Capítulo 44

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(eu sei que peço isto sempre, mas por favor leiam a nota de autora, há umas coisas que preciso esclarecer)

Continuei o caminho até ao quarto de Harry, prevendo que o barulho teria vindo dali. Senti outro arrepio, mas desta mais forte e intenso, percorrer todo o meu corpo, ainda antes de tocar na maçaneta fria. Não sabia o que iria encontrar do outro lado e em que estado ele se encontrava. Não sabia o que tinha acontecido em tão pouco tempo, mas definitivamente deixou-o bastante alterado para ter provocado aquele estrondo. E se não terá sido ele a provoca-lo?

Finalmente ganhei coragem para abrir o quarto e mirei o seu interior. Os lençóis puxados de novo, os quadros que restavam, no chão, a estante – o que provavelmente criara aquele barulho horrível – estendida também sobre a alcatifa com todos os livros espalhados. Já possuía qualquer decoração devido à última vez que Harry a deitara abaixo, no dia em que desapareceu. Começo a achar que o seu quarto devia apenas ser constituído pela cama, porque parece ser a única coisa que sobrevive aos seus ataques de fúria.

Finalmente fui capaz de fitar a sua figura seminua, sentado sobre o colchão com a cabeça caída sobre as próprias mãos, dedos embrenhados nos seus cabelos castanhos que tanto adorava. Cotovelos apoiados nos joelhos e os pés apenas de meias. Dei alguns passos em frente e ele pareceu ouvir a minha presença, pelo que ergueu o rosto e eu ouvi os seus olhos verdes inchados num vermelhão perdido, enraivecido, triste.

[Harry]

Entrei no quarto e deixei-me cair sobre a cama encostando a cabeça na almofada e com a barriga voltada para cima. Pousei a mão direita sobre a zona do estômago e o braço esquerdo caiu-me sobre a zona dos olhos, impedindo que a luz me perturbasse a escuridão dos mesmos.

Não sabia porque é que me sentia desta maneira, mas só desejava que passasse depressa. Como se algo muito importante nos estivesse a ser retirado, uma ansiedade constante de correr atrás desse algo e roubá-lo de novo. Mas eu não posso correr atrás de Evelyn e muito menos roubá-la pois ela nunca será, ou nunca foi, minha. Tinha de a afastar, tinha de me afastar dela porque tudo isto perturba demasiado o meu trabalho. No entanto já tentei sair daqui, afastar-me por uns dias - com a desculpa de que tinha assuntos para tratar -, só para ficar longe dela e, por sua vez, apagar qualquer vestígio de sentimentos perante ela, e não resultou. Aliás, só piorou tudo, eu senti saudades. Saudades de todo o seu jeito orgulhoso, da sua teimosia, da maneira como arranja qualquer forma para me contradizer, da forma como procura maneira de me irritar. Da sua fragilidade, senti saudade de a ter nos meus braços durante a noite. Das noites em que acordava e a via de costas para mim, abraçada a si própria, como se tivesse medo de se quebrar, e cuidadosamente a puxei para mim. Saudades de aquecer o seu corpo com o meu, saudades de ver o seu sorriso e de afagar as suas lágrimas. Saudades da maneira carinhosa com que age para as pessoas, da sua pacificidade, da sua alma cheia de ternura e dignidade, aquela que eu não tenho. Como se eu fosse o fogo e ela a água que me acalma, eu fosse o barco e ela a minha âncora, eu sou o barulho e ela o silêncio, eu sou o errado e ela o certo, como se fossemos opostos atraídos inteiramente para um só. Eu senti saudades dela, de toda ela, desde o seu corpo à sua personalidade. Devo lutar contra isto? De todos os trabalhos que já fiz este foi o mais difícil de todos, nunca na minha vida haveria me sentido atraído pela minha missão. Mas também nunca me haveriam dado uma com todas estas caraterísticas.

Um batuque na porta fez-me despertar dos meus pensamentos e eu sentei-me na cama para receber quem quer que fosse. O rosto do rapaz apareceu pela brecha que criou e eu revirei os olhos questionando-o sobre o que ele quereria.

“Nada de especial.” Ele respondeu entrando pelo quarto e colocando-se à minha frente, sem a minha permissão para tal coisa. Contive as palavras na minha garganta para puxar a minha raiva de volta para o fundo do meu ser, não queria magoá-lo pois isso só teria consequências piores na minha relação com Evelyn. Porque é que eu me preocupo com isso? “Vim só avisar-te que te vou desmascarar, seja de que maneira for.” Ele continuou, com os braços cruzados e um ar superior que me estava a irritar ainda mais.

Save Yoυ  △ |h.s|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora