                                    

-:-:-:-:-:-:-:-

Sentei-me no sofá com as pernas cruzadas, a taça das pipocas sobre as mesmas e a garrafa de Coca-Cola do meu lado. Tinha acabado de estudar um pouco e preparava-me para ver um filme, sozinha. Era domingo e a noite evidenciava-se com o final do crepúsculo, pelas enormes janelas da sala. Nem sinal de Harry desde aquela noite. Não me ligara, nem uma só mensagem.

Para falar a verdade eu nem sabia porque é que estava tão espantada, já devia calcular que isto ia acontecer. Começo a perguntar-me até que ponto ele realmente é bom naquilo que faz, pois demonstra sempre ser um cobarde que foge das discussões ou dos conflitos. Sempre que temos algum episódio parecido com este ele afasta-se, ou deixa-se esconder nas limitações do mundo, desaparecendo. Mas ainda assim estava a custar-me mais esta ignorância do que deveria ser suposto. Estava angustiada pela forma como desapareceu, intrigada pelo seu role de mistério intenso mas, sobretudo, preocupada. Não sabia se ele estava bem ou mal, a salva ou em perigo, não sabia o que estava a fazer e dei por mim a descobrir um afeto por ele que não deveria existir.

Suspirei e peguei no controlo remoto passando a lista de filmes à minha frente para escolher um. Acabei por fazê-lo e esperei pacientemente que começasse.

Liam saíra logo no sábado de manhã dizendo que teria de ir trabalhar pois um colega havia faltado por questões de força maior. Parecia-me preocupado e ouvi-o rugir palavras desagradáveis quando me viu dormir na cama de Harry, mas não lhe referi o assunto, preferia não criar qualquer tipo de gelo que pudesse existir a partir de uma conversa como essa. Ainda se predispôs a fazer-me o pequeno almoço, mas eu não deixei pois ele já estava atrasado. Pediu desculpas inúmeras vezes por me deixar sozinha e prometeu que me compensaria mais tarde. Lembro-me de rir na sua cara e empurra-lo para forma de casa com alguns insultos infantis.

Leeroy veio visitar-me ao final da tarde e conversou comigo sobre o seu namorado, a universidade e sobre Marcel que andava um pouco intrigado com alguns assuntos da sua família. Deixei inclusive uma nota para mim mesmo de que lhe iria ligar para saber se estava tudo bem com ele. Depois obrigou-me a ser eu a falar de mim e contei-lhe o que se tem passado. Fiquei surpreendida de Liam não lhe ter dito nada mas também percebia pois agora o primo estava mais longe e era mais difícil de comunicarem um com o outro.  Já hoje passei o dia a estudar e a fazer alguns trabalhos para a escola. Aproveitei para ler também e tocar um pouco de piano. Embora tenha dado pouco resultado qualquer uma das minhas tarefas pois cada vez era mais difícil concentrar-me no meu próprio quotidiano. Era difícil de pensar sem que ele interferisse. Qualquer coisa que se atrevesse a cruzar o meu caminho de pensamento acabaria por entrar num cruzamento e trazer consigo qualquer uma ou outra memória que me recordaria daquele ser. Por muito que tentasse esquecer, parecia ter-se tornado um vício pensar nele, nas suas formas ou no seu próprio comportamento. Não sabia se haveria de ficar furiosa ou ser benevolente, fula ou preocupada, irritada ou apreensiva. Deixa-me num ciclo de loucura imensa e derradeira porque nunca sei como reagir ou agir às suas ações. Parece que o certo e o errado se embrenharam de tal forma que as suas definições tornaram-se meras composições filosóficas e nada que nos pudesse ajudar a decidir o que fazer, pois deixaram de ter sentido.

Embora fosse uma comédia, de pouco ou nada me serviram as pequenas risadas soltas durante a hora e meia que se seguiu. O nó no estômago continuava a escrutinar a minha boa disposição e era como se não estivesse bem em qualquer posição. Levantei-me diversas vezes para ir à casa de banho, não para restabelecer as minhas necessidades, mas sim para travar a ansiedade que parecia não querer deixar-me quieta. Talvez fosse de estar sozinha de novo, talvez o vazio que estava agora formado no interior daquela casa fosse grande de mais para a minha sanidade se manter no lugar correto.

