Capítulo 13

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(Proximo cap. : 70 reads ou sábado)

“É muito confuso, aborrecido e idiota para eu estar a falar disso agora.” Harry respondeu sem me encarar, parecia querer estar a afastar-se de novo, como se as minhas palavras se tivessem tornado numa mola que o empurrasse para longe de mim.

“Tenho a certeza que não é nada disso, e mesmo que seja, cabe a mim julgar isso.” Continuei a insistir deixando os meus braços caírem sobre as minhas pernas cruzadas. Queria que ele falasse comigo, queria ter algo que me levasse a confiar mais nele e ele em mim. Não sei porquê mas eu sentia alguma necessidade de o ouvir, de saber o que guarda aquela máscara carregada de amargura. Gostava de saber o que está por detrás daquele semblante sério e inabalável, mas para isso precisava que ele confiasse em mim, precisava de ouvir as suas pequenas teorias e pequenos tormentos para poder chegar aos seus traumas e tristezas interiores.

Os olhos esmeralda permaneceram fixos no tecto e um suspiro brotou dos seus lábios. Parecia incomodado em falar daquilo, mas eu não ia recuar, mesmo que ele me gritasse para o fazer. Estava habituada a não desistir de nada. Além de que o próprio Harry já ultrapassara sérios limites comigo, sentia-me em pleno direito de ultrapassar os meus limites com ele.

“Acho que a Natureza pura do Homem é meramente animal.” O seu olhar voltou-se então para mim permanecendo assim, como se esperasse a minha reacção. As suas palavras soaram na minha cabeça e fiquei a pensar nelas por alguns segundos. “Tal como eu disse, não é nada de interessante. Sentes-te melhor?” Harry regressou à sua posição anterior resvalando as mãos pelas suas coxas e ergueu-se.

Enruguei a testa confusa com a sua mudança súbita. Ainda há uns segundos parecia disposto a falar e a contar-me o que lhe ia na cabeça sobre esse assunto, permitindo-me tirar as minhas próprias conclusões. E agora a sua expressão endurecida e repleta de muralhas regressa, sem mais nem menos, como se de repente se tivesse recordado que aquilo era errado. Mas não era, não podia ser errado desabafar com alguém e já que íamos passar tanto tempo juntos deveríamos conhecer-nos e não permitir este tipo de barreiras. Não é correcto deixar alguém carregar um fardo como aquele que o Harry parece ter. Eu não sei qual é, mas eu vou descobrir e não vou deixar que isso continue a perturbá-lo daquela forma.

“Não fujas ao assunto, eu quero saber o resto.” O meu tom de voz elevou-se e o moreno olhou-me desconfiado.

“Se te sentes melhor o meu trabalho está feito, amanhã volto para falarmos das mudanças na tua segurança.” É isto? Ele vai embora assim? Nem sequer vai ralhar comigo por lhe ter desobedecido?

Puxei estas perguntas todas para o fundo da minha consciência preocupando-me mais com o assunto interrompido. Ao vê-lo dirigir-se para a porta ergui-me sobre o colchão e corri na sua direcção.

“Espera, Harry-“ Fui interrompida pelo meu próprio grito quando a colcha se envolveu no meu pé e o meu corpo impulsionou-se para a frente. Fechei os olhos com força esperando sentir o chão frio, em frente à cama mas ele nunca veio.

Ao invés, dois braços envolveram o meu tronco e o meu rosto embateu em algo forte mas aconchegador. Senti o seu cheiro invadir-me imediatamente e ouvi o seu coração acelerado junto ao meu ouvido. Harry puxou-me para que os meus pés regressassem ao chão novamente mas mesmo depois de estar segura ele não me soltou. Ergui a cara na direcção da sua e os nossos olhares embrenharam-se com tamanha intensidade. Senti um calor no fundo da minha barriga e jurei sentir o meu coração quase furar o meu peito para poder saltar de lá para fora. Sentia o seu mar florestal penetrar no meu colectando cada pedaço de calma que existisse em mim, como se quisesse arrancar também a minha alma e tudo o que dela provinha. O meu olhar desviou-se por meros segundos para os seus lábios e observei a sua língua passar ligeiramente pelo inferior humedecendo-o. Uma tentação enorme de os saborear arrebatou o meu coração já palpitante e senti o desejo escorrer no meu sangue por baixo da minha pele arrepiada. Sentia os choques eléctricos provocados pelo seu toque obrigando-me a permanecer quieta, esperando que fosse ele a desfazer o momento. Quando os meus olhos azuis se ergueram de novo para os seus constatei que também ele fitava a minha boca entreaberta. Cedi à vontade de os humedecer e ele mordeu o seu quando o fiz. Sem saber porquê aquele gesto deixou-me feliz, estranhamente feliz.

Save Yoυ  △ |h.s|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora