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Capitulo 82

[Evelyn]

A porta foi fechada atrás de mim com algum estrondo. Respirei fundo e cruzei os braços,  pressionando-os contra o meu corpo, de modo a conter os nervos. Sentia o sal, do choro continuo, queimar-me os olhos. Queria dormir, descansar, fechar os olhos por meros momentos e esquecer que o mundo existe. Mas eu não podia, tinha de me manter de pé, e rosto marcado perante os meus problemas. Encontrar soluções e ajudar o Harry.

"Finalmente estás em casa." Ouvi o meu irmão proferir com alívio e os seus braços abriram-se para me receber neles. Por muita vontade que tivesse de o abraçar, de receber o seu carinho de novo, era impossível permitir-lhe isso. Sentia o orgulho picar-me com demasiasa força, levando-me a dar um passo atrás antes que Zayn me pudesse alcançar.

"Por favor pára." Pedi-lhe discretamente, virando costas aos policias e seguindo para,as escadas que me levariam até ao meu quarto. As minhas palavras pareciam um pequeno pedido inocente, mas no fundo, ele sabia que era uma exigência, repleta de ironia e focada no seu cinismo. Eu sabia que tinha sido ele a ameaçar o Marcel, obrigando-o a trair-me. Tinha sido ele a mandar prender Harry e tinha sido ele a enviar agentes que me trouxessem de volta. Mas ainda assim, ele agia como se fosse um herói e eu deveria estar-lhe agradecida.

Encontrei Liam pelo caminho e o meu primeiro instinto foi correr-lhe para os braços e chorar no seu ombro como fiz tantas outra vezes. Mas depressa a minha mente fez questão de me lembrar que, também ele deveria estar envolvido em tudo isto, levando-me a ignorar a sua presença. Ele não se opôs,  pois ele conhecia-me demasiado bem e sabia quando devia recuar.

Subi a última escadaria até ao meu quarto e certefiquei-me de trancar a porta, antes de atirar a minha mochila para a berma da secretária e de jogar o meu corpo na cama. Estava a fazer exatamente aquilo que eu não queria, deixar-me levar pelo lado mais reprimido da minha existencia, mas aproveitei esse pequeno momento para repor a minha cabeça e tudo aquilo que se acomulava na minha mente.

Custava-me tanto estar deste modo com a minha família,  com aqueles que estiveram sempre do meu lado. Tinha saudades dos tempos em que Zayn e eu eramos tão unidos que o meu próprio pai se irritava quando nenhum de nós denunciava o outro. O meu pai. Onde estaria ele agora? Será que estaria despontado comigo por seguir os meus impulsos e esquecer o meu irmão? Será que ele quer que eu acredite no Zayn em vez de no Harry ?

Um batuque na porta exigiu-me a saida dos meus pensamentos, ou sonhos. Não respondi, sentindo os lábios colados. Abri os olhos e enfrentei a escuridão ao meu redor. Adormecera sem me dar conta disso.

"Evelyn"  A voz doce da minha cunhada fez-se ouvir do outro lado, mas ainda assim, fiquei quieta. Ela parecia ser a única pessoa com um pouco de paz no seu interior e, por vezes, a única pessoa suportável. Mas talvez, no final do dia ela fosse apenas como todos os outros. "O jantar vai ser servido." Ditou com alguma incerteza. Demorei algum tempo antes de finalmente suspirar e clarear a voz. Sentia a garganta seca, mas não me mexi para alterar a situação.

" Não tenho fome, Jas, jantem sem mim." Foi tudo o que lhe disse. Insistiu, dizendo que tinha de comer e que não poderia ficar ali para sempre. Atreveu-se mesmo a dizer que as coisas teriam de se resolver. Mas eu dexei-me ficar no castelo de silencio que construí para mim própria.

Jasmine acabou por desistir e foi embora. Ouvi o meu telefone vibrar e retornei a suspirar, frustrada. Queria estar sozinha e sem incómodo, mas parecia que ninguém o compreendia.

O numero era desconhecido e a minha vontade era de desligar. Mas a curiosidade falou mais alto.

"Sim?" Questionei de voz rouca e arrastada, sem me preocupar em parecer aceitavel.