Após o final do filme acabei por fazer um chá de camomila com mel para mim e retornei ao meu quarto. Deixei a caneca, com o líquido ainda quente, sobre a secretária e prontifiquei-me para um duche rápido. Mas acabei por prolongar os minutos debaixo da água escaldante e deixei a minha cabeça divagar pelas coisas mais impensáveis do mundo. Lembrei-me do meu pai e recordei ainda alguns momentos com ele, do facto que ainda não tive a coragem de regressar ao seu túmulo. Mas custava-me imenso ter de voltar a ver aquele novo estado dele e saber que seria a última ponta que o uniria fisicamente a mim, custava-me ainda a crer que nunca mais o teria comigo para me guiar na direção certa ou para me avisar do meu passo errado. Talvez o meu irmão pudesse fazê-lo por ele, mas nem Zayn estava aqui agora para me ajudar. E dei por mim a sentir-me sozinha de novo, com as paredes da minha mente a derreterem e a trazerem consigo as mágoas que tentei esconder e afastar todo este tempo. Os medos e os tormentos que me faziam perder a cabeça e fazer aquilo que eu não queria com tamanho desejo e sabor.

Foi apenas quando me sentei no colchão que me apercebi do ar que escasseava no interior dos meus pulmões, ou das pontas dos dedos dormentes, ou do zumbido aturdido na minha cabeça que parecia destronar-me. Os olhos queimaram num fogo desesperado e as suas chamas molharam o meu rosto em forma de pérolas. Estava sozinha, de novo e de novo.

O meu pequeno ataque de ansiedade abrandou quando a música se propagou pelo silêncio destruindo-o à sua passagem. Peguei no aparelho comunicativo jazido sobre a mesa de cabeceira e o sangue gelou-me nas veias quando vi a fotografia e o nome piscarem no pequeno ecrã. Senti as mãos dormentes tremelicarem e por momentos uma sensação escaldante percorreu a minha barriga indicando que estava mais do que nervosa.

“Sim?” Deixei sair quando encostei o telemóvel ao ouvido. Esperei pacientemente que me respondessem, mas tudo o que obtive foi a sua respiração pesada e cansada, como se tivesse acabado de fazer um esforço enorme. Esperei e esperei de novo à espera que a sua voz esclarecesse o motivo da sua chamada, mas ela não o fez. “Harry, onde estás? O que se passa?” Perguntei com mais preocupação entoada no meu tom do que pretendia.

“Evelyn,” Sibilou baixinho num murmúrio surdido que eu tive dificuldade em entender. Ouvi-o clarear a voz e respirar fundo. “Eu vou ter de me afastar por uns tempos.”

O quê?

“Porquê?” A pergunta saiu instintivamente e como um pequeno autómato, levei a mão aos lábios obrigando a calar-me, tarde de mais. “Onde é que estás? Diz-me o que se passa.” Pedi sem entender o tom de desespero patente nas minhas palavras idiotas.

“Doncaster.” Revelou direto e frio. Estava de volta a sua faceta odiosa e isso estava a tornar-se num sabor amargo, na minha própria língua. “Houve algumas coisas que deram errado e eu precisava… disto.”

“Disto o quê? Harry!” Gritei-lhe sem dar conta que me havia erguido da cama. Porque é que eu estou a agir assim?

“Para de insistir.” Pediu calmamente e isso fez o meu coração contorcer-se. Preferia que ele estivesse a gritar comigo e a mostrar qualquer tipo de vida sentimental além do calculismo frio que emana nas suas letras pronunciadas. “Eu vou estar fora uns dias, deixei alguém que te vigie não te preocupes, quando chegar… pago os estragos do quarto. Adeus Evelyn.”

“Eu não quero saber da porra do quarto! Espera… alguém? Eu não quero alguém! Harry, quando-“ Ele não me deixou terminar a frase pois o beep indicando que a chamada havia sido desligada fez-medespertar para a realidade. A realidade solitária de novo e a preocupação na flor da pele para testar de novo até que ponto eu sou capaz de aguentar a repetição dos factos.

O aparelho caiu-me das mãos e dei por mim ajoelhada com a cabeça sobre o colchão e os braços sob a primeira como uma pequena almofada. Olhei o exterior da janela vendo o grande balão prateado sorrir-me na minha tristeza.

E finalmente dei conta de que Harry era mais importante para mim do que eu poderia imaginar.

-:-:-:-:-:-:-:-:-

[Tenho a impressão de que há muita gente que não vai gostar deste capitulo. Ahah Desculpem se está muito secante mas também tenho andado um pouco desinspirada (acho que tb tenho direito)
Bah, pedi 14 comentários e fui completamente ignorada hunf
vamos lá ver se é desta ahah 
VOTEM E COMENTEM <'3
xx]

[Que filme gostam mais? Eu nunca consigo escolher mas gosto muito dos Hunger Games, Love Actually e outros ahah <3]

Save Yoυ  △ |h.s|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